Como o Novo Jornal noticiou na segunda-feira, muitos angolanos, quase todos jovens, homens e mulheres, muitas crianças também (foto), estão a atravessar a fronteira em direcção à Namíbia como forma de fugir à fome gerada pela seca que há largos anos afecta o sul de Angola.
Isto, apesar de também em algumas regiões namibianas, como a do Kunene, a seca ser um problema de grandes proporções, com casos de fome severa, ao mesmo tempo que milhares de cabeças de gado morrem devido à prolongada falta de chuva, como relata aqui o jornal estatal New Era.
Na imprensa namibiana já há quem admita a urgência de os governos de Luanda e Windhoek trabalharem em conjunto para encontrar uma solução para esta situação dramática e que os angolanos encontrados nestas condições devem ser encarados como refugiados de guerra, como sucedia nos anos de 1990.
Entretanto, como revelou a Nampa, a agência de notícias namibiana, a embaixadora angolana em Windhoek, Jovelina Imperial Costa, está esta semana a visitar as regiões mais expostas à chegada de angolanos, como Omusati e Ohangwena, para analisar a dimensão deste problema.
Eliaser Nghipangelwa, antigo autarca de Helao Nafidi, uma cidade namibiana localizada próximo da fronteira com Angola, já veio a público admitir que não há registo de tantos angolanos atravessarem a fronteira em tão pouco tempo para escaparem à fome.
"Nunca se viu nada assim, com tantos angolanos a atravessar a fronteira. Isto é um prolema muito sério e um indicador claro de que algo de muito grave se passa do outro lado da fronteira", disse Eliaser Nghipangelwa, citado pelo site Informante.web.
Também a NBC, a emissora nacional de TV e rádio namibiana, está a divulgar esta situação com destaque, apontando que muitos angolanos, especialmente jovens, homens e mulheres, estão a deixar Angola para procurar ajuda humanitária na Namíbia.
Esta situação está a ser gerada pela seca extensa que afecta o sul de Angola e é isso mesmo que alguns dos angolanos que atravessaram a fronteira nos últimos dias e se posicionaram na área de Oshikango dão como justificação para terem deixado o seu país, acrescentando a falta de emprego, o desemprego e a fome.
Entretanto, o comando regional da polícia de Ohangwena, citado pelo The Namibian, já veio confirmar que a situação está a adquirir grande dimensão, com um número nunca visto de angolanos que buscam apoio alimentar, medicamentos, trabalho...
O inspector Kaume Iitumba, porta-voz da polícia desta região namibiana, confirmou a deportação de pelo menos 100 angolanos nos últimos dias, com a justificação de que permanecem em vigor as medidas de contenção da pandemia da Covid-19 e as fronteiras estão fechadas, sendo a sua presença ilegal.
"Não podemos deixar entrar pessoas ilegalmente no país se queremos travar o avanço da pandemia", disse o oficial da polícia namibiana.
A maioria destes angolanos são oriundos, principalmente mas não só, das províncias do Cunene e da Huíla, aquelas onde a seca se tem feito sentir com mais severidade nos últimos meses, apesar de esse cenário ter mudado nestes últimos dias, provocando vagas de fome e malnutrição e desemprego.
Citado pelo The Namibian, o governador da região de Omusati, Erginus Endjala, explicou que estes angolanos atravessam a fronteira de noite fora dos pontos oficiais de entrada, que permanecem encerrados, "mas todos sabem que estas fronteiras são porosas e permitem facilmente entradas ilegais".
Erginus Endjala disse sem rodeios que por detrás desta vaga de angolanos que procuram a Namíbia nesta altura, está a fome que se vive nas províncias do sul de Angola e estão neste momento espalhados pelas regiões do norte namibiano.
Não é possível às autoridades namibianas avançar com um número exacto porque os angolanos estão em permanente movimento e numa vasta área que abrange mais de uma região, embora segundo avançou a televisão namibiana, a NBC, esteja em curso um mini-censo para determinar quantos angolanos atravessaram a fronteira nas últimas semanas.
Para o governador de Omusati, "há pouco ou nada que se possa fazer" porque se trata de "imigrantes ilegais" e, oficialmente, as autoridades locais "não podem estar a apoiar pessoas que estão de forma ilegal no país".
"Mas estamos à espera de um encontro com a embaixadora angolana e representantes do Governo de Luanda para os informar sobre a dimensão real deste problema e ver como estas pessoas podem ser apoiadas pelo seu governo, nem que seja com alimentação básica", disse Erginus Endjala.
As pessoas das comunidades onde se concentram a maioria parte dos angolanos estão a ser aconselhadas pelas autoridades a reportarem a sua presença à polícia.
Segundo relatos colhidos pelo jornal namibiano, muitos angolanos estão a oferecer a sua força de trabalho simplesmente em troca de comida, mas a maior parte procura trabalho para ajudar à sobrevivência das famílias que deixaram para trás.