Ousadia por causa da surpreendente e inédita paridade do género na composição do seu órgão de cúpula, o Comité Central. Até acontecer, quase ninguém acreditava que fosse possível. No entanto, nada mais lógico e mais factível. As mulheres em Angola foram, durante os primeiros 27 anos da independência, as mães e pais das famílias, cobrindo o vazio dos homens nas frentes de batalha. Nessa condição, temperaram-se mais que outras mulheres do continente e talvez do mundo na liderança, protecção e provimento da família em tempos de extrema dureza. Criaram, por isso, uma endurance que sempre se revelou nos desafios que assumiram, nos cargos de responsabilidade que assumiram. Essa capacidade de resiliência das mulheres, da zungueira à doutora, estava aí qual fruto maduro à espera de quem tivesse a coragem e visão estratégica de dar-lhes o voto de confiança e o acesso às responsabilidades de direcção "ex aequo" com os camaradas masculinos. O MPLA teve essa ousadia, de confiar nas mulheres metade do peso na condução dos destinos do País. Na crença que essa têmpera, resiliência e protecção - aliada ao cuidado de quem detém a maternidade, o cuidado dos bebés e crianças que transforma em homens e mulheres feitos - é a receita de que o País necessita para enfrentar os desafios do seu desenvolvimento nestes "tempos novos".
A segunda palavra que caracterizou esse congresso é a modernidade. Fiel à sua tradição, o MPLA prestou a devida atenção "aos sinais dos tempos" e ajustou a eles os seus estatutos e programa. Reafirmou-se um partido de centro-esquerda que reconhece a iniciativa privada como locomotiva da economia, mas reserva ao Estado o papel de intervir no sentido da construção de uma sociedade justa. Uma Angola mais desenvolvida, democrática e inclusiva. A Moção do Líder manteve o compromisso de combater a corrupção e a impunidade, promover a descentralização, desconcentração, municipalização e as autarquias locais, investir no Capital Humano nacional, reduzir as desigualdades sociais, erradicar a Fome e Pobreza extrema, preservar o ambiente, acelerar a diversificação da economia e promover a imagem e papel de Angola no contexto regional e internacional. Estes eixos constituirão a bússola da acção governativa nos últimos meses deste mandato e a base do programa de governação a ser submetido aos eleitores em 2022.
A terceira palavra-resumo é a profundidade, consubstanciada no alargamento da composição do seu Comité Central para 693 membros. Essa é outra das medidas ousadas tomadas por este congresso e que obedece a uma apurada leitura do novo contexto político caracterizado pela velocidade em tempo real da informação e pela cidadania cada vez mais exigente dos eleitores. Na actual composição deste órgão, cada província terá, em média, 38 membros da cúpula do partido a apoiar o 1.º secretário provincial na mobilização dos cidadãos para a vitória eleitoral do MPLA. Rumo ao penta, como dizem os jovens. O partido reconhece que os desafios são enormes. Grande parte do programa sufragado nas urnas em 2017 não pôde ser cumprida por causa da pandemia da Covid-19. Ela não só desviou os recursos necessários para tal, como também obrigou as medidas de prevenção que levaram à baixa de produção ou encerramento de empresas de bens e serviços, aumentando o desemprego e inflacionando os preços. Foi uma opção consciente para a salvaguarda do Bem Maior Vida. Mas alcançado este desiderato, é preciso explicar isso aos cidadãos que sofrem ainda as consequências socioeconómicas desta pandemia e mobilizá-los para a empreitada de recuperação do tempo perdido. E isso tem de ser feito lá nas comunidades de todo o País, por camaradas que bebem da fonte original de onde emana a orientação estratégica do partido. Esses camaradas são os membros do Comité Central. Por outras palavras, o alargamento dos seus membros significa que as bases têm a possibilidade de dialogar directamente com o topo; expressar as suas preocupações; partilhar a sua visão de país - porque o povo é que manda - para que o partido, hoje como sempre, transforme essas aspirações em passos concretos em direcção ao desenvolvimento. Não se trata, portanto, de acomodação de um ou outro como alguns sectores, já preocupados com o alcance desta medida, querem fazer crer. Até porque... tamanho não é documento, diz o nosso povo.
Isso mesmo disse o Presidente João Lourenço no seu discurso de encerramento, no dia 11 de Dezembro, no estádio 11 de Novembro: O MPLA de hoje é o MPLA que declarou a Independência, enquanto os outros dois movimentos se aliavam a regimes anacrónicos que hoje nem existem e invadiam o País; o mesmo MPLA que abriu o caminho para a libertação completa da África Austral; O MPLA que, olhando os sinais dos tempos, fez a inflexão política de uma economia planificada para o livre mercado; que fez a guerra para acabar com a guerra e foi magnânimo com os vencidos; que ergue o País das ruinas da guerra fratricida; que protegeu o povo da pandemia da Covid-19. O que, totalmente comprometido com os desafios de Angola em todos os tempos, segue a máxima do povo: "tá a falar, tá a fazer"...
Em tempo, um equívoco que importa esclarecer: o Presidente João Lourenço não relativizou a fome que, como todos sabemos e ele também, é das piores situações por que um ser humano pode passar. O Presidente disse que a situação de fome no País é relativa porque há zonas com excedente de produção agrícola, enquanto noutras existe escassez. E lançou o desafio do escoamento dos alimentos dali onde produzido em excesso para aquelas onde existe carência e consequente fome. Também apontou a reposição da capacidade do poder de compra das famílias como o caminho sustentável para erradicar a fome que ele e nós sabemos que existe. Alguns sectores bem identificados retiraram deste contexto duas palavras por ele pronunciadas para mais uma das suas campanhas insidiosas, sobretudo nas redes sociais. Vindo deles, não admira. O surpreendente e lamentável é que sectores normalmente mais responsáveis e prudentes na compreensão dos factos e da alma dos homens, tendo embarcado nessa campanha e aproveitando para atirar deselegantes farpas completamente despropositadas e injustificadas. Preocupante, porque se a sociedade perder o fiel da balança que eles representam, perde também a estabilidade que, hoje por hoje, é o principal activo do País. Haja, pois, serenidade!..
*Membro do Comité Central do MPLA