Téte António entregou a carta de João Lourenço para Xi Jinping ao ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, num encontro com Wang Yi, enquadrado nesta visita de 72 horas onde o chefe da diplomacia angolana vai procurar reduzir a tensão criada pela deslocação do pêndulo diplomático e económico de Luanda para ocidente.
Depois do encontro recente de João Lourenço com o seu homólogo norte-americano, Joe Biden, na Casa Branca, após um período de cerca de ano e meio de forte aproximação diplomática que levou os dois países a um entendimento estratégico que nunca se tinha visto em 30 anos de relações diplomáticas oficiais, os dois tradicionais aliados de Luanda, China, no campo económico-financeiro, e Rússia, na área militar, tendem a puxar o travão para analisar o que está a acontecer.
Sendo certo que João Lourenço, como pode ser revisitado aqui e aqui, parece ter já tomado uma decisão sólida quanto ao destino preferencial dos seus entendimentos futuros, nomeadamente na questão das compras de armamento, os EUA, e na questão do financiamento externo para projectos de desenvolvimento nacional, as instituições ocidentais em detrimento da China, a avultada dívida do país a Pequim, cerca de 20 mil milhões USD, impõe a manutenção de um espaço importante para as relações sino-angolanas, assim como com Moscovo devido à base russa do armamento ainda em uso nas FAA.
E esse esforço está em cima da mesa desta visita de 72 horas de Téte António a Pequim, com a entrega da carta de João Lourenço a Xi Jinping, que o Jornal de Angola diz que tem como conteúdo a expressão do "sentimento de amizade, irmandade e solidariedade que unem os governos e povos sino-angolano".
A aproximação dos EUA a Angola é parte da estratégia da Administração Biden de recuperar o território político-diplomático perdido em África nas presidências de Barack Obama e Donald Trump, tendo esta investida como alvos retirar o espaço que China e Rússia tiveram sem oposição durante pelo menos duas décadas, nas quais, especialmente a China, ganhou uma posição de influência quase hegemónica, e Moscovo está a procurar acompanhar, especialmente na África Ocidental.
Em pano de fundo a este realinhamento nas peças do xadrez africano está a batalha global entre os EUA e os seus aliados ocidentais e o eixo Rússia-China-Índia pela criação de uma nova ordem mundial depois de quase 80 anos de domínio quase total do "ocidente alargado", que gerou, como lembrou o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, uma gigantesca vantagem para os ricos do Norte face aos pobres do Sul Global.
E África é um dos mais importantes palcos desta "batalha" (ver links em baixo nesta página), não só pelo acesso aos seus vastos e ilimitados recursos naturais, especialmente os minerais estratégicos fundamentais para as novas indústrias tecnológicas, como o coltão, o cobalto e as terras raras, mas igualmente pela procura de desequilibrar a balança na teia de alianças estratégicas globais que, por exemplo, levam a derrotas ou vitórias na aprovação de resoluções nas Nações Unidas.