A subida dos oceanos está à beira de obrigar largas centenas de milhões de pessoas que vivem nas grandes metrópoles costeiras a um êxodo de "proporções bíblicas", avisou o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, numa intervenção dirigida ao Conselho de Segurança a propósito deste tema que, com a emergência da guerra na Ucrânia, e as devastadoras consequências para a economia planetária, ficou claramente na linha de trás das prioridades das lideranças mundiais.
Sem uma acção urgente e determinada, mais de mil milhões de pessoas terão de deixar cidades como Los Angeles (EUA), Londres (Reino Unido), Bangkok (Tailândia) ou Buenos Aires (Argentina), mas também a capital portuguesa, Lisboa, ou em quase todo o mundo onde se erguem cidades costeiras com quota pouco acima do nível do mar, que são dezenas na Europa, no Japão, China ou mesmo algumas em África, como Lagos, na Nigéria.
Isto, porque as ininterruptas emissões de gases com efeito de estufa nos últimos dois séculos, logo após a revolução industrial do século XVIII (1750), fortemente aceleradas já no século XX, com a emergência da indústria pesada com forte consumo de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás, estão agora a empurrar o Planeta Terra para o limite da habitabilidade humana, sucedendo-se a um ritmo insustentável inundações devastadoras, secas sem fim ou episódios prolongados de fogos florestais dantescos... tudo com a subida recorde de 3.000 anos do nível do mar, gerando, como sublinhou Guterres, "uma corrente imparável de problemas" para mil milhões de pessoas.
Este problema, para o qual urge dar resposta eficaz de forma acelerada, sendo o objectivo conseguir que o planeta aqueça menos de 1,5º até ao final do século, já está numa fase em que problemas de grande envergadura já são inevitáveis, como, no topo dos exemplo, o desaparecimento de países inteiros debaixo das águas do mar, mas que ainda permite salvar a humanidade globalmente falando.
Isto, mesmo sendo já dado como certo por um largo conjunto de cientistas, que faça-se o que se fizer, para milhões de pessoas já será tarde demais, sendo África o continente onde isso é mais proeminente, por causa das secas prolongadas, as inundações - como as que estão neste preciso momento a afectar a África do Sul -, ou nos últimos anos, secas ou cheias, assolaram a África Austral, incluindo Angola (ver links em baixo nesta página), tempestades sem freio, que, por sua vez, potenciam conflitos armados e instabilidade social e política.
Apontando o dedo às emissões de carbono a partir dos combustíveis fósseis, o chefe das Nações Unidas diz que a pobreza, que já é uma das calamidades mais alarmantes no mundo, vai crescer de forma desmesurada, potenciando de forma ilimitada o efeito da subida dos mares, das inundações, secas, tempestades... com milhões e milhões de pessoas prestes a ficarem sem casas, ou mesmo sem países, gerando vagas históricas de refugiados climáticos...
E isto, que já é um cenário trágico para o futuro breve da humanidade, não tem como ser travado mesmo com as mais eficazes e rápidas medidas antipoluição, desde logo o fim imediato do consumo de combustíveis fósseis (Petróleo, gás e carvão...), sendo apenas possível impedir que a situação evolua para a insustentabilidade da vida na terra levando a humanidade para o abismo da extinção.
Para minimizar o impacto do que já é certo que vai acontecer, António Guterres disse ao Conselho de Segurança da ONU que os países e as organizações internacionais devem trabalhar já na elaboração de leis que protejam as populações que se encontrem em fuga dos efeitos das alterações climáticas, porque "os Direitos Humanos não se extinguem com o desaparecimento das casas ou dos países dessas pessoas".
No âmbito da ONU já existem disposições que tornam ilegal a devolução forçada de populações aos seus locais de origem quando estes se degradaram substantivamente por causa do clima ou de conflitos com origem nas transformações produzidas pelas alterações climáticas, mas a sua aplicabilidade não é evidente em todo o lado e é preciso garantir que assim sejam sublinhou Guterres.