Numa linha, o lead desta notícia explica-se em detalhe à linha do tempo em que os gráficos pularam para os 79,2 USD, a 22 de Junho, já na parte final do conflito dos "12 dias", para os 67,1 USD na tarde desta quinta-feira, 26, perto das 14:30, hora de Luanda.

Para Angola, como, de resto, para as restantes petroeconomias, este ciclo representa um regresso ao sufoco das contas públicas, que tiveram uns dias de alívio, embora, devido à natureza dos contratos, com um mês, pelo menos, de antecedências, o balão de oxigénio ainda não chegou.

De acordo com os analistas, depois do "salão de festas" que foram os 12 dias de guerra entre o Irão e Israel, iniciada por Telavive a 13 de Junho, quando Teerão foi tacada de surpresa, quando o Irão negociava o seu programa nuclear com os EUA, os mercados voltaram agora a focar as atenções na procura.

Ou seja, na capacidade da economia chinesa absorver a produção, os dados da economia norte-americana, ou até na Índia, outro gigante da economia global onde o sobe e desce da confiança global tem um impacto substancial...

E o resultado, como nota a Reuters, é este: uma queda de mais de 11 USD em cinco dias, para o Brent, a referência principal para as ramas exportadas por Angola, que pode agora voltar a ter de analisar os prós e os contras de uma mexida no OGE 2025, se nada acontecer que volte a levar o ambiente festivo aos mercados.

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos imponderáveis no conflito israelo-iraniano, onde o cessar-fogo vigente tem fragilidades evidentes e pode ser furado a qualquer momento.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.