Segundo a nota de imprensa da Presidência angolana divulgada esta tarde de terça-feira, 21, sobre o convite para a Cimeira da Paz de 15 e 16 de Junho, na Suíça, João Lourenço agradeceu o convite e, depois de justificar com "razões de calendário" a recusa, reafirmou a Volodymyr Zelensky a posição de sempre de Luanda: "Angola defende a procura de uma solução pacífica e duradoura".
Facilmente se pode inferir das palavras de João Lourenço citadas pela nota da Presidência que Angola entende que qualquer solução "pacífica e duradoura" é, pelo menos mais difícil de alcançar sem dialogo entre as partes em conflito, o que não vai suceder na Cimeira de Bürgenstock para a qual a Rússia não foi convidada.
Esta cimeira tem como ponto de partida o denominado Plano Zelensky, composto por 10 pontos para a paz na Ucrânia, que prevê, entre outras ideias, a punição dos dirigentes russos em tribunais internacionais e a saída sem condições das forças de Moscovo de todos os territórios ucranianos incluindo a Crimeia.
Sobre este plano, Moscovo já respondeu que não tem qualquer viabilidade nem sentido, o que significa que, para ter sucesso, a Rússia terá de ser derrotada totalmente nesta guerra, o que, em tratando-se de uma potência nuclear e com, no presente, uma enorme vantagem no campo de batalha, dificilmente acontecerá...oo que faz com que se trate de um plano sem possibilidade de ser pacífico e duradouro.
Na conversa telefónica entre Lourenço e Zelensky, esta posição de Luanda, que segue uma linha parecida com a de países como a China ou o Brasil, na qual sobressai o diálogo pacífico como ferramenta de construção de um acordo de paz duradouro, ficou claro ao líder ucraniano que Luanda, como de resto já é público quase desde o início da invasão russa, pugna por conversações de paz directas entre as forças conflituantes.
Sobre esta Cimeira na Suíça, que o próprio Governo helvético, aquando do seu anúncio admitiu que seria mais razoável se contasse com a presença de uma delegação russa, convite que não aconteceu porque Kiev e os seus aliados ocidentais se opuseram, o Presidente Vladimir Putin já disse que se tratava de um número de circo sem relevância.
E países como a China e o Brasil, além da Índia, da África do Sul ou da Indonésia, vincaram bem a sua discordância com iniciativas que visam a paz sem a presença de uma parte fundamental para isso, que é a Rússia, mesmo que, nalguns casos, com delegações de segunda linha, tenham confirmado a presença.
Para esta Cimeira, segundo o Governo de Berna, estão convidados mais de 160 países, prevendo-se a presença de mais de 100, embora, até há cerca de 15 dias, apenas 50 tenham confirmado a presença e nem todos com a garantia da ida a Bürgenstock dos seus Chefes de Estado ou de Governo.
A guerra na Ucrânia começou em 2014, com o golpe de Estado em Kiev que substituiu o então Presidente pró-russo Viktor Yanukovych, que levou a uma recusa de aceitação do novo poder na região leste do país, o Donbass, províncias de Donetsk e Lugansk, fortemente russófilas.
Desde então, e até Fevereiro de 2022, as forças leais a Kiev mantiveram fortes bombardeamentos sobre estas regiões rebeldes, originando milhares de mortos.
A invasão russa no início de 2022, segundo o Kremlin, visava e visa proteger as populações do Donbass e garantir que Kiev não adere à NATO, o que Moscovo considera uma condição existencial, podendo chegar ao uso do nuclear para o impedir.
Outra questão a dificultar o sucesso desta CImeira de Paz na Suíça é o facto de o Presidente ucraniano ter visto expirar o limite do seu mandato iniciado em 2019, mantendo o poder com a extensão da Lei Marcial que a situação de guerra justifica no país.
Para a Rússia, Zelensky perdeu a legitimidade, mas Kiev e os seus aliados pensam exactamente o contrário.