José de Lima Massano é um mestre em Finanças, com um percurso técnico e profissional de sucesso, principalmente no sector privado, nomeadamente na banca. No dia 30 de Junho do ano passado, o economista e colunista do NJ Carlos Panzo, no artigo intitulado "Massano e a Trindade Impossível", fala que o decisor de política monetária enfrenta um trilema na medida em que deve sacrificar um objectivo da política económica para assegurar os outros dois, a saber: a estabilidade cambial, a mobilidade de capitais e a independência da política monetária. No caso do nosso MECE, o articulista refere que o trilema está relacionado com: " i) a forte restrição orçamental, ii) a imperatividade de priorizar o gasto público nos limites da restrição orçamental e iii) a capacidade dos gestores orçamentais (ministros sectoriais e governadores provinciais) para cumprir as prioridades definidas no segundo", ou seja, diz o autor do artigo, "Massano enfrenta um cenário perfeitamente inelástico, em que não existe qualquer margem de manobra", e tudo isso escrito a praticamente um ano.

Na verdade, José de Lima Massano há muito que vai percebendo que não há condições politicas para impulsionar a verdadeira e necessária reforma do programa económico do Executivo de João Lourenço. Vai percebendo que em certos sectores do Executivo e em muito dos seus companheiros há uma falta de compromisso com o rigor, a lisura e a transparência . "Massano deverá ainda assegurar que os bons exemplos venham de cima. Assim, e para abono de uma maior transparência da despesa pública é preciso que, por exemplo, a prática de adjudicações directas seja descontinuada", refere ainda Carlos Panzo nas suas recomendações ao MECE. José de Lima Massano tem sido muito criticado à boca pequena pelos seus ministros, por não estar a fazer a máquina andar com a dinâmica necessária das exigências do momento, se por excesso de zelo ou de rigor, se por falta de visão e estratégia, ou se por puro autoritarismo e exercício de poder.

Na quarta-feira, 05, o Presidente da República, João Lourenço, saiu do Palácio Presidencial para percorrer pelos caminhos que levarão os viajantes ao Novo Aeroporto Internacional de Luanda (NAIL), previsto para começar a funcionar em pleno final do terceiro trimestre de 2024.

A visita de campo "deixou a nu um conjunto de desafios que vão ser precisos vencer", diz a Presidência. João Lourenço não gostou do que viu, convocou de imediato uma reunião de trabalho que ocorreu no meio da tarde daquela quarta-feira no Palácio da Cidade Alta, com responsáveis de diferentes departamentos ministeriais e de empresas ligadas ao processo de criação de condições, para que os acessos ao Novo Aeroporto estejam operacionais.

No final do dia, o também Chefe de Estado exarou um despacho que foi publicado em Diário da República esta segunda-feira, 10, em que são autorizados 135 milhões de dólares para obras emergenciais, projectos e fiscalização da empreitada que visa solucionar os constrangimentos no corredor ferroviário dos Caminhos-de-Ferro de Luanda, encontrados pelo PR na semana anterior. Tudo isso ocorreu durante a ausência de José de Lima Massano, que estava em viagem de serviço no exterior e a participar da Cimeira Coreia do Sul - África. Mais importante é que João Lourenço delega no ministro dos Transportes, Ricardo Viegas D"Abreu, a competência "para a aprovação das peças, a verificação da validade e legalidade de todos os actos decisórios e de aprovação tutelar, no âmbito do procedimento, incluindo a celebração e a assinatura dos respectivos contratos". João Lourenço terá agilizado aquilo que há meses o MECE andou a "travar" e a dificultar o trabalho do Ministério dos Transportes e de Ricardo D"Abreu.
Contrariamente ao que se tem procurado passar em certas redes sociais, quem saiu a ganhar e viu a sua situação resolvida com a visita de campo de João Lourenço foi Ricardo D"Abreu. Quem vai perdendo poder, protagonismo e autoridade neste processo todo é José de Lima Massano.

"E agora, José"? é a pergunta sobre o significado da sua própria existência e do mundo que criou à sua volta. Mas a grande inquietação é como termina e também como vai terminar a saga do nosso José. Como terminou Carlos Drummond de Andrade: " Você marcha, José! José, para onde?"