Durante uma reunião da comissão multissectorial, criada pelo Presidente da República para combater crimes transfronteiriços, com foco no contrabando de combustível, pesca ilegal e imigração irregular, na cidade do Soyo, província do Zaire, Francisco Furtado afirmou que há individualidades, já identificadas, envolvidas nesse fenómeno, incluindo governantes, antigos governantes, oficiais generais, oficiais comissários, autoridades administrativas a nível provincial e municipal, além de autoridades tradicionais.
"As declarações do ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República atestam a corrupção generalizada em Angola. Isso prova que a situação inspira cuidados", disse ao Novo Jornal o porta-voz da UNITA, Marcial Dachala.
Segundo o político, Angola e o seu Executivo não tomam medidas "de forma consistente" contra a corrupção e não responsabilizam governantes envolvidos em acções que prejudicam o desenvolvimento do País.
"Temos de encontrar remédio para estancar o contrabando de combustível e outras práticas nocivas toleradas pelo Executivo e que acabam por travar o desenvolvimento do País", acrescentou o também deputado à Assembleia Nacional, frisando que Francisco Furtado deve revelar as personalidades envolvidas nestas actividades.
O secretário-geral do Bloco Democrático, Muata Sebastião, disse que ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República deve ter "muita coragem" e revelar os altos responsáveis envolvidos nestas actividades.
"Sem revelar os nomes não tem interesse de divulgar esta informação, porque os angolanos querem saber quais são estes dirigentes", referiu, salientando que os "principais criminosos" são gestores públicos neste País.
De acordo com o político, as riquezas em Angola continuam a beneficiar um grupo de pessoas em detrimento dos cofres públicos.
"Não podemos continuar assim, urge a tomada de medidas urgentes para se responsabilizar as pessoas envolvidas em práticas criminosas", disse.
Refira-se que o ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Pereira Furtado, denunciou na terça-feira, na cidade do Soyo, província do Zaire, o envolvimento de altos dirigentes do país no contrabando de combustível para a República Democrática do Congo (RDC).
Segundo o ministro, 52% dos casos de contrabando de combustível no país acontecem na província do Zaire.
O ministro também apontou o excesso de postos de abastecimento de combustível no Zaire como um factor que contribui para o contrabando, mencionando que a liberalização na emissão de licenças para a comercialização de derivados de petróleo levou à proliferação desses postos.
Entre as medidas propostas para combater o problema estão o controle e fiscalização rigorosa dos postos de aquisição de combustível em Luanda e do transporte para o interior do País.
Foi estabelecido um prazo de 30 dias para interromper as práticas ilegais no terminal fluvial de Kimbumba, no município do Soyo, devido ao seu papel significativo no contrabando de mercadorias para a RDC.
Além disso, o Governo pretende melhorar o terminal fluvial de passageiros e mercadorias do Soyo para dinamizar a rota entre o Soyo e a província de Cabinda.
Aquando da visita do Presidente da República à província do Zaire, o governador local, Adriano Mendes de Carvalho, já havia manifestado preocupação sobre o contrabando de combustível.