Repleto de nuances a que muitos já apelidam de "burla milionária", a polémica envolvendo a Palmira Viagens começou no início do mês, quando, aqui e acolá, foram surgindo casos de passageiros que precisaram de ligar/pressionar a agência para que esta, então, as ajudasse a viajar para o exterior, embora tivessem já os bilhetes pagos.

As coisas, entretanto, viriam a complicar-se a partir do último sábado, 8, pelo que, na noite desta terça-feira, dia 11 de Julho, foram centenas as pessoas que o Novo Jornal encontrou no 4 de Fevereiro a queixar-se de terem sido vítimas de burla.

Por exemplo, o funcionário público Yuri Belarmino, de 35 anos, comprou, em meados de Junho, quatro passagens para uma viagem que realizaria anteontem, segunda-feira, 10, para Lisboa, Portugal. Ao preço de 2,4 milhões kwanzas, Yuri Belarmino adquiriu bilhetes para si e para a esposa, além dos dois filhos menores. Dias antes da viagem, recebe uma ligação da agência, em que lhe é comunicado que já não viajaria pela Air Maroc, mas, sim, pela TAAG.

"Achei aquilo estranho, mas, como eles me deram mesmo os bilhetes, fiquei algo sossegado", recorda o jovem, que, contudo, acabaria por não viajar, visto que, após efectuar o check-in, o protocolo do aeroporto o informou que Yuri Belarmino e a família exibiam bilhetes que não constavam do sistema.

Como este funcionário público, várias foram as famílias que contaram, aos prantos, o seu drama ao Novo Jornal, havendo casos de quem chegou mesmo a desembolsar mais de três milhões de kwanzas na compra de sete bilhetes. "Tudo indica que fomos mesmo burlados, porque eles [a Agência Palmira Viagens] não têm um preço fixo. Podem dizer-te que a passagem é "X", mas, se lhes disseres que só tens "Y", eles vendem-te os bilhetes na mesma", desabafa Georgina Eduardo, uma comerciante de 33 anos que se viu impedida de viajar para o Brasil, apesar de ter chegado a receber uma mensagem da TAAG a confirmar o seu vôo e a dizer-lhe em que momento deveria fazer o check-in.

As desconfianças de que se trate de burla estão ainda mais adensadas pelo facto de os responsáveis e funcionários da Agência Palmira Viagens terem todos os telemóveis desligados e, por outro lado, nos escritórios da agência, no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, terem sido recolhidos todos os computadores.

O Novo Jornal não teve, por isso, sucesso na tentativa de obter uma reacção da Palmira Viagens. O mesmo sucedeu com a Associação das Agências de Viagens e Operadores Turísticos de Angola (AAVOTA) cuja presidente, Catarina Oliveira, contactada pelo NJ, se recusou a prestar esclarecimentos por, alegadamente, desconhecer o caso.

Contudo, ao grupo de famílias impedidas de viajar, elementos do Serviço de Investigação Criminal (SIC), colocados no aeroporto, adiantaram que a origem do problema pode estar relacionada com uma suposta dívida da Agência Palmira Viagens junto de uma outra empresa do sector, pelo que esta última entidade, cujo nome não foi ainda confirmado, estaria a bloquear os bilhetes como forma de reaver o kilápi.

Para amanhã, quarta-feira, 12, às primeiras horas, deve haver uma reunião, intermediada pela TAAG e pelo SIC, entre as centenas de famílias impedidas de viajar e o advogado da agência acusada de burla.