E se a variante Ómicron do Sars CoV-2 for, afinal, uma boa notícia? E se se concluir que quanto mais depressa esta evolução do novo coronavírus tomar conta do mundo, substituindo as anteriores estirpes, melhor? A resposta a estas perguntas só será positiva se se confirmar, como parece ser uma séria possibilidade, que a Ómicron está a ocupar o território global que era da variante Delta até aqui, expulsando-a, porque é mais rápida na sua transmissibilidade, mas, como é muito menos agressiva para os pacientes infectados, o número de internamentos desce de forma significativa, os casos graves encolhem e a mortalidade desde igualmente de forma significativa.

Para já, como está a ser divulgado nas últimas horas pelo departamento de Saúde Pública da Escócia, mesmo que se trate de informação preliminar retirada de um estudo realizado assim que a Ómicron começou a gerar preocupações, depois de descoberta pelos cientistas sul-africanos, pode ser uma boa notícia.

Com os autores do estudo a sublinharem que se trata de uma mera indicação que carece de subsequentes confirmações, o que é certo é que os media de todo o mundo estão a enfatizar a possibilidade de a Ómicron ser uma espécie de ajuda inesperada para os serviços de saúde nacionais em todo o mundo pela sua capacidade de ocupar o espaço da variante Delta, mais agressiva e letal, mostrando-se mais benigna, com menos internamentos, menos mortes associadas, ao mesmo tempo que mostra menor resistência do que se pensava às vacinas existentes.

Isto surge quando em Angola o Governo e a Comissão de luta contra a Covid-19 acabam de anunciar novas medidas fortemente restritivas à mobilidade social, como o Novo Jornal noticiou aqui.

O estudo agora divulgado, sendo importante sublinhar que ainda não foi posto à prova pela comunidade científica, o que sucede com a sua publicação oficial num jornal da área, mostra que as pessoas que foram infectadas em Novembro e Dezembro foram dois terços menos susceptíveis de serem internadas em comparação com a variante Delta, mostrando que os sintomas a ela associados são menos graves.

Para já, esta redução da severidade da infecção só mostra estar relativamente sustentada no caso de pessoas que tenham recebido a vacinação completa.

Na primeira declaração pública sobre este estudo e as suas preliminares conclusões, Jim McMenaminm director do departamento de Saúde Pública da Escócia, admitiu que se trata de "evidentes boas notícias" mas apontou como fundamental que, apesar de tudo, a Ómicron não deve ser vista nem encarada como se não fosse grave, porque é apenas menos severa que as suas anteriores representações do Sars CoV-2, porque, entre outras razões, esta variante, sendo mais transmissível, pode chegar a mais pessoas e, apesar de menos severa, acaba por ter um potencial de maior impacto social.

As questões que permanecem em cima da mesa sobre esta variante é que só com estudos suplementares se poderá concluir da sua completa realidade enquanto agente infeccioso, porque é preciso avaliar quantos dos pacientes que integraram o trabalho de campo era vacinados, se já estiveram infectados, qual a importância da idade dos doentes...

Uma nota salientada pelos autores do estudo é que a Ómicron parece ser mais eficiente a infectar pessoas que já tiveram a infecção pelas outras variantes, como a Delta, o que está a gerar curiosidade e trabalho laboratorial para determinar o porquê dessa constatação.

Apesar das "boas notícias", sendo que no Reino Unido os internamentos são, pelo menos, 45% menos que na Delta e na África do Sul, segundo um estudo do Instituto Nacional de Saúde sul-africano, essa diminuição chega aos 60%, o que se pode dever à idade média menor em África que na Europa, os autores do estudo chamam a atenção para a necessidade de não ceder nos cuidados, especialmente nesta época de Natal, onde são normais os ajuntamentos familiares.

Entretanto, os dados que estão a ser recolhidos na África do Sul, e que já integram trabalhos mais abrangentes publicados na Europa e nos EUA, apontam claramente para que a Ómicron, a par de uma mais célere transmissibilidade, gerando um pico de contaminações bastante mais rápido que a Delta, sucede que a sua diluição na comunidade e posterior desaparecimento é igualmente, segundo esses dados sul-africanos, bastante mais acelerado.

Com Angola a poder ser comparada com a África do Sul no que diz respeito à idade média da sua população, perto dos 17 anos no caso angolano, e sendo já claro que esse factor é relevante para o impacto da infecção na comunidade, a Ómicron pode, como o sustentam os estudos realizados até agora, ser, afinal, uma boa notícia neste Natal e final de ano.

Mas é igualmente a ter em conta que a OMS considerou á esta variante como preocupante e esta agência da ONU mostra mais resistência a surgir em público a admitir que a Ómicron parece menos grave do que inicialmente sugeria ser devido à sua acelerada transmissibilidade.

Há, no que diz respeito à Angola, a possibilidade de ser já esta variante a responsável pelo facto de o País ter chegado pela primeira vez aos quatro dígitos no número de casos, tendo nas últimas 24 horas (dados de quinta-feira ao final do dia) atingido os 1.163 casos positivos.

Apesar da elevada contagiosidade, os óbitos mantiveram-se baixos, tendo sido registados dois.

Angola tem até ao momento registados 68.362 casos e 1.743 mortos.

Estão vacinados 11,1 milhões de pessoas, 7,2 milhões de primeiras doses e 3,5 milhões de com vacinação completa.

As autoridades nacionais continuam a mostrar preocupação devido à baixa taxa de vacinação no País.

"Continuamos com a grande preocupação da adesão à vacinação, temos cerca de sete milhões de pessoas que ainda não fizeram a sua segunda dose", disse a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, citada pela Lusa, sublinhando que a maior parte das mortes associadas à Covid-19 ocorrem em pessoas não vacinadas.

Sílvia Lutucuta apelou para o reforço da vacinação com a terceira dose para as pessoas com mais de seis meses passados da segunda dose.

"Porque a imunidade começa a baixar a partir de seis meses e por esta altura temos 25.393 utentes que já fizeram a sua dose de reforço. Queremos também pedir a toda a pessoa legível a vacinar-se, todas as pessoas com idade igual ou superior a 12 anos", sublinhou.