As autoridades angolanas anunciaram na terça-feira o registo de cinco mortes em 25 casos suspeitos de cólera, no bairro Paraíso, município de Cacuaco, província de Luanda.
"A causa da cólera está intrinsecamente relacionada com o saneamento básico, esta é a causa principal e o saneamento básico tem relação com a pobreza, [...] aumentou a pobreza no nosso país e as pessoas estão a lutar pela sobrevivência e vão à busca de comida no lixo", disse Adriano Manuel.
Segundo o médico, a insalubridade do meio ambiente, agravada com a recolha irregular do lixo, e a escassez de água, sobretudo em zonas periféricas da capital, potenciam o surgimento de várias doenças.
"Não há recolha do lixo, não há tratamento da água (...) como a água não é tratada e a alimentação concomitantemente não é tratada, isso influencia negativamente para que tenhamos cólera no nosso país", referiu.
Adriano Manuel considerou a cólera como um problema de saúde pública, lamentando a "falta de investimentos" no sistema primário de saúde que, no seu entender, "resolveria 90%" das grandes questões relacionadas com o perfil epidemiológico do país.
O que "mais mata em Angola é a malária, doenças diarreicas agudas, doenças respiratórias, tudo isso com um sistema de saúde primário funcional" seria resolvido, notou.
Para o presidente do SINMEA, o país precisa de implementar um forte sistema de educação para a saúde com o apoio da comunicação social e campanhas de sensibilização promovidas pelas administrações locais, acreditando que o país poderá não ter controlo sobre um surto de cólera.
"Não há no nosso país um sistema que vai conseguir controlar o surto, porque não há medicamentos, temos dificuldades de soro de re-hidratação em muitos hospitais, há um défice de medicamentos nos hospitais", referiu.
Sinalizou também que as empresas fornecedoras de medicamentos "estão há quase 11 meses sem ser pagas" e "quando isso acontece há este défice de medicamentos [nos hospitais]".
"Infelizmente, o Governo insiste na inversão da pirâmide, isto é, investe num sistema curativo quando deveria investir num sistema preventivo e estamos a ver aí a questão da cólera, aviso não faltou", concluiu o médico pediatra.
O Ministério da Saúde recomenda à população que adopte medidas de prevenção que minimizem o risco de transmissão da doença, nomeadamente lavar frequentemente as mãos e manter a higiene pessoal de toda a família; tratar a água para beber, colocando sempre cinco gotas de lixívia por cada litro de água, e depois esperar 30 minutos antes de a beber.
Ferver a água de beber durante 20 minutos, lavar bem as frutas e os legumes com água fervida ou água tratada com lixívia; cozinhar bem os alimentos e guardá-los bem tapados.
As medidas incluem igualmente não defecar ao ar livre, usar sempre latrina ou casa de banho, manter a latrina ou a casa de banho sempre limpas e desinfectadas, manter a casa, o quintal e o bairro sempre limpos.
Em caso suspeita de cólera, antes de levar o doente para a Unidade Sanitária mais próxima, dê-lhe muitos líquidos ou o soro caseiro, preparando um litro de água fervida e colocando uma colher de sopa de açúcar e uma colherinha de chá de sal. Agite bem antes de dar a beber.
Por fim, o Ministério da Saúde solicita que, em caso de suspeita de cólera, os cidadãos se dirijam à unidade de saúde mais próxima da sua residência.