Isto, quando, se o plano anunciado pelo primeiro-ministro israelita estiver a ser seguido à risca, se está no rescaldo do terceiro dia de bombardeamentos, dos 15 previstos para destruir o programa nuclear iraniano, e provocar uma mudança de regime como Benjamin Netanyhau avisou que era um dos objectivos desta guerra.

E se Israel usou os aviões fornecidos pelos EUA, os modernos F-35, bem como os seus meios de abastecimento aéreo, além da intelligentsia norte-americana para desenhar o mapa dos ataques no extenso território iraniano, a resposta de Teerão, ao que tudo indica, está a decorrer, também pela 3ª noite consecutiva, através dos seus misseis hipersónicos de longo alcance e os drones pesados que servem essencialmente para desgastar os sistemas de defesa antiaérea israelita.

Para já, de acordo com especialistas citados em diversos media internacionais, Israel conta com o apoio claro dos Estados Unidos, sendo excepção apenas a participação de forças norte-americanas nos ataques, além do serviço logístico das bases do Reino Unido e da França na região, dando corpo aos acordos que Telavive tem com os seus tradicionais aliados ocidentais.

Já o Irão, que se sabe estar a usar misseis com tecnologia hipersónica, alegadamente fornecida pela Rússia, ao abrigo dos acordos de parceria estratégica assinados nos últimos anos, o que Teerão também tem com a China e com a Coreia do Norte, nenhum dos seus aliados, até ao momento, forneceu material militar que esteja a ser aplicado neste conflito aberto com Israel, embora isso possa vir a acontecer como está definido nos acordos referidos.

Para já, tanto Pequim, através do seu embaixador na ONU, Fu Cong, como a Rússia, igualmente na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, onde é representada por Vasily Nebenzya, acusaram Israel de ter desencadeado um conflito não provocado, ferindo gravemente a Carta da ONU, exigindo a Telavive que pare com os bombardeamentos perigosos ao Irão.

Mas não se conhece em Moscovo ou Pequim qualquer passo além deste tom crítico a Israel, embora o Presidente Vladimir Putin tenha estado ao telefone com Donald Trump por cerca de uma hora a debater a guerra declarada pelos israelitas aos iranianos.

Primeiro, as dificuldades...

Porém, dificilmente estas posições diplomáticas levarão a um fim dos ataques, porque, como, primeiro, o analista de política internacional e geoestratégia e antigo especialista em energia nuclear da Marinha dos EUA, Mark Sleboda, e depois do britânico The Guardian, vieram lembrar que esta guerra lançada por Israel contra o Irão não saiu do nada.

Isto, porque, nota Mark Sleboda, ouvido em vários canais das redes sociais, Israel tem seguido um plano sólido de destruição das capacidades militares dos "proxys" do Irão, desde o Hezbolah, no Líbano, ao Hamas, em Gaza, ou os Huthis, no Iémen, e ainda a Síria, com a mudança do regime de Bashar al-Assad, para abrir caminho a esta "Operação Leão Crescente", que começou por decapitar as chefias militares e seguiu para as instalações do programa nuclear, incluindo alguns dos seus cientistas de topo, que foram abatidos na primeira vaga de ataques.

Se a questão do programa nuclear é a justificação de Benjamin Netanyhau para o lançamento desta operação de grande envergadura, nunca vista no Médio Oriente, o principal objectivo é claramente provocar uma mudança de regime em Teerão, como, de resto, o chefe do Governo israelita sublinhou ao pedir ao povo iraniano que se revolte e que essa revolta contaria sempre com o apoio de Telavive e de Washington, bem como dos aliados europeus de Israel.

Ao fim de três noites de ataques sucessivos, empregando centenas de misseis lançados dos F-35 "americanos", Israel obteve apenas como resposta igualmente três noites de sucessivas vagas de misseis e drones iranianos sobre as cidades e bases militares israelitas, onde os drones e os misseis de cruzeiro servem para abrir caminho aos projecteis hipersónicos que embatem um pouco por todo o Estado hebraico.

De um e do outro lado, embora no Irão o número de vítimas seja incomparavelmente superior, está a morrer gente entre a população civil, o que foi um dos argumentos usados pelo ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi, para dizer que o Irão está disponível para parar os ataques se Israel deixar de atacar o Irão, porque o Governo persa "não quer a expansão do conflito" embora se for forçado a isso, "Israel terá uma resposta devastadora a todas as suas acções militares" contra os iranianos.

Depois, ainda mais dificuldades...

Em Telavive, pelo contrário, Benjamin Netanyhau, volta a insistir no frágil argumento da ameaça nuclear iraniana, garantindo que tem informações que "Teerão visa obter armas nucleares para distribuir pelos grupos terroristas que apoia na região" ameaçando assim a estabilidade global, especialmente os interesses dos EUA, o que é um convite descarado para Donald Trump libertar a máquina de guerra norte-americana contra o Irão.

Isto, apesar de Teerão sempre ter afirmado que o seu programa nuclear é de natureza civil, contrariamente ao israelita, que possui, provadamente, 200 ogivas nucleares, e que já ameaçou, através do ministro da Defesa, Israel Katz, usá-las para destruir a capital iraniana numa bola de fogo.

Além de garantir que o Irão não quer escalar o conflito nem em intensidade nem para a região, o chefe da diplomacia iraniana veio igualmente avisar que é Israel que o está a fazer ao atacar um estratégico campo de gás de South Pars, que é operado em conjunto com o Catar, no Golfo Pérsico, considerando ser esse "um passo muito perigoso e escalatório do conflito", deixando no ar a ideia de que levar a guerra para fora do território iraniano é um propósito demasiado arriscado para Telavive.

Isto, porque, sempre que Israel ameaça o Irão, o que é ciclicamente repetido, e o inverso também, a questão do fecho do Estreito de Ormuz, que separa o Golfo Pérsico do Golfo de Omã (Oceano Índico), por onde passa mais de 25% do crude consumido em todo o mundo, é uma das "armas" mais poderosas de Teerão.

Isto, porque por essa estreita passagem marítima passa 25% do petróleo mundial, toda a produção de gás do Catar, o maior produtor mundial, usa esse caminho, o que resulta na garantia de que o seu bloqueio, que seria muito fácil se os iranianos escolhessem essa via, levaria a uma subida estratosférica do preço da energia, pouco havendo para fazer de modo a impedir que o barril chegasse aos 200 USD, como notam alguns especialistas, sendo esse um golpe fatal na economia norte-americana, por exemplo.

E os EUA são especialmente visados pelas autoridades de Teerão porque, como nota Abbas Araghchi, "de modo algum Israel ousaria despoletar esta agressão gratuita sem o apoio claro dos Estados Unidos da América".

EUA que, como se lembrava aqui, foram uma peça estratégica no plano israelita de atacar o Irão porque serviram de distracção em Teerão através das encenadas negociações sobre o programa nuclear, com a 6ª ronda negocial já marcada para este Domingo, 15, cerca de 48 horas depois do início do ataque israelita ao Irão.

Depois uma abertura ao bom-senso...

Ainda assim, o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros não desiste de manter Washington na linha da diplomacia afirmando, citado por The Guardian, que os norte-americanos devem "condenar sem titubear os ataques israelitas às instalações nucleares do Irão" se quiserem provar que mantém a "boa vontade negocial".

Como sempre sucede, seja qual for o comportamento de Israel, como o demonstra o genocídio em curso em Gaza, os aliados ocidentais de Telavive posicionam-se ao seu lado, como voltou agora a suceder, seja com os EUA a manifestarem total apoio aos ataques, seja com franceses e britânicos a disponibilizarem as suas bases para uso dos meios aéreos israelitas a caminho do Irão.

Abbas Araghchi sugeriu mesmo, numa conversa com diplomatas estrangeiros em Teerão, que o Conselho de Segurança da ONU mostrou uma "inacreditável indiferença" para com os ataques israelitas e os aliados ocidentais de Israel, França, Reino Unido e EUA "conseguiram o incrível feito de condenarem o Irão em vez de Israel" apesar do que está a acontecer à frente dos olhos do mundo.

Apesar deste agravamento do conflito israelo-iraniano, alguma esperança no horizonte começa a emergir, nomeadamente a disponibilidade do Presidente russo, Vladimir Putin, demonstrada na conversa com Donald Trump, para colocar Moscovo a apoiar a continuidade das negociações com o Irão sobre o seu programa nuclear.

Recorde-se que os EUA e o Irão tinham um acordo sólido, assinado pelo então Presidente Barack Obama, em 2015, que Donald Trump desfez no seu primeiro mandato, sem razão conhecida, e que agora permite a Washington colocar-se por detrás destes ataques de Israel em solo iraniano.

Além da Rússia, também a França, o Reino Unido e a Alemanha vieram publicamente colocar-se ao serviço da retoma das negociações, embora tal possa ser interpretado como uma forma de forçar a entrada na sala para onde Putin e Trump não os convidaram, tal como havia sucedido com a Ucrânia, onde os europeus foram claramente secundarizados pelo Presidente norte-americano na sua aproximação ao homólogo russo.