A preparação da mesma viagem teve várias dificuldades, talvez resultado do longo período de paralisação das actividades escolares provocada pela COVID 19, mas também pela falta de investimento financeiro na instituição. Na prática, não há verbas para quase nada.

Mas, com a boa vontade da Reitoria que cedeu um autocarro e da Direção da Faculdade, que conseguiu ceder algumas verbas para pagar o combustível e as ajudas de custo do condutor, lá se foram os estudantes, cerca de 30, visitar a Barragem de Laúca e a empresa BIOCOM, as Pedras Negras de Pungo Andongo e a cidade de Malanje. Como o dinheiro disponível não dava para pagar hotéis, decidiram acampar com tendas e preparar as suas próprias refeições, com alimentos que levaram consigo, mais as panelas, os pratos e os talheres.

A primeira oportunidade para acampar, foi cedida pela Pousada das Quedas em Calandula.

Lugar de excepcional beleza, a Pousada foi completamente recuperada pela força de vontade e empreendedorismo do nosso colega e amigo Francisco Faísca, a quem prestamos a nossa homenagem, pois em apenas quatro anos, recuperou o local, que estava totalmente em ruínas. Parabéns Faísca. É de gente como tu, que o nosso País precisa. Recomenda-se a todos a visita, se não uma estadia naquelas paragens, apesar dos preços serem algo elevados, justificados pelas dificuldades de acesso e falta de energia elétrica, substituída por geradores próprios. Supomos que uma extensão da energia eléctrica a partir da Vila de Calandula, não deve ser de grande dificuldade. É só fazer passar um cabo por cima do rio Lucala.

A Barragem de Laúca, devia ser um empreendimento de visita obrigatória, principalmente para a nossa juventude estudantil. Reunem-se ali os ingredientes que nos dão exemplos de capacidade técnica, inovação, disciplina laboral, individual e empreendedorismo. Fomos recebidos por jovens angolanos com excepcional preparação técnica, com um entusiasmo e dinamismo que devemos enaltecer.

A empresa BIOCOM, especializada na produção de açucar, atinge já mais de um terço das necessidades nacionais. Também produz álcool que de momento está a ser comercializado para o combate ao Covid 19 na preparação do célebre alcoolgel. Dos resíduos da cana produz energia eléctrica, cujo excedente injecta na rede nacional de energia.

Mas, mais uma vez o nosso foco de observação não recaiu nas suas produções, mas no alto grau de tecnologia aplicada, na grande disciplina laboral e na responsabilidade profissional que todos os que connosco intervieram, demonstraram. Também aqui são jovens angolanos que fazem aquela máquina funcionar. Dos mais de 3.000 trabalhadores, apenas uns 50 são expatriados.

Podemos, como ecologistas, ter algumas reticências não só na construção de grandes barragens hidroelectricas, como nas extensas áreas de cultivo de cana de açucar. Mas na realidade, o ecologista é apenas uma espécie de "advogado do diabo". Cabe-nos estarmos sempre contra qualquer alteração do ambiente natural, até que nos seja provado que a ação, para além de necessária para a promoção do bem estar da população, respeita os princípios básicos da proteção ambiental. É bom que se saiba, que um ecologista, não está contra o desenvolvimento, mas sim contra a cegueira do desenvolvimento.

Essa é a razão porque mais recentemente, está a tomar forma uma nova visão da perspectiva ambiental, a chamada AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA - AAE.

Voltando ao tema da nossa conversa, estas visitas tanto a Laúca como à BIOCOM e à Pousada das Quedas, mostraram aos nossos estudantes, o que é empreendedorismo, atitude que os jovens angolanos devem assumir, se querem ver o seu País desenvolvido.

Claro que para tal, tem de haver grande coragem pessoal, para se saír da nossa "zona de Conforto".

Depois é necessário ter grande vontade e perseverança, pois o sucesso vem devagar e à custa de muito trabalho e disciplina pessoal. Com esses ingredientes, é mais fácil conseguir o mais difícil, encontrar quem esteja disposto a investir e arriscar o seu dinheiro. Um bom planeamento das actividades, é fundamental, mas depois a disposição para não desistir perante os obstáculos que se apresentam, é a base do sucesso.

Durante estas visitas, mas também de outras que temos feito por essa Angola profunda, sempre deparamos com uma juventude entusiasmada e bem preparada. Essa constatação, dá-nos a sensação de dever cumprido, por termos dedicado a vida ao ensino. Esse salário "moral" tem contribuído para não termos dado por mal empregue o nosso tempo, apesar da desconsideração que o nosso governo tem dedicado aos professores de vários níveis de ensino.

Essa desconsideração reflete-se nos baixos salários que lhes são pagos, comparando com outras classes de profissionais.

Na verdade, a cadeia do saber começa na escola de cada país. O recurso a escolas estrangeiras só é útil, para quem já tem uma boa formação de base. Formar desde muito novo o aluno fora do país, salvo raras excepções, não lhes dá o sentimento de amor à Pátria e espírito de sacrifício, se tal for necessário. Ao mais pequeno contratempo, vão-se embora para o país onde criaram amizades e ligações mais afectivas.

Cabe agora aos nossos dirigentes e políticos de todas as vertentes, apoiarem esta juventude trabalhadora e esforçada. Não nos referimos aquela juventude oca e sem objectivos em que a única preocupação, é viajar para fora do país, ter os carros mais caros do mercado, ou as roupas da última moda. Esses não têm futuro. Refiro-me aquela juventude, que tendo vindo ou não das classes mais sofridas economicamente, estudaram afincadamente e se formaram com um grande esforço. É com essa classe de pessoas que podemos contar.

Aos nossos estudantes da biologia da Faculdade de Ciências, os nossos parabéns pela vossa iniciativa.

De regresso a Luanda, tivemos a oportunidade de parar no Hotel Terminus Ndalatando para tomar um café. Ficamos agradavelmente surpreendidos com a manutenção da qualidade. A última vez que ali estivemos, foi na altura da sua inauguração, mas apesar do COVID 19, o hotel mantem um serviço impecável, óptima aparência e higiene das instalações. Parabéns também para a direcção do hotel. Só temos a lamentar a má manutenção das estradas. Pouco depois de reparadas, já estão novamente cheias de buracos.

Viva a Juventude Angolana.

docente da UAN. Agosto de 2021*