Conforme a agenda desta visita que a Presidência enviou aos media do Estado, João Lourenço parte de Nova Iorque hoje em direcção à capital espanhola, Madrid, onde tem, no início do período oficial desta visita, um encontro com o Rei Filipe VI e ainda com o primeiro-ministro (presidente do Governo), Pedro Sanchez.
Neste primeiro dia, a comitiva angolana acompanha João Lourenço num almoço oferecido pelo Rei de Espanha.
No segundo e último dia desta estadia de pouco mais de 48 horas em Espanha, o Chefe de Estado angolano tem previsto a visita a diversas instituições públicas e privadas, antes de embarcar com destino a Luanda.
Esta passagem do PR por Espanha acontece num ciclo particularmente intenso no relacionamento entre os dois países, porque Madrid aposta claramente numa aproximação estratégica a Angola no contexto da sua diplomacia económica agressiva para o continente africano e porque Espanha precisa de "limpar" o histórico dos últimos anos, que foram marcados, também, por graves suspeitas de suborno e corrupção de altas figuras do poder em Luanda, desde logo na petrolífera nacional, a Sonangol, durante a governação de José Eduardo dos Santos.
E foi para isso que, a 06 de Abril, o primeiro-ministro espanhol chegou, ao final da tarde, a Luanda para algumas horas de intensa diplomacia económica onde lançou a âncora dos negócios das suas mais pujantes empresas nacionais.
É uma aposta de futuro com Angola na "proa" desta empreitada de Madrid a que chamou "Foco África 2023", com a qual Pedro Sánchez afirmava então querer "liderar a estratégia da União Europeia" para o continente.
Ao longo das últimas décadas, Madrid nunca deixou de olhar para o continente africano como uma oportunidade para expandir os seus interesses económicos e sempre que deu um passo nesse sentido, Angola nunca esteve fora do "mapa" de acção, com clara ambição de, como o próprio Pedro Sánchez afirmou, dias antes de embarcar, fazer desta década - 2020/2030 - "a década de Espanha em África".
O Governo espanhol criou mesmo um instrumento de acção denominado "Foco África 2023" consubstanciando um conjunto de etapas para levar a diplomacia de Madrid ao continente com o objectivo de firmar uma sólida aposta empresarial, virando totalmente o foco de forma a gerar algo parecido a uma parceria estratégica não com um país mas com o continente africano como um todo.
E este instrumento que pode significar milhões em investimento espanhol na economia angolana, mais que nunca necessitada disso para sair do buraco em que se encontra há pelo menos cinco anos de recessão consecutivos, com forte impacto social, o que pode ser um elemento a ultrapassar de forma urgente devido ao período eleitoral que se aproxima.
Recorde-se ainda que aquando da visita de Sanchez a Luanda, os media espanhóis não se furtaram a sublinhar que o chefe do executivo espanhol tem como prioridade criar condições para um impulso nas relações "de todo o tipo", não só no que diz respeito ao "vínculos bilaterais" mas que permita ainda "proporcionar a Espanha liderar a estratégia da União Europeia com o continente africano".
Mas nem tudo são rosas no que toca a Angola...
Como o demonstra o histórico recente pouco abonatório para Madrid, tendo em conta os múltiplos escândalos de corrupção que estalaram na justiça espanhola, como pode ser recordado nestas notícias do Novo Jornal, aqui, aqui, aqui ou aqui
Apesar destas questões ainda pendentes, algumas, pelo menos, o pragmatismo de Madrid e a definida e objectiva diplomacia económica da Presidência de João Lourenço, deverão fazer destes casos judiciais meras notas de rodapé naquilo que é essencial para Luanda e Madrid: intensificar as relações económicas e empresariais bilaterais.
Nessa ocasião, e sobre a visita agora a Luanda de Predro Sanchez, o embaixador em Luanda do Reino de Espanha explicava de forma clara eue Espanha decidiu apostar de forma clara em África, com destaque para cinco países que considera estratégicos neste novo "mapa" de "conquista" de África por Castela.
E que passa pelo apoio ao desenvolvimento do continente com investimento espanhol nas mais diversas áreas, de acordo com um plano que foi elaborado e aprovado há dois anos, onde o continente surge destacado na acção da política externa de Espanha, que destaca, além de Angola, a Nigéria, o Senegal, a Etiópia e a África do Sul.
O diplomata recordava mesmo que este interesse de Madrid por Angola remonta ao início da independência, quando o então primeiro-ministro angolano, Lopo do Nascimento se encontrou em Madrid com o seu homólogo, Adolfo Suarez, em 1976, lançando ali as bases de um relacionamento que dura até hoje e foi sendo reanimado amiúde sem que nunca tenha ganhado a dimensão que, aparentemente, ambas as partes desejam e que agora Madrid que garantir que, finalmente, se vai concretizar.