Para analisar este problema e para ele encontrar soluções, a governadora provincial do Cunene, Gerdina Didalelwa, esteve recentemente na região de Ohangwena, onde, após uma reunião de trabalho com a comandante local da polícia namibiana, comissária Elizabeth Sibolile, revelou aos jornalistas que o crime transfronteiriço está a ganhar dimensões preocupantes obrigando a um aturado reforço da vigilância em ambos os lados da fronteira.
A oficial da polícia namibiana, citada pelos media locais, sublinhou que a constatação desse crescente crime entre os dois países levou à criação de mais postos de vigilância e mudança na táctica de policiamento de forma prevenir e impedir que a porosa fronteira sirva para este tipo de actividades ilícitas, embora tenha reconhecido que num e noutro lado "quem pratica estes actos sempre encontre forma de atravessar e passar bens ilegais num e noutro sentido".
Esta fronteira é das mais porosas entre todas as existentes em Angola porque as comunidades locais têm ligações ancestrais e culturais que fazem destes territórios áreas de grande permeabilidade para este tipo de crime, que vai do tráfico de pessoas às drogas, passando pelos combustíveis, do roubo de veículos e motores ou ainda de gado.
Só do lado namibiano, em cinco estabelecimentos prisionais da região de Ohangwena, até ao fim-de-semana passadao estavam pelo menos 64 angolanos a aguardar julgamento acusados de roubo de veículos, tráfico de bens diversos, como os combustíveis, e passagem ilegal de fronteira...
O tráfico mais comum entre os dois países é no sentido Angola-Namíbia e envolve combustíveis, porque, a título de exemplo, um litro de gasolina custa do outro lado da fronteira perto de 14 dólares namibianos, o que corresponde a cerca de 610 Kwanzas, com os quais se podem adquirir 3.7 litros num posto de abastecimento em território angolano, como o Novo Jornal noticiou aqui, em 2016 ou ainda aqui, em 2018.
Um dos problemas que levou a governadora do Cunene foi ainda a presença de largos milhares de angolanos, na sua maioria do Cunene, que nos últimos meses deixaram Angola e partiram para a Namíbia de forma a escapar dos problemas causados pela prolongada seca, muitos deles a passar por severas dificuldades na Namíbia devido à sua condição de ilegais, sendo o mais premente actualmente a questão do acesso a cuidados médicos aos quais não têm direito por não estarem com a sua situação legal regularizada sendo, por isso, obrigados a pagar quantias das quais não dispõem.
Por exemplo, segundo o The Namibian, a um não-namibiano é cobrado 60 dólares locais num posto de saúde quando a um cidadão nacional ou legalizado são cobrados 4, ou os 100 dólares namibianos (7,5 USD) que pedem aos não-nacionais face aos 8 exigidos aos locais.