O Hospital da Universidade Agostinho Neto, decidido este mês, vai ser construído pela empresa Promed Internacional AG, que tem no seu portefólio a Luanda Medical Center (LMC), e várias pesquisas do Novo Jornal permitem perceber que todos os caminhos vão dar ao grupo Mitrelli, e depois levam ao grupo Menomadin do empresário israelita Haim Taib, dono do LMC.
É mais um procedimento de contratação simplificada, com 90 milhões a serem entregues ao grupo Menomadin, através da sua participada Luminar Finance, com sede em Zurique, Suíça, uma empresa fundada em 2003, que só financia projectos em países que têm contratos com a Mitrelli.
O grupo Mitrelli está aliás presente no mercado angolano há várias décadas, e intervém em vários sectores, facturando muitos milhões com o Estado angolano.
Na área da saúde, por exemplo, e desde o início da pandemia, o grupo, para além de ser o principal fornecedor de testes e material de biossegurança ao País, foi responsável pelo equipamento do Centro de Rastreio e Tratamento da Covid-19, inaugurado pelo Presidente da República, em Junho passado, no km 27, em Viana, sob responsabilidade da Clínica Girassol, num investimento de três mil milhões Kz da Sonangol. É também parceiro do Estado, por via da Yapama Saúde, empresa de direito angolano criada em 2012, e que é o principal fornecedor dos laboratórios de Angola, nomeadamente do Instituto Nacional de Sangue (INS), Instituto Nacional de Luta Contra a Sida (INLCS), bem como de várias unidades hospitalares em Luanda e noutras províncias, segundo o jornal Expansão.
A Mitrelli foi também escolhida para construir o novo Hospital Geral do Bengo, orçado em 63 milhões USD, bem como a nova sede da Comissão Nacional Eleitoral e do Centro de Escrutínio Nacional, por 44,7 milhões USD, como já tinha avançado o Novo Jornal.
Mais recentemente, a construção de três centralidades no País, nas províncias do Bengo, Cabinda e Cunene, foi também adjudicada a um dos muitos braços do grupo do israelita Haim Taib por 782 milhões USD, um financiamento assegurado pelo mesmo grupo através da Luminar Finance.
Voltando à saúde dos angolanos e aos hospitais-escola que o Governo está a querer construir na capital do País, é de recordar que, em Janeiro do ano passado, o Chefe de Estado assinou um decreto em que criava e aprovava o estatuto orgânico do Hospital Pedro Maria Tonha "Pedalé".
Esta segunda-feira,19, dois meses depois do fim do prazo para a conclusão das obras, o Novo Jornal visitou o local onde está a ser construído o futuro complexo hospitalar e verificou que os trabalhos para a sua conclusão ainda estão longe do fim.
Segundo um funcionário, que preferiu não dizer o nome, "o hospital ainda está em fase de construção e não se sabe ao certo quando será a sua conclusão".
"Agora não se fala em conclusão, trabalhamos de forma normal e pelo ritmo dos trabalhos não creio que seja para breve, visto que ainda falta muito para o fim dos trabalhos", disse o funcionário ao Novo Jornal. Mas, no local, homens e máquinas movimentam-se de um lado para outro, dando vida ao andamento das obras.
No texto do diploma que determinou a construção desta unidade hospitalar lia-se que seria de "assistência e apoio técnico ao Presidente da República e aos principais dirigentes do Estado" (ler notícia).
A polémica instalou-se e, uns dias depois, a 15 de Fevereiro, numa visita às obras da unidade hospitalar, João Lourenço afirmava aos jornalistas que aquele não era um hospital apenas para a classe política nacional (ler aqui).
"Imagina um hospital desses para servir a classe política, em nenhuma parte do mundo isso é possível, portanto o que foi dito não passa de mera especulação", observou o Presidente João Lourenço.
Durante a mesma visita, o Chefe de Estado fez saber que os constrangimentos de ordem financeira para a construção do Hospital Pedro Maria Tonha "Pedalé" seriam resolvidos para que as obras não voltassem a paralisar, visto que a empreitada teve início em 2012 e foi suspensa em 2016, voltando a ser retomada este ano.
Agora surge a ordem para a construção de um novo hospital-escola, com a justificação de que há a "necessidade de construir um hospital universitário de referência, que privilegie os actuais paradigmas da medicina multidisciplinar, integrando todas as especialidades médicas e cirúrgicas, incluindo os meios de diagnóstico (imagiológicos, laboratoriais e de investigação), de modo a garantir a formação graduada e pós-graduada diferenciada dos profissionais de saúde nas mais variadas vertentes", segundo pode ler-se no despacho presidencial de 13 de Julho.
A questão é que Angola tem apenas 12 mil médicos, números avançados ao Novo Jornal pelo médico Jeremias Agostinho numa entrevista em Maio de 2020, em que afirma igualmente que no País são formados cerca de 500 clínicos por ano, ou seja, a aposta em duas unidades de saúde, que vão custar 128,1 e 90 milhões de dólares aos cofres de Estado, ambas destinadas a "garantir a formação graduada e pós-graduada diferenciada dos profissionais de saúde nas mais variadas vertentes", servirá pouco mais de uma dezena de milhar de profissionais.
Sobre este novo Hospital Universitário da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto ainda não há mais informação, mas o decreto que define os estatutos do "Pedalé" determina que são também atribuições desde complexo hospitalar "prestar assistência médica e cirúrgica altamente diferenciada, realizar a avaliação e tratamento dos casos clínicos remetidos pela Junta Nacional de Saúde e Junta Médica Militar, promover a investigação médica e biomédica, promover e celebrar protocolos de cooperação com instituições nacionais ou estrangeiras no domínio assistencial, de formação e de assistência técnica".
Segundo o documento, consultado pelo Novo Jornal, o complexo hospitalar inclui um centro de treinos, heliporto e um edifício de apartamentos e hotel.
Os custos, fixados em 128,1 milhões de USD, cobrem, para além dos encargos com a construção, a prestação de serviços de fiscalização e o fornecimento e instalação de equipamentos.
A obra, que teve início mediante processo simplificado e não por concurso público, face à necessidade de adoptar "um procedimento mais célere", era explicada pela necessidade de "melhorar a assistência e acompanhamento médico aos doentes a nível do sistema de saúde pública".
O Novo Jornal verificou, na altura, que a sociedade anónima TPF - Consultores de Engenharia e Arquitectura apresenta, no seu portefólio, a obra do Complexo Hospitalar Pedro Maria Tonha "Pedalé", que está localizado no Morro Bento, em Luanda, junto ao Condomínio do GEPA, num lote de terreno com área total de cerca de 32.000 m2.
O edifício principal desenvolve-se em três pisos com uma área total de construção de 29.062 m2, onde estão incluídas as áreas técnicas exteriores.
Na página da empresa contratada para a construção pode ler-se que o hospital estará organizado por dois andares: no piso -1, com cerca de 5050 m2, ficarão instaladas as áreas técnicas (depósitos de água, central térmica e central de gases), os serviços de apoio ao funcionamento do hospital (vestiários, armazéns, farmácia hospitalar, cozinha, lavandaria, esterilização, morgue e armazenamento de resíduos hospitalares), os serviços clínicos (área de radioterapia - com duas salas de tratamentos, uma sala de braquiterapia e um simulador), e a área de medicina nuclear (sala de PET, sala de gama-câmara e um micro-ciclotrão para a produção de radio-fármacos).
No piso 0, com cerca de 7940 m2, as áreas funcionais e de serviços incluem recepção e cafetaria para o público, e entradas diferenciadas para urgências e consultas externas a funcionar em 36 gabinetes de consulta e 16 salas de exame;
O piso 0 dispõe também de salas de exame de imagiologia (ressonância magnética, TAC, raio-X, ecografia, mamografia e angiografia), de hospital de dia oncológico, de serviço de urgências (com separação entre urgência de adultos (7 gabinetes) e urgência pediátrica (4 gabinetes); de uma área de medicina física e reabilitação, que engloba um ginásio e uma sala de tratamentos de hidroterapia com tanque de marcha.
O mesmo piso contará também com uma área laboratorial (com zona de colheitas, banco de sangue com 3 três postos para colheita de dadores, laboratório de patologia clínica e anatomia patológica) e de um refeitório.
Na área adjacente ao edifício principal estão situados dois edifícios destinados à farmácia de venda ao público e ao centro de hemodiálise.
No piso 1, com cerca de 7916 m2, vão funcionar cinco blocos operatórios, um dos quais destinado a cirurgia robótica (recurso ao robot cirúrgico Da Vinci), uma Unidade de Cuidados Intensivos com 16 camas, um posto de enfermagem e sala de trabalho, uma Unidade de Cuidados Intermédios com 16 camas, duas salas de partos, zona de preparação e recobro, e ainda uma zona de internamento com 74 quartos, todos com luz natural, com várias tipologias: individuais, duplos, triplos, VIP e de isolamento, totalizando 111 camas.