De acordo com a directora do projecto PaleoLeba, Daniela de Matos, do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, a Serra da Leba, em particular, conta com pelo menos 45 grutas de formação cársica, fenómeno gerado pela erosão da água em ambientes de rochas de maior porosidade, como o calcário, com "interesse do ponto de vista do património geo-histórico e arqueológico".
No conjunto até agora percebido pela equipa existem mais de 60 locais, especialmente grutas, que "podem também conter outro tipo de informações com interesse para as geociências, por exemplo, para reconstituir o clima e a paisagem circundante", adianta Daniela de Matos, num texto que a equipa fez chegar ao Novo Jornal.
Neste estudo, que tem ainda como bónus o incremento do interesse nacional de desenvolvimento do turismo e procurar eventuais contributos para lidar com fenómenos naturais adversos, a responsável da Universidade de Lisboa pelo Projecto PaleoLeba sublinha que vai ser ainda possível "reconstituir flutuações ambientais importantes no passado" podendo encontrar "respostas para as questões actuais sobre os ciclos de seca extrema que afectam sobretudo as regiões do sul de Angola".
Desde Fevereiro de 2018 que o Projecto PaleoLeba desenvolve trabalhos de mapeamento nas Grutas da Humpata, na Província da Huíla, assim como a escavação arqueológica da Gruta da Leba, onde se encontraram vestígios fósseis e arqueológicos da Idade da Pedra.
O projecto PaleoLeba foca-se, porém, nos processos de formação das grutas e seus preenchimentos com o objectivo de reconstituir a emergência das primeiras culturas humanas na Idade da Pedra no território angolano.
Desde Fevereiro de 2018 que o projecto tem vindo a realizar campanhas de prospecção dos sistemas subterrâneos e seu património, através do mapeamento, topografia e escavação dos sítios mais relevantes para a história da nossa espécie, o Homo sapiens.
Que histórias contam as grutas de Angola?
Em Junho de 2025, a equipa do projecto PaleoLeba deslocou-se à província do Cuanza Sul e à província da Huíla para estudar as duas grutas mais visitadas em Angola, a Gruta da Sassa, no Sumbe (Cuanza Sul) e da Gruta do Tchivinguiro, na Humpata (Huíla).
A equipa científica composta por elementos do Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, do departamento de Geologia da Universidade Mandume Ya Ndemufayo e da Universidade do Namibe, da divisão de Ciências Terrestres e Planetárias do Museu de História Natural Americano, e do Clube de Espeleologia de Berlim, juntou-se aos técnicos do Instituto Nacional do Património Cultural - MinCult e da Associação de Guias Turísticos de Angola para prospectar e datar as grutas de interesse nacional.
Carlos Bumba, representante da Associação de Guias Turísticos, citado igualmente num documento que Carlos Silva, historiador que integra esta equipa, fez chegar ao Novo Jornal, explicou que as visitas às grutas da Sassa e do Tchivinguiro intensificaram-se nos últimos anos com o desenvolvimento das actividades turísticas em Angola".
Acrescentou, no entanto, que os guias carecem de informação científica e muitos locais apresentam riscos", notando que "os esforços colectivos devem centrar-se na proteção e estudo destes espaços.
Como elemento fundamental para o êxito e a segurança das actividades de espeleoturismo, estas, aponta a equipa, devem ser precedidos de um estudo científico que possibilite saber a idade e o tipo de formação de cada caverna para dar a segurança e a informação mínimas para desenvolver o do turismo de aventura.
"Temos consciência da ansiedade que norteia os turistas, no que ao contacto com as grutas diz respeito, todavia, é imperioso estarmos dotados de informações científicas que, por seu turno, satisfaçam e enriqueçam o turista", aponta Carlos Bumba.
Recorde-se que já este ano, em Junho, foram enviadas para um laboratório dos EUA amostras das cavernas e grutas citadas, com o objectivo de determinar a sua importância científico no âmbito do esforço nacional para desenvolver o turismo assente na história das grutas em Angola.