O Poder Político angolano nunca se viu obrigado a dar explicações ao país, não só porque os mecanismos legais permitem apenas o "passar em revista" de uma série de questões, como não são suficientemente capazes de permitirem que a acção de governação seja escrutinada com eficácia e transparência. A Conta Geral do Estado é um exemplo claro dessa ineficiência - e ajuda a sustentar a tese de que o Executivo tem margens a mais para não prestar qualquer esclarecimento sobre a sua actuação.

O Executivo é provavelmente dos poucos que governa ciente de que as metas, sendo ou não alcançadas, não representam, ainda, um risco político, que passa por ser a apresentação dos resultados dos actos da governação que têm sido um autêntico desastre desde que se alcançou a paz. E a sustentar esta tese está a tão propalada diversificação económica que o Executivo dizia ter posto em marcha, até que o ex-Presidente da República veio a terreno e desmanchou o novelo, admitindo que muito se falou sobre o ensejo, mas que pouco se tinha alcançado.

Neste momento, se questionássemos o Executivo sobre os números da governação, tendo como bússola o programa de governo sufragado nas eleições de 23 de Agosto de 2017, certamente que quantificar isso será um exercício sem qualquer resposta apelativa, na medida em que os números anteriores nunca chegaram e os que chegaram provaram que alguém estava a mentir.

Há uma cultura de prestação de contas nos actos de governação que não pode ser apenas o das urnas. Ao longo dos anos, vimos o Poder Político fazer jus às vitórias alcançadas nas urnas, na ordem dos 82%, mas nunca o vimos a levantar a bandeira de uma diminuição drástica dos índices de mortalidade infantil ou de paludismo.

As urnas não podem, pois, continuar a ser o espaço representativo da eficiência de um ente político que exerce o Poder Político há quatro décadas, independentemente das adversidades que tenham existido ao longo do trajecto que se fez até alcançarmos os indicadores de governação que temos hoje.

Para todos os efeitos, o Poder Político continua a governar com um cortinado cinzento que não permite a qualquer angolano saber às quantas anda o país. Se alguém vier hoje do exterior e perguntar-nos sobre o estado real da economia angolana em números, ninguém, a não ser o Executivo, conseguirá ter acesso aos dados oficiais para, com propriedade, dizer que a situação é esta ou aquela.

Em matéria de governação, o Poder Político angolano sempre barrou o acesso à informação sobre o estado da economia do país, e, apesar do apregoar dos ventos da mudança de paradigma, ainda não se lhe reconhece autoridade moral nem tão-pouco legitimidade intelectual para desmentir uma simples acusação de que continua a não ser transparente na forma como gere a riqueza de todos nós.

Vemos o Executivo reactivo quando existem sinais de uma subida de tom na crítica à sua governação. E, nesta semana, uma vez mais, o Presidente João Lourenço voltou a dizer uma meia verdade a respeito dos dinheiros públicos. Ao denunciar que o país pode estar à beira de ser vítima de um projecto desestabilizador gizado a partir do exterior, numa cultura de transparência até com a informação, era suposto o Presidente da República dizer de onde virá essa ameaça.

Ao não fazê-lo, não só falta à nobre missão de nos manter informados, como levanta outras dúvidas: se há um financiamento do exterior para desestabilizar o país e este é resultado de dinheiros surripiados do erário, quanto Angola de facto perdeu para os actos de corrupção? Quanto até agora o Executivo recuperou do combate à corrupção? Quando deverá falar o senhor Presidente sobre o assunto? No dia 15 de Outubro, na abertura do novo parlamentar? Oxalá seja, porque o país precisa de menos retórica política e de mais respostas aos problemas que continuam a legar aos mais frágeis um enorme fardo de pobreza e miséria.

E Angola, com todo o seu potencial de riqueza, apesar da crise, precisa de saber com que meios de subsistência terá de se fazer à estrada. Às cegas e às apalpadelas já não nos será possível fazê-lo. Precisamos de uma bússola, mas para isso precisamos que alguém que domine a situação do "economato" nos diga realmente o que temos!