Nestes tempos modernos, em que as tecnologias de informação tomaram conta das nossas vidas, o barómetro das opiniões são também as redes sociais. Pelo que me foi dado a perceber, há equilíbrio entre pessoas a favor e pessoas contra. De um modo geral, o debate nos distintos grupos de basquetebol do Whatsapp a que pertenço foi bastante racional e urbano. Sem extremismos.

Houve quem achasse ter havido excesso da FAB. Um dos argumentos é que os jogadores chegaram de uma competição e estavam em quarentena institucional em obediência às medidas de segurança sanitária impostas pelas autoridades, sendo, por isso, normal que não se tivessem apresentado na data aprazada. Outras pessoas defenderam que, não havendo treino no dia seguinte, a FAB podia ter fechado os olhos à falta dos jogadores defenestrados e tudo ficava "resolvido".

Os que aplaudiram a decisão entendem que há regras a cumprir e, tendo sido violadas as normas, nada mais natural que os atletas sejam castigados. E exemplificam com o comportamento de "estrelas" do desporto mundial que, ao toque de reunião - entenda-se, convocatória - são os primeiros a chegar, mesmo sendo "craques" de dimensão planetária. Alguém ainda defendeu que, no estado em que a modalidade se encontra, é necessário não dar baldas, sob pena de o comboio descarrilar definitivamente.

Nas distintas reacções a que tive acesso, notei que quase ninguém fez referência ao regulamento da FAB. Grosso-modo, as opiniões sobre o assunto foram avulsas e os poucos que se referiram às normas estatuídas fizeram-no pela rama. O que é perfeitamente compreensível, na medida em que um "debate" no Whatsapp é algo muito informal, mais ou menos a modos de uma conversa de café. Nem sempre se pode esperar por fundamentações exaustivas. Até porque, na hora do "contenda", geralmente à quente, as pessoas não estão na posse de documentação bastante para argumentar com a necessária consistência e nem têm tempo que chegue para pesquisar.

Liderada por pessoas experientes, com provas dadas no dirigismo desportivo nacional e até dentro das quadras, assim como em funções corporativas, a FAB não poderia tomar uma decisão dessas de ânimo-leve. Mas a mais quando no grupo de excluídos está Carlos Morais, eventualmente a "estrela" maior da Selecção, isto sem contar com os que evoluem no exterior. Ao fazê-lo, a federação estribou-se exclusivamente na Lei. Não podia, aliás, ser de outra forma, sob pena de disparar no próprio pé.

Indica o número 5 do Artigo 97.º do Regulamento Geral da FAB que "As recusas e as faltas aos treinos ou jogos não justificados cabalmente e não aceites pela FAB, me como o mau comportamento nos mesmo, serão passíveis de punição com a pena de suspensão de três a seis meses ou remissíveis em Kwanzas correspondentes a $ 5.000,00 (Cinco Mil Dólares Americanos) mês, na parte que exceda um mês". Logo, a FAB nada inventou. Lei é lei e deve ser cumprida, mesmo que seja absurda. Atente-se ao exemplo da legislação financeira angolana. Apesar de a economia estar desestruturada e o maior banco do País, o BPC, se permitir ao luxo de ficar dias sem sistema - imaginem os transtornos causados -, quem for encontrado com mais de 10 milhões de kwanzas em casa arrisca-se à prisão. Isto é um absurdo. Mas é a Lei e tem que ser cumprida. Ponto final!

No caso concreto do Regulamento que determinou o afastamento de jogadores do Petro Atlético de Luanda da Selecção Nacional, é meu entendimento que está algo obsoleto. Afinal, no mundo desportivo de hoje, o comum é ir ao bolso do faltoso. Quero dizer, se atrasou, faltou ou violou outra norma regulamentar, é descontado, sendo a exclusão aplicada apenas em caso de reincidência. Mas não é isso o que está no regulamento da FAB, que todos os convocados conhecem, principalmente alguns afastados, que já andam há algum tempo nessas lides.

Há razões para que a FAB e o seleccionador nacional tivessem agido do modo como agiram. Uma é que nenhum jogador esteve em quarentena institucional. Todos os que chegaram da BAL (não apenas os convocados para a Selecção Nacional) beneficiaram de uma prerrogativa especial por via de uma autorização afim do Ministério da Saúde. E esta permissão só foi possível porque o presidente da FAB intercedeu junto da titular da Juventude e Desportos para que advogasse a causa da Selecção junto da sua homóloga da Saúde. Isto, a despeito de a delegação "tricolor" ter passado pela África do Sul, país cuja estirpe transmutada do vírus da Covid-19 é, de acordo com opinião médica abalizada, dos mais perigosos do Mundo.

Não é justo julgar os faltosos, até porque não ouvi deles qualquer tipo de declaração sobre o assunto. Mas não posso deixar de referir que houve violação à norma e, possivelmente, alguma sobranceria. É que, além de não se terem apresentado, ficaram incomunicáveis. Segundo apurei de fonte credível da FAB, às várias chamadas feitas foram respondidas com silêncio.

Provavelmente serei excessivo se disser que o comportamento dos atletas viola de forma grosseira os preceitos básicos da etiqueta e da civilidade. Porém, é mister recordar que quando alguém não está em condições de honrar um determinado compromisso, o que o bom-senso e a boa educação aconselham é justificar-se antecipadamente.

Aliás, foi mais ou menos isso o que aconteceu com Leonel Paulo. Como os outros, ele também chegou do Rwanda, mas no dia marcado apresentou-se à Selecção Nacional. Falou com as figuras da estrutura directiva e o técnico, explicando que tinha assuntos ingentes a tratar e naquele mesmo dia foi dispensado para cuidar de dossiers particulares. Leonel Paulo foi um senhor na verdadeira acepção da palava. É assim que tem que ser. É, no fundo, uma questão de urbanidade.

A posição ora tomada pela FAB, em consonância com o seleccionador nacional, indicia uma forma de gestão diferente. Muito diferente daquela que "sacrificou" Moncho Lopez e Manuel Silva "Gi", que tentaram pôr ordem no "circo", mas não tiveram o respaldo da direcção. Agora as coisas parecem diferentes.