Na última edição da FILDA lá estiveram e a distribuir cartões-de-visita de serviços de massagens. São os caçadores de orgasmos.
Há uns meses, fui abordado por um angariador de clientes durante um evento realizado numa unidade hoteleira de luxo. Na realidade, ele fazia o duplo papel de angariador e controlador/protector das raparigas que tinha espalhadas pelo evento. Durante a conversa, fez questão de mostrar-me pelo telemóvel o portfólio das raparigas disponíveis, oferta de preços e modo de actuação. Também tinha a curiosidade em saber como é que eles marcavam presença em eventos chamados "chiques", realizados nos melhores hotéis e cujo os acessos são maioritariamente feitos por convite. Revelou-me que andavam bem informados sobre os locais e datas de realização dos grandes eventos, também procuravam ter acesso aos mecanismos de inscrição. Nalguns casos, acabavam mesmo por criar ligações com membros da organização ou das equipas de protocolo.
O importante é estar no "local do crime" e o resto acontece. Este ano, a Feira Internacional de Luanda (FILDA) foi um dos espaços dos caçadores de orgasmos, e alguns visitantes estranharam com tamanha oferta de serviços de estética e de massagens. São os caçadores a alargar os campos de actuação, tendo como alvo novas presas. Estruturas bem organizadas e com clientes bem seleccionados e a agirem aos olhos de todos.
A chantagem sexual dispara na internet, e as redes colocam mulheres a seduzir homens nas redes sociais. As vítimas despem-se para as câmaras e acabam ameaçadas: Ou pagam ou as imagens são divulgadas. Esta semana, o Serviço de Investigação Criminal (SIC), através da sua Direcção Central de Combate aos Crimes Informáticos, deteve, em Luanda, três jovens (17, 18 e 19 anos) que faziam parte de uma rede com sede em Cabinda, que se dedicava à extorsão sexual e chantagens na internet de cidadãos estrangeiros, preferencialmente portugueses. Já estão identificados 24 integrantes desta rede, todos residentes em Cabinda.
Foram vitimas 14 cidadãos estrangeiros (13 portugueses e um indiano), com idades compreendidas entre os 45 e 50 anos. É importante clarificar que a investigação do SIC teve início num contexto de várias denúncias internas de burla informática, através de falsos formulários de actualização do aplicativo bancário BAI Directo, burla na venda de moeda estrangeira e na utilização de falsos comprovativos de transferências bancárias, e que tem destaque na edição desta semana do NJ.
A rede utilizava falsos perfis com contas com números e indicativos de Portugal. As vítimas (maioritariamente cidadãos portugueses) começavam por aceitar o pedido de amizade de uma mulher atraente no Facebook ou Whatsap, acabavam por alinhar no jogo de sedução, acabando por se despir para várias gravações e também masturbação filmada. Após terem acesso aos conteúdos comprometedores das vítimas, começavam o processo de chantagem e extorsão. Era estipulado um modo de pagamento e um período determinado para o fazer. A rede exigia das vítimas valores até 10 mil euros e em transferências feitas por via da Western Union, Moneygram e bancos comerciais.
A investigação do SIC começou com base em denúncias de burlas internas e, no decurso da operação, com a apreensão dos telemóveis dos três jovens, tiveram acesso à informação que lhes permitiu chegar aos cidadãos portugueses lesados. Estes caçadores de orgasmos já não se limitam a ter como alvo os cidadãos nacionais. Isso já é um crime sem fronteiras, género ou idades. As redes procuram sempre quem está disponível a ter sexo e uma boa dose de orgasmos virtuais. É um negócio que rende milhares de kwanzas, dólares e euros. É interessante perceber que há quem use menores e ganhe a vida com este tipo de chantagens e extorsões, bem como que dê cabo da sua vida, pois anda atrás ou se deixa enganar por estas ofertas de uns momentos de prazer. Na realidade, é um jogo entre caçadores e presas. Um jogo perigoso e com muitos riscos.