Os habitantes da aldeia queixam-se da fome, pois o pouco que produzem no campo, sem recurso a máquinas, não garante a auto-suficiência alimentar e nada sobra para vender.
A camponesa Maria Alfredo Manganje, de 57 anos, afirmou que o slogan "Combate à Fome e à Pobreza" não é possível sem a preparação mecanizada das terras e a descida dos preços das sementes, fertilizantes e instrumentos de trabalho nos mercados formais ou informais na cidade de Malanje.
"Estamos mesmo mal, não estamos a conseguir comer, é só mesmo a fome", diz, enquanto pede tractores.
Maria Manganje é integrante da cooperativa Medile, que tem recebido apoios em sementes e insumos agrícolas da ONG nacional ADRA Antena Malanje.
O esforço de cultivar manualmente não compensa os resultados em cada safra, justificou Alice André, 29 anos, também pertencente à cooperativa Medile. "Estamos a precisar de máquinas, com máquinas o trabalho será maior e os benefícios também, incluindo para as outras comunidades.
O quiabo, a cenoura, a berinjela, tomate, repolho e couve foram cultivados na primeira fase do ano agrícola [2024/2025] numa área de cerca de dois hectares, com colheitas satisfatórias, mas o preço é ditado pelo mercado informal.
Os habitantes de Medile consomem água imprópria para seres humanos retirada a cerca de um quilómetro da aldeia, desde que avariou o pequeno sistema de captação, tratamento e distribuição do produto há mais de cinco ou seis anos, confirma Maria Hebo, 29 anos, outra camponesa daquela cooperativa.
"Está a faltar-nos máquinas para trabalhar no campo, água, energia eléctrica, a água para beber vamos buscar no rio um pouco distante das nossas casas", disse, salientando que "não está em condições e provoca muitas doenças".
A ONG nacional Adra Antena Malanje, através do Projecto de Reforço do Cooperativismo Agrícola (PROCOOP), entregou na semana passada, à Cooperativa Medile (com 54 famílias camponesas),1.450 gramas de sementes hortícolas, 500 quilogramas de batata-rena [250 do tipo branca e igual quantidade de vermelha], uma motorizada de três rodas, uma moto-bomba [mais 20 litros de gasolina], moageira, insecticidas e o respectivo pulverizador e outros meios para minimizar a precariedade em recursos agrícolas e o transporte dos produtos.
Laura da Costa, a coordenadora de projectos da Adra Antena Malanje e das intervenções da organização nos municípios de Kiwaba Nzoji e Quela, diz que além de Medile, outras famílias camponesas associadas em cooperativas e associações de camponeses de cerca de uma dezena de aldeias e sectores de Kiwaba Nzoji, formando oito grupos, são assistidas pela organização não governamental, que sobrevive essencialmente de doações estrangeiras.
O administrador da localidade, José Neves, garante que a ADRA, "o que tem projectado em papel torna-se realidade", exemplificando o Procoop, que dá resposta ao sector social nas comunidades, particularmente na agricultura.
Os intervenientes no processo agrícola incansavelmente inseridos na agricultura familiar beneficiam de apoios da Administração Municipal, da ADRA e de outras organizações, segundo o governante.
Uma única sala de aula para 45 alunos da primeira e segunda classes funciona nos turnos da manhã e da tarde, e, enquanto as crianças dos seis aos dez anos são obrigados a andar dois quilómetros para chegar à escola na aldeia Campo Cabande para frequentar a terceira e a quarta classes, as de 12 anos percorrem todos dias úteis 16 quilómetros de ida e volta para a sede comunal de Mufuma.
A infraestrutura construída na época colonial foi reinaugurada em 2022, pelo então governador provincial, Norberto Fernandes dos Santos.
Quando passa pela localidade "um motorista de bom coração dá boleia às crianças que estudam no Mufuma, correndo todos os riscos", lembrou Maria Hebo.
O posto de saúde funciona com dois enfermeiros em escalas [um dia para cada um], nem sempre tem medicamentos essenciais, que, em casos graves, caminham para a comuna Mufuma, a sede municipal, ou para a cidade de Malanje.
As parturientes reclamam das condições da sala de parto [envidraçada sem qualquer forro], que quase expõe a mulher em serviço de parto aos olhos dos circundantes, principalmente crianças.
O único enfermeiro diário é insuficiente para atender pacientes das consultas externas e da sala de partos, e o pior só não acontece graças à intervenção das parteiras tradicionais treinadas na comunidade, lamentou Maria Alfredo Manganje.
A energia eléctrica ainda é um sonho eos aldeãos não conservam nada fresco, logo, os aparelhos domésticos não têm qualquer valor na localidade. Não há sinais de rádio e de televisão por assinatura.
Para carregarem telemóveis e aparelhos de som, dependem das artimanhas dos jovens, que usam os sistemas fotovoltaicos que antes forneciam energia eléctrica ao pequeno sistema de água avariado há mais de cinco anos.