O domingo da semana passada, foi, por uma incrível coincidência ao fim de 95 anos, justamente dia 18 de Maio, data consagrada a celebração da prática desta modalidade em tributo aos percursos lá no longínquo ano de 1930.
Nesta ocasião celebrativa, normalmente acontecem duas coisas: uma jornada de reflexão e debate nos órgãos de comunicação social sobre o passado de glórias da modalidade e torneios de mini-basquetebol organizados pela Associação Provincial de Luanda.
Sabe muito bem olhar para atrás, é sempre muito prazeroso viver e reviver os nossos múltiplos momentos de conquistas e realizações, verdadeiras epopeias que jogaram um papel contributivo relevante no processo de formação da nossa consciência colectiva enquanto angolanos, de filhos da mesma pátria.
Mas penso que nas actuais circunstâncias, com os pés bem assentes nos alicerces do passado, ser melhor ainda e muito mais importante olhar para frente e projectar aquilo que realmente pretendemos para os próximos anos de prática de basquetebol em Angola.
E nesta reflexão para frente, uma constatação que me parece ser absolutamente inequívoca é que o basquetebol mudou e é preciso encararmos este facto com o realismo, pois então, diante disto, seguramente que no actual contexto que a mesma receita que nos conduziu a 32 anos consecutivos de presença no podium africano, a décadas de liderança do ranking africano e top 20 mundial, a 11 títulos africanos e respeitáveis participações em campeonatos do mundo e jogos olímpicos, não nos serviria.
O Professor Victorino Cunha tem desvendado e revelado reiteradas vezes o "segredo" do passado. Visão, estratégia e liderança foram os três eixos sob os quais assentou todo o processo de desenvolvimento do nosso basquetebol com os resultados que todos conhecemos.
Actualmente, considerando as alterações de contexto local e global, impõe-se uma nova visão, uma nova estratégia e a tomada de decisões lúcidas para que o nosso amado basquetebol continue a desenvolver-se.
Um facto com o qual temos de lidar, logo a partida, é o crescimento do nível competitivo dos nossos adversários aqui no continente africano. Países como o Sudão do Sul, Nigéria, Senegal, Costa do Marfim, entre outros, contam com uma diáspora bastante numerosa de atletas seus, alguns até já nascidos em países que são os principais centros mundiais de formação de atletas como Estados Unidos, França, Canada, Espanha, etc.
E, diante destas circunstâncias, considerando as nossas limitações, não me parecer haver outra alterativa que não seja nos virarmos cá para dentro ao ponto de sermos capazes de gerar atletas nascidos, crescidos e treinados aqui no País em condições de competirem, olhos nos olhos, com os "franceses", "norte americanos", "espanhóis", "australianos", etc. , que em representação da Costa do Marfim, Senegal, Sudão do Sul, etc., nos defrontam nos palcos internacionais.
Para sermos capazes disto, só com um investimento sério na formação dos treinadores, nas infra-estruturas, nos clubes e com uma boa estratégia de expansão da modalidade, buscando-se um aumento substancial do número de praticantes, sobretudo do mini-basquetebol, numa fase inicial.
Temos mesmo de encontrar a fórmula mágica para isto ser feito porque basquetebol, por aquilo que representa neste País, pela sua história, merece o melhor de nós. Mãos à obra, Camaradas! *Jurista e Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga