Sublinhando a urgência de garantir protecção contra a repetida e intensa violação dos direitos humanos no Kasai, que já provocou mais de 1,3 milhões de deslocados internos, centenas de mortos e quase 40 mil refugiados na Lunda Norte, a ONU alerta para a fuga diária das suas casas de mais de 8 000 pessoas, com cerca de 500 a chegarem aos centros de acolhimento criados pelo Governo angolano todos os dias, onde, até final deste ano, deverão estar mais de 50 mil, de acordo com estimativas das Nações Unidas.
"A maior parte dos civis nas áreas do conflito estão e m risco de sérias violações dos direitos humanos, incluindo mutilações, morte, violência sexual e detenções em condições inumanas", afirma o Escritório da ONU que gere as crises humanitárias (UNOCHA).
Uma das preocupações agora sublinhadas por este escritório das Nações Unidas é a escassez galopante de alimentos na área de Kamako, no Kasai, que é a área de origem da maioria dos refugiados acolhidos nos centros de acolhimento de Mussungue e Cacanda, na Lunda Norte.
A fome surge agora como mais um instrumento de pressão sobre as populações para deixarem as suas aldeias, muitas das quais, especialmente crianças, mulheres e idosos (75 por cento do total dos refugiados em Angola), fazendo-se ao caminho em direcção à fronteira angolana, onde as forças de segurança procuram manter a passagem aberta mas com precauções redobradas para fazerem a triagem de quem é refugiado e quem tem outras justificações para entrar no país.
O alargamento do conflito para uma guerra entre comunidades no Kasai referida pelo UNOCHA é sustentado pelos registos que já existem de violência entre etnias, nomeadamente as que envolvem os Tshokwe, cuja geografia humana abrange uma larga extensão de território angolano nos Kasai e Kasai Centr5al da RDC e nas Lunda Norte e Sul.
Recorde-se que este conflito no Kasai envolve essencialmente as milícias Kamwina Nsapu, nome tradicional para um chefe tribal na região, e as Forças Armadas da RDC (FARDC) e começou em Junho de 2016, quando o Governo congolês recusou um conjunto de mordomias ao chefe tradicional que se revoltou contra as instituições do Estado, dando início a mais de um ano de violência extrema, com centenas de decapitações, amputações...
O chefe tradicional Kamwina Nsapu foi morto em Julho do ano passado mas a violência não parou.
Existem suspeitas, incluindo da ONU, de que há uma mão invisível do poder político em Kinshasa a alimentar a violência no Kasai e já foi pedido um inquérito internacional.
Como pano de fundo deste cenário está ainda a crise eleitoral na RDC, cujas eleições gerais já deviam ter ocorrido em Dezembro de 2016, com a saída do Presidente Kabila do poder.
As eleições foram adiadas depois de mais de 100 mortos em diversas manifestações onde eram exigidas eleições, que foram marcadas com limite até final deste ano.