Não fossem os problemas laborais a afectar a área de carregamento dos portos líbio de Es Sidra e Ras Lanuf e o barril de Brent manteria a trajectória descendente, o que significa que se estes forem resolvidos, o mais provável é começar a crescer um nervoso miudinho entre os países exportadores mais dependentes das receitas petrolíferas, como é o caso de Angola.
No entanto, para já, com o OGE 2025 elaborado a partir de um preço médio de 70 USD, os actuais 77,75 USD, mais 0,85% que no fecho da sessão anterior, garantem um alívio contido face às restantes ameaças que pairam sobre o negócio global da matéria-prima.
É que uma das metas prioritárias do Presidente norte-americano é fazer dos EUA um produtor ainda mais robusto do que já é, com mais de 12,5 milhões de barris por dia (mbpd), eliminando todas as barreiras legais à produção, incluindo as restrições por razões de protecção ambiental...
Com essa esperada subida da produção norte-americana, especialmente no seu extenso fracking, a pressão sobre os preços deverá começar a fazer-se sentir nos próximos meses, porque a OPEP, que já tem em curso um programa audacioso de cortes para controlar os mercados, pode não conseguir ir ainda mais longe na redução.
Para já, uma firewall possível para esse declínio está a crescer na Líbia, onde a Reuters admite que os protestos nos dois portos podem espalhar-se porque, segundo o analista citado pela agência, esse cenário é comum nos últimos anos, colocando mais de 450 mil bpd em risco de ficarem fora dos mercados.
A remar em sentido oposto, além do fade out do frio polar que afecta há semanas a Europa ocidental e boa parte dos EUA, surge a China, com os seus dados da produção industrial a mostrarem dificuldades para o gigante asiático e maior importador global, o que deixa sempre os mercados receosos.
Além disso, tanto os EUA como a União Europeia estão em processo de alargar as sanções sobre o crude russo, alvejando agora os clientes asiáticos, especialmente as empresas chinesas, incluindo as gigantescas refinarias de Shandong.
Com um simples decreto, o 47º Presidente dos EUA, ao mesmo tempo a maior potência económica e militar do mundo, e o maior produtor e consumidor de crude planetário, retirou todas as limitações legais à extracção da matéria-prima.
A grande questão, todavia é a chegada de Donald Trump à Casa Branca, que se mostra ainda mais insensível aos problemas ambientais agora que durante o seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021, com o seu já famoso "drill, baby drill".
E se já se sabia que assim seria, porque era uma das promessas mais repetidas desde a campanha eleitoral para as eleições de 05 de Novembro, os mercados ainda estavam com dúvidas, porque se trata de uma catástrofe para o ambiente e os esforços mundiais para combater as alterações climáticas.
Donald Trump não é nem foi sensível aos avisos da comunidade científica ou das organizações internacionais, desde logo a ONU, e foi avante com o seu cantado "drill. Baby drill", que é como quem diz, explorar crude e gás onde ele estiver enterrado, do Alasca ao Texas, sem limitações ou pudor...
O efeito foi imediato, porque com um aumento esperado da produção nos EUA, que já ronda os 13 milhões de barris por dia (mbpd), de longe o maior produtor do mundo, a oferta vai aumentar e os mercados sabem que este pode muito bem ser o primeiro passo de uma escalada na produção mundial.
Isto, porque se não houver limites nos EUA, uma das regiões ainda mantidas longe das perfurações, o Ártico, por razões ambientais, pode ser a nova fronteira das multinacionais petrolíferas, com a Rússia, o Canadá e os países europeus a dificilmente ficarem para trás.
E não foi apenas porque os EUA deverão produzir mais em breve que os mercados começaram a arrefecer, foi ainda porque o furacão Trump, no seu "day one", disparou ameaças de novas tarifas comerciais de 25% contra a China, o México e o Canadá, que, normalmente, influenciam negativamente as economias visadas, que reduzem a queima de combustíveis fósseis.
O Presidente dos EUA ordenou às agências federais que investigassem os países com práticxas comerciais danosas para a economia nacional e isso é claro como... petróleo que vai acontecer, já a partir de Fevereiro, porque Trump há meses que fala no seu descontentamento com estes países em particular.
Como Luanda olha para este cenário global?
O actual cenário internacional tende a manter os preços claramente acima do valor médio estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.
Preços estes que estão agora mais longe dos que foram atingidos no pico do ano de 2024, que aconteceu em Abril, quando chegou perto dos 92 USD por barril, quando as contas nacionais respiravam mais à-vontade, embora sem ignorar que ao valor mais alto do crude corresponde uma subida no preço dos combustíveis refinados que o país vai maioritariamente comprar aos mercados internacionais.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.
No entanto, porque o OGE nacional elaborado para 2025 ter apostou nos 70 USD, o actual valor já deixa as contas nacionais mais sólidas, mas nem por isso menos expostas porque qualquer desequilíbrio internacional pode afectar negativamente as contas nacionais.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.