Lembro-me que o Governo era então constituído apenas por catorze Ministros e um Secretário de Estado, (Agricultura) que iam a despacho com o Primeiro-Ministro, então Chefe do Governo, que não era o Presidente da República...

Lembro-me que, um ano depois, uma segunda reforma ocorreria com a institucionalização das figuras de primeiro, segundo e terceiro vice-primeiros ministros, ao mesmo tempo que Afonso de Almeida "Cassessa" protagonizava a primeira auto-demissão do governo.

Lembro-me que o modelo de governação então vigente, conferindo espaço de actuação relevante ao segundo homem na hierarquia do Estado ( o Primeiro-Ministro) rapidamente fez estalar uma vaga de intrigas políticas entre as alas que, no interior do Governo, se digladiavam pelo controlo do poder.

Lembro-me que a ala vinda do exterior, ao ter visto gorada a nomeação de Sady Mingas para desempenhar as funções de Primeiro-Ministro, nunca perdoou a Lopo do Nascimento, oriundo do interior, por ter sido escolhido por Agostinho Neto para chefiar o Governo...

Lembro-me que, no âmbito de uma terceira reforma constitucional, em Dezembro de 1978, era formalmente extinto o cargo de Primeiro-Ministro.

Lembro-me que após a morte de Agostinho Neto, em 1980, já com o novo Presidente com alguns meses de poder, uma nova reforma política outorgaria a José Eduardo dos Santos "poderes especiais" os quais nunca mais os largaria até ao seu afastamento do Palácio, em Agosto de 2017...

Não sei, a partir daí, quantas reformas mais foram feitas até ao momento em cima das inúmeras reformas que, ao longo de quatro décadas e meia, têm sido, por aqui, ensaiadas ao nível do aparelho do Estado.

Não sei se o próprio Estado também sabe. Nem sei ainda se, hoje, os seus servidores sabem que os seus serviços estão a ser alvo de uma nova reforma...

Sei que, ao olhar para a herança financeira legada com o fim do anterior ciclo governativo, poucos cidadãos seguramente saberão que a dívida de Angola em 2017 ultrapassava largamente os 70 mil milhões de dólares!

Sei que, ao olhar para o peso dessa herança, poucos acreditarão que ainda está por avaliar a verdadeira dimensão da cultura gangsterística instalada em Angola nos últimos vinte anos.

Sei que, agora, ao olhar para o presente, muitos gostariam de ter fé na actual reforma em curso, como se fosse a primeira reforma em Angola a combinar, de forma audaz e equilibrada, o exercício das liberdades democráticas reivindicadas pelos cidadãos com o liberalismo económico defendido pelos homens de negócios.

Sei que, ao olhar para estes dois desafios, o Presidente está a tentar fazê-lo inspirado em dois modelos importados e fabricados no estrangeiro por dois países aliados de Angola em circunstâncias distintas.

Sei que o faz, por um lado, apoiando-se na abertura política que, em 1989 em Moscovo, deu lugar ao derrube do Muro de Berlim.

E também sei que o faz, por outro lado, tendo como suporte as reformas económicas que, a partir de 1978, em Pequim, deram lugar ao nascimento e crescimento de uma das economias mais pujantes do mundo.

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