Durante o seu interrogatório na sétima sessão de julgamento do general Zé Maria, em prisão domiciliária desde 17 de Junho, Higino Carneiro afirmou que quando pediu autorização a José Eduardo dos Santos, para que o ex-patrão da "secreta militar" fizesse uma apresentação aos deputados da bancada parlamentar do MPLA sobre a histórica batalha do Cuíto Cuanavale, "JES respondeu que sim, mas proibiu que se reproduzissem os documentos sem o seu consentimento", descreveu.

Higino Carneiro foi questionado pelo juiz adjunto do Supremo Tribunal Militar (STM), tenente general Carlos Vicente, se na qualidade de general das Forças Armada Angolanas (FAA), e sabendo que se tratava de documentos pertencentes às FAA e não ao MPLA, por que razão pediu autorização a José Eduardo dos Santos e não a João Lourenço na qualidade de comandante em chefe das Forças Armadas Angolanas.

Ao que Higino Carneiro respondeu: "Na data dos factos, quando solicitei ao ex-Presidente José Eduardo dos Santos para que o general Zé Maria ilustrasse aos deputados da bancada parlamentar do MPLA factos sobre a batalha do Cuíto Cuanavale, eu era vice-presidente da Assembleia Nacional e José Eduardo dos Santos era presidente do partido, por isso, não falei nada com João Lourenço, embora ele já fosse Presidente da República".

Instado ainda a esclarecer se os documentos sobre a batalha do Cuíto Cuanavale pertencem ao MPLA ou ao Estado, Higino Carneiro respondeu que os documentos pertencem às Forças Armadas Angolanas.

O juiz Carlos Vicente reiterou: "Se os documentos pertencem às FAA, o camarada Higino Carneiro, na qualidade de general, tem a noção de que João Lourenço é o comandante em chefe das FAA, porque pediu autorização a José Eduardo dos Santos, se ele era presidente de um partido politico?".

Higino Carneiro manteve-se calado, sem responder à pergunta do juiz.

O juiz Carlos Vicente reforçou: "As FAA não são o MPLA, as forças Armadas Angolanas não têm nada a ver com partido, quem deve dar ordens nas FAA não é o presidente de nenhum partido".

Durante o desabafo do juiz, o advogado de defesa do general Zé Maria contestou pelo facto de o magistrado proferir estas palavras à testemunha, mas o resultado foi a recusa do juiz presidente do STM em aceitar o seu protesto, dizendo ao advogado que em outras sessões de julgamento possuirá tempo para protestar.

Devido à discussão em julgamento, o presidente do Supremo Militar, general António dos Santos Neto, encerrou a sessão de hoje, garantindo que amanhã o tribunal irá prosseguir com as alegações.