Os gregos eram politeístas, acreditavam em vários deuses e usavam os mitos para explicar a origem das coisas e o surgimento dos seus Deuses. Hoje já não há Olimpo com os deuses. A filosofia, outras ciências e realidades acabaram com a mitologia e figuras divinas.

Na madrugada desta terça-feira, 20 de Julho, o mundo confirmou o aparecimento de um novo "Deus Grego" e que foi consagrado na liga norte-americana de basquetebol, a NBA. É de carne e osso, não é imortal, mas os seus feitos e conquistas ficarão imortalizados na história da modalidade e dos gregos. Um Deus que não comanda céus e mares, mas que, com uma bola, dribles, lançamentos, bloqueios e afundanços lidera companheiros de equipa, conquista títulos, conquista o respeito e admiração dos adeptos e compatriotas. Giannis Antetokounmpo é a divindade que a Grécia viu nascer a 6 de Dezembro de 1994 e tem agora 26 anos.

Giannis Sina Ugo Antetokounmpo é um dos cinco filhos de dois imigrantes nigerianos que no início da década de 90 entraram ilegalmente na Grécia. Charles, o pai, era um antigo futebolista, e a mãe, Verónica, uma antiga atleta. Ambos tinham na Grécia a esperança de uma vida melhor. Vivendo de forma ilegal, a família passou muitas privações e dificuldades, tendo o pequeno Giannis e irmão de vender óculos, chapéus e DVD"s nas ruas de Atenas.

Um olheiro descobriu-o a jogar basquetebol com os irmãos num parque de Atenas e daí surgiu o convite e entrada para o basquetebol nas equipas juvenis do Filathlitikos, sendo que chegava a fazer oito quilómetros diariamente para ir treinar. Depois houve a passagem para a equipa sénior do mesmo clube, o draft para NBA em 2013, em que foi seleccionado pelos Milwaukee Bucks como a 15.ª escolha. E o resto da história é aquela que todos sabemos e que culminou com a sua consagração como campeão da NBA e o MVP.

Um rapaz que aos 10 anos vendia óculos e chapéus nas ruas de Atenas, hoje aos 26 é campeão da NBA. Este menino, que também era ilegal e cuja família quase não tinha o que comer, hoje tem um contrato por cinco anos no valor de 228 milhões de dólares e que em 2020 recebeu 27, 53 milhões de dólares só de salários. Mais do que estes valores monetários, penso que importantes são os valores que fizeram de Giannis o homem, o líder e o campeão que é hoje.

Esta combinação de tamanho (tem 2 metros e 11 centímetros), velocidade e habilidade que os jornalistas americanos chamam "Greeke Freak" (Aberração Grega), é de um jogador humilde e que usa a sua história de vida para inspirar vários jovens pelo mundo. Tem uma história de superação que serve de motivação aos jovens e soube que chegará brevemente ao cinema. Além do esforço, crença, fé, dedicação e resiliência, a história de Giannis é também um exemplo de acolhimento e inclusão que, apesar das dificuldades, vingou. Acolhimento dos progenitores numa Grécia que o viu nascer e crescer, mas também de uma América que o aprimorou profissionalmente e que o consagra como campeão.

Giannis é mais um exemplo, uma prova de como o desporto pode ser importante para a formação do ser humano. É um exemplo de como o esforço, dedicação e cultura de compromisso podem fazer verdadeiros exemplos, líder e referências para as actuais e as próximas gerações. Precisamos de fazer um trabalho aturado, profissional, objectivo e consistente na descoberta, formação e desenvolvimento de talentos.

Temos gente com iniciativa, temos jovens com talento, mas vão faltando as estratégias, os apoios e as prioridades. A Grécia apostou, apoiou e deu suporte àquele que agora é o seu novo Deus Grego, aquele que, além de ser o MVP e campeão da NBA, é, neste momento, o expoente máximo do seu basquetebol, uma imagem de marca do seu desporto e que certamente já faz as autoridades gregas e os próprios gregos perceberem politicas estruturadas e humanizantes de acolhimento e inclusão, podem gerar muitos e bons resultados. Não é mitologia ou filosofia. Há um novo Deus Grego!

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