Numa altura em que a Rússia enfrenta de forma cada vez mais evidente a NATO, liderada pelos EUA, e a União Europeia, na guerra da Ucrânia, uma conversa telefónica profusamente divulgada por Moscovo e Pequim entre Xi Jinping e Vladimir Putin, onde estes reafirmam a solidez da cooperação em matéria de soberania e segurança, só pode ter como interpretação a vontade destes dois países mostrarem ao mundo que a sua ligação está para durar e em todas as frentes.

Desta conversa que tanto o lado chinês, através da agência oficial Xinhua, como o lado russo, via os estatais Tass e SputnikNews, fizeram questão de divulgar de forma mais extensiva que o que é comum, sobressai ainda que tanto Pequim como Moscovo estão conscientes de que têm pela frente uma aliança alargada de países ocidentais liderada pelos Estados Unidos cujas linhas da frente são, a Oeste, a Ucrânia, e a Oriente, o conflito latente entre Pequim e a sua ilha rebelde de Taiwan.

Enquanto a Xinhua preferiu optar pelo destaque da notícia que as relações entre a China e a Rússia mantiveram um consistente vigor face à turbulência global a que se assiste e às transformações em curso na ordem mundial, a Tass lembrava que o líder chinês manifestou a vontade de continuar a exercer um papel construtivo na busca de uma solução célere para o conflito na Ucrânia, enquanto a SputnikNews enfatiza que XI Jinping e Putin demonstraram a sua disponibilidade para se apoiarem mutuamente em questões de segurança e soberania.

De regresso à Xinhua, Xi volta a ser citado como tendo dito que a cooperação económica entre a China e a Rússia verificou sólidos progressos, sublinhando a propósito a nova ponte que une os dois países, no extremo oriente, travessia denominada Heihe-Blagoveshchensk , que abriu um novo e importante canal entre as duas potências globais.

Os chineses, disse ainda Jinping, procuram de forma breve erguer suporte para uma cooperação prática bilateral de longo termo, mantendo no topo das atenções os interesses mútuos no que respeita à soberania e segurança, aprofundando ainda mais a cooperação em questões de maior preocupação com base numa coordenação estratégica sobre temas internacionais e regionais e as respectivas organizações, como a ONU ou os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), entre outras.

Os dois países querem ainda cooperação de forma reforçada em matéria de solidariedade e cooperação económica com os países com mercados emergentes e em desenvolvimento para juntos caminharem em direcção à construção de uma nova ordem mundial e governação mundial erguida com base numa mais justa e razoável direcção que a existente hoje, criada a partir da II Guerra Mundial com base em organizações dirigidas pelos EUA e potências ocidentais suas aliadas.

Sobre o conflito no leste europeu, os dois lideres debateram de forma aprofundada o assunto e Jinping reiterou a sua disponibilidade para que a China mantenha um papel construtivo na busca de uma solução negociada e pacífica sem esquecer os factos e a realidade históricos.

Apesar das criticas feitas pelos países ocidentais a Pequim por não condenar de forma inequívoca a invasão russa da Ucrânia, XI Jinping manteve o curso inicial da sua estratégia e apostou em reforçar ainda mais a sua cooperação com Moscovo, numa clara subida de tom no desafio face aos EUA, especialmente depois das recentes tensões com Washington por causa de Taiwan, e depois, especialmente, das afirmações do Presidente Joe Biden que afirmou de forma clara que não hesitaria em apoiar militarmente Taipei num conflito aberto com Pequim.

Esta permanente afirmação da proximidade entre Pequim e Moscovo é ainda uma evidente resposta ao bloco recentemente criado pelos EUA no Indo-Pacífico, com o Reino Unido e a Austrália (AUKUS), que visa objectivmente fazer face e travar o avanço da China nesta vasta região do mundo, como pode seguir ainda aqui e aqui.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.

A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da

Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...

Milhares de mortos e feridos e mais de 6 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.