Aos países ocidentais que estão a sustentar o esforço de guerra ucraniano, especialmente aos Estados Unidos, que já fizeram chegar a Kiev 53 mil milhões USD e milhões de toneladas em equipamento militar diversificado, Henry Kissinger, de 98 anos, apontou como caminho a seguir deixar de ter como objectivo estratégico uma derrota da Rússia na Ucrânia.
"Idealmente, o ocidente tem de garantir que deixa de perseguir a derrota da Rússia e consegue acabar com o conflito em menos de dois meses porque, para lá desse prazo, a guerra deixará de ser pela libertação da Ucrânia e passará a ser uma guerra exclusivamente contra a Rússia", disse, citado pelo jornal britânico Telegraph.
Depois de um discurso do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na abertura do Fórum de Davos, onde este voltou a pedir ao mundo que se una para embargar o crude russo, sancione todos os seus bancos e apoie militarmente, como nunca o fez antes, o seu país de forma a que a Rússia não volte, pela força bruta, a interferir na paz do mundo, Kissinger optou por apontar noutro caminho, fazendo jus ao seu cognome de mestre da "realpolitik", conceito que coloca o pragmatismo face aos dados conhecidos à frente de objectivos por vezes considerados mais nobres mas menos exequíveis.
E nesse sentido, o secretário de Estado e Conselheiro dos Presidentes Nixon (1969 - 1974) e Ford (1974-1977), aconselhou o ocidente a deixar de lado "a moda do momento", referindo-se ao apoio incondicional à Ucrânia, e colocar como foco principal não esquecer que a Rússia é uma potência na Europa e que se não o fizer rapidamente, poderá colocar em definitivo este gigante militar e económico, enquanto fonte de recursos naturais insubstituíveis, no colo da China.
Ainda apontou como urgente que Kiev encete negociações com Moscovo para evitar que a situação chegue a um ponto de não retorno com consequências imprevisíveis, acrescentando esperar que "os ucranianos consigam conjugar o heroísmo da sua resistência com sabedoria".
E lembrou que a Rússia é uma "parte essencial da Europa há mais de quatro séculos" o que nenhum líder europeu pode ignorar numa perspectiva de longo termo se não quiserem que Moscovo se vire total e definitivamente para oriente e se alie de forma incondicional com Pequim.
O plano italiano
De Roma chegou aos media a confirmação de que já existe um cansaço impossível de esconder nas capitais europeias, com o Governo de Mario Draghi a enviar às Nações Unidas um plano em quatro fases para acabar com a guerra na Ucrânia.
Segundo o Wall Street Journal, este plano do Governo de Roma passa por, em primeiro, declarar um cessar-fogo para resolver as situações humanitárias e criar espaço e tempo para definir as condições de um acordo de paz definitivo.
Na descrição feita pelo italiano La Repubblica, o primeiro ponto prevê o cessar fogo e a desmilitarização da linha da frente, o segundo passo passa por Kiev assumir, numa conferência de paz, a sua condição de país neutral, a terceira etapa conforma uma declaração bilateral para definir o futuro da Crimeia e do Donbass, prevendo a sua total autonomia, incluindo ao nível da segurança, mas fazendo parte da Ucrânia, enquanto na parte final do plano italiano surge um acordo multilateral de paz entre a Rússia e a União Europeia, que compensaria a saída das tropas do Kremlin com a retirada das sanções.
A resposta do Kremlin veio de Dmitri Peskov, o seu porta-voz, que informou não ter sido ainda recebido tal plano em Moscovo mas apontou que este é aguardado e que se epsera que ele chegue pelos canais diplomáticos, como é normal acontecer.
Também ainda não é conhecida a reacção de Kiev a esta proposta italiana.
Recorde-se que Mario Draghi, o primeiro-ministro italiano, foi presidente do Banco Central Europeu entre 2011 e 2019, sendo alguém que conhece como poocos a siuação da economia mundial, e em perticular a europeia, actual e o impacto devastador que a guerra na Ucrânia está a ter no aprofundamento da crise que já vinha da tempestade pandémica da Covid-19 desde 0 início de 2020.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 4,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.