Fui o terceiro nestas vestes, depois dos «catedráticos» Luísa Fançony e Octaviano Correia, outros dois bons amigos com muitos cacimbos percorridos nestas viagens, tendo-me aconselhado o último a seguir em frente:

- "Aceita. Vais gostar".

Na verdade, gostei imenso, porque aprendi muito. Observei os comentários, dei as minhas contribuições e tomei boa nota da profunda análise crítica feita à edição de 15 de Maio, ombreando com uma geração de jovens muito entusiastas, muito envolvidos no seu trabalho, sem demonstração de excessos de protagonismo, tal como se comportam os verdadeiros profissionais da comunicação social. Ouviram as minhas opiniões, com a plena certeza de que elas valem o que valem. Não são epistemes, nem gnoses, tão simplesmente doxa, para tal como diria o ilustre académico do Congo Democrático Valentin Mudimbe.

Com a necessária preocupação na recolha e tratamento adequado dos dados que vão trabalhando, a equipa redactorial do Novo Jornal lá foi propondo os principais temas a serem abordados nesta edição, na qual a entrevista ao director da AGT constitui um dos primeiros destaques. Há países onde muito se desconta e muito se beneficia e há países onde muito se desconta e não se vê. Entre este dois extremos, em que ponto teremos de colocar a nossa fasquia?

Com a saída do Estado de Emergência, mas, através do Decreto Presidencial n.º 142/20, de 25 de Maio, que, circunstancialmente, coincidiu com as comemorações não festejadas de mais um "Dia de África", entrámos na "Situação de Calamidade Pública ao Abrigo da Pandemia COVID-19", com a nossa capital ainda em cerca sanitária. O calor começa a despedir-se de nós, o frio a prognosticar o pior, por estas ou outras razões o número de casos começa a aumentar exponencialmente e a nossa vida tarda em normalizar-se, quando as finanças e a comida que antes se açambarcou começam a chegar ao fim. Os adultos podem ainda comer qualquer coisa, mas como as crianças vão aguentar?

Silenciosamente, o Dia de África passou-nos e, no actual contexto da pandemia, o Dia Internacional da Criança vai passar-nos também. O tempo não está para euforias. Por detrás da vida e da esperança de virem a renascer melhores dias, esconde-se o acentuado perigo de contágio, que leva as gerações mais jovens e as mais adultas (especialmente estas) a fugirem da morte, já que, nalguns países, como nos EUA e no Brasil, os funerais já são feitos em valas comuns, só com a presença de muito poucos membros da família.

Este segundo decénio deste novo milénio chegou carregado de desgraça, em cima da desgraça da crise económica, social e financeira, levando-nos a aguardar para mais tarde o desejo de melhor qualidade de vida. Assim que os testes à COVID-19 começaram a ser feitos com maior frequência, dispararam as notícias de mais casos positivos em Angola. Afinal, quantos assintomáticos desta pandemia o são sem ainda o saberem? A ideia de que, face a esta pandemia, nós africanos, e, sobretudo, nós angolanos éramos especiais, desvaneceu-se com estas novas informações, e começámos a acreditar que, afinal, estamos sujeitos aos mesmos perigos de contágio se não seguirmos as devidas recomendações de biossegurança.

O mundo comporta-se como um organismo vivo e respirou de alívio quando, a nível planetário, os elevados índices de poluição desceram, contribuindo até para a recuperação da camada de ozono. Por cá, entre organizações ambientais que vêm apelando para a sustentabilidade ambiental, a Fundação Kissama vai fazendo, e, a nível governamental, a vertente transversal do ambiente associou-se à cultura e ao turismo.

Que projectos integrados poderão, afinal, nascer desta inovadora aliança, quando a tradicional relação dialéctica da cultura, em vários países, foi sempre estabelecida com a educação, que tem por fins a cultura, a cidadania e a actividade laboral?

A nova Lei de Bases do Sistema de Educação, após uma primeira em 2001 e uma segunda em 2016, trará inovações, já que, a nível planetário, as mutações se desenvolvem a uma rapidez nunca antes constatada e interferem, não só, na vida dos países desenvolvidos, mas também e, por vezes, de forma drástica, nos países em desenvolvimento. Dois "mundos" cada vez mais desiguais, onde, no pior deles, quase 800 milhões de pessoas passam fome e 405 mil, no ano passado, pereceram de malária. Que este Dia Internacional da Criança seja coberto de esperança para as gerações vindouras, para que o sentido da vida não se transforme apenas num peão, cuja morte a detém a seu belo prazer.

* Filipe Zau foi o director do Novo Jornal durante uma semana. O professor, autor e compositor angolano assina o editorial que é habitualmente assumido por Armindo Laureano.