No princípio, recorda Jorge Cohen, em entrevista ao Novo Jornal, havia "um certo receio" sobre como haveriam de viver e trabalhar de forma profissional e rentável num sector como o cinema que, em Angola, arrecada "muito poucos apoios".
E foi a pensar numa forma de colmatar esta «brecha» que os três jovens angolanos decidiram aliar a "vontade de fazer cinema" à prestação de serviços de publicidade.
Passados 10 anos, Jorge Cohen lamenta que o cinema "ainda não seja 100% sustentável", mas acredita que o cenário "deve mudar em breve", até porque a publicidade já lhes vai trazendo alguma folga financeira e os conteúdos on-line e digitais andam em "bastante crescimento", o que faz que os préstimos da produtora sejam solicitados por pequenas, médias e grandes empresas.
Por isso, foi a «transpirar» optimismo e confiança que, aos 33 anos, Jorge Cohen, na qualidade de produtor e sócio-fundador da Geração 80, recebeu o NJ na manhã da última terça-feira, 11, para uma conversa sobre os 10 anos da produtora, assinalados no passado mês de Julho.
Hoje, o projecto com que três jovens pretendiam "marcar um tempo", revelando o que pensavam alguns dos angolanos nascidos numa década fustigada pela guerra civil, deu lugar a uma empresa com 20 trabalhadores a tempo inteiro e várias centenas de trabalhadores indirectos, desde equipa técnica, filmagens, som, iluminação e edição, assim como outros serviços logísticos.
"As pessoas não têm noção que, para cada produção nossa, se movem várias dezenas de profissionais", revela Jorge Cohen, citando como exemplo o projecto Angola nos trilhos da Independência, executado com a Associação Tchiweka de Documentação (ATD), do qual resultou o documentário Independência, trabalho que levou a que, em 2016, as duas organizações - Geração 80 e ATD - fossem galardoadas com a mais importante distinção do Estado na Cultura: o Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria de cinema e audiovisuais.
Entretanto, de prémios e/ou nomeações não é tudo. Por exemplo, Kamy Lara, membro da Geração 80, realizadora do documentário Para lá dos meus passos, está nomeada para o prémio de melhor realizadora africana nos Adiaha Awards 2020. Para lá dos meus passos está ainda selecionado para o San Francisco Dance Film Festival, de 18 a 25 de Outubro 2020.
Levar o cinema aos bairros
Com a produtora a entrar para a «adolescência», Jorge Cohen entende que os 10 anos de existência da Geração 80 obrigam a que os seus membros comecem a planear novos rumos e desafios, procurando reafirmar-se como "produtores de referência" no audiovisual, tanto a nível de publicidade como de cinema.
"Para nós, 10 anos depois, já não basta apenas fazer os filmes. É importante também começarmos a trabalhar numa forma de os filmes chegarem a um público maior", considera Cohen.
O jovem produtor ressalva, no entanto, que se trata de um "desafio comum" dos cineastas angolanos, na medida em que há uma "grande necessidade" de se garantir que as televisões nacionais exibam com maior frequência as produções locais, promovendo "uma maior abertura" nos cinemas convencionais, além da aposta nas exibições de filmes ao ar livre como forma de "fazer chegar o cinema a outras zonas".
Cassete, a nova «coqueluche»
Com vista a complementar o vasto serviço de imagem prestado pela produtora, a Geração 80 inaugurou em Janeiro deste ano, em Luanda, o estúdio Cassete, uma estrutura focada, entre outros serviços, na produção de spots publicitários e gravação de locução para diferentes necessidades.
Alice da Cruz, a gerente do estúdio Cassete, adiantou ao NJ que o plano é "ir além da publicidade", trazendo serviços inovadores e embrionários no mercado angolano, como é o caso dos livros em áudio.
"Queremos transformar todo e qualquer tipo de conteúdo em áudio, diversificar e apresentar diferentes formas de comunicar", revela Alice da Cruz, que discorda das vozes que entendem que o País não tem mercado para este tipo de serviços.
"É algo que vamos conseguir implementar, porque há pessoas que são mais de ouvir do que ler", reforça, sublinhando que o objectivo da produtora é também definir tendências e criar público