Para além de o timing de circulação e partilha deste texto nas redes sociais "angolanas" ou de angolanos ter coincidido, na altura, com o balanço dos dois anos de governação do Presidente João Lourenço, assinalados em Setembro de 2019, a publicação original é de André Giraldo, um cidadão colombiano que vivia na Alemanha (uma interessante coincidência), e que, no dia 27 de Junho de 2019, escreveu na sua conta do Twitter: "Qualquer político deveria conhecer os problemas que tem o seu país quando pretende ocupar um cargo (...). Para resolver esses problemas, deveria contar com um plano de trabalho e não estar a governar com um espelho revisor, culpando a pessoa que o antecedeu no cargo".

O próprio André Giraldo, no seu blogue intitulado "Calma, Quietud y Tribulación", fez questão de reclamar a autoria da frase e lamentou que estivesse a ser associada a Angela Merkel, pessoa de quem assumiu ser admirador. Na própria Colômbia, o site Colombia Check também alertou para a manipulação existente. Na Alemanha, o texto atribuído a Merkel não criou grande alarido porque os alemães já andavam "instruídos e alertados" para o fenómeno das Fake News. Durante a sua última campanha eleitoral, sete das 10 notícias mais virais sobre Angela Merkel eram falsas, segundo a divulgação na altura.

João Lourenço, na abertura da 1.ª Bienal de Luanda, em Setembro de 2019, quando alertou os jovens para os perigos das redes sociais, não o fez por ter medo de uma tecnologia que ele mesmo utiliza para comunicar-se com os cidadãos e que entende ser de grande utilidade nos dias de hoje. Foi, sim, para também alertar os jovens sobre os perigos da desinformação e da manipulação, como têm feito outros homólogos seus e até mesmo a União Europeia. A manipulação social e política nas redes sociais é, hoje, tema de grande preocupação dos Governos mundiais. Já há quem aposte na auto-regulação ou mesmo num órgão de supervisão de algoritmos ou censura de certos conteúdos. A desinformação é, hoje, um dos principais inimigos da democracia.

Vivemos, hoje, numa sociedade com muita informação e, ao mesmo tempo, muito desinformada. Os cidadãos hoje ficam mal informados e são facilmente manipulados. É um combate difícil e de todos. O Executivo angolano, por via do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, já começou a colocar o combate à desinformação na sua agenda e a promover debates sobre o tema nos diferentes órgãos de comunicação públicos, incluindo privados, sendo também um dos temas em análise no Angotic 2024, decorrido de 13 a 15 de Junho último. É um bom sinal.

Está a tornar-se cada vez mais difícil distinguir o falso do verdadeiro. E com tudo isso perde o jornalismo, perde a democracia e perdem os cidadãos. É preciso defender, estimular e promover o bom jornalismo. Temos todos culpa, quando partilhamos informações falsas, pois não queremos perder tempo a verificá-la, a cruzar informações e a cruzar factos, porque gostamos do que lemos lá, porque dizem mal de alguém de quem não gostamos ou desprezamos, porque confirmam as nossas ideias ou visões sobre o País e o mundo, os nossos preconceitos contra pessoas ou os nossos desejos sobre determinada realidade.

Qual é o efeito da desinformação sobre as escolhas políticas dos cidadãos? Procurem a resposta e vão perceber por que razão certas "fake news" surgem em determinado momento e sempre dentro de um contexto muito próprio. Basta ver que Angela Merkel e João Lourenço voltaram a estar em recados imaginários. Por que razão? Só sei que nada sei.