Donald Trump e Joe Biden concordaram, do pouco que se soube após a conversa de duas horas entre os dois Presidentes norte-americanos, um a chegar e o ouro a despedir-se sem glória do cargo, que esta passagem de testemunho será suave e harmoniosa.

E foi, aparentemente isso que se viu neste primeiro encontro, com Trump a agradecer o acolhimento, e Biden a manifestar o apreço pela forma harmoniosa com que a conversa decorria... isto, enquanto os jornalistas estavam presentes.

Apesar da gritaria dos repórteres que foram à Casa Branca para tentarem, ingloriamente, obter respostas, especialmente sobre as nomeações já conhecidas para a nova Administração republicana, nem uma palavra tiraram das bocas presidenciais...

Mas passou pouco tempo para se perceber que Trump tinha a resposta na ponta da caneta para o que já sabia que iria ouvir da boca de Biden sobre a Ucrânia, que lhe expressou a sua opinião sobre a necessidade de manter o apoio a Kiev e ao Presidente Volodymyr Zelensky por ser do interesse nacional dos Estados Unidos.

Provavelmente, no momento, Donald Trump, compondo ligeiramente o nó da gravata vermelha, ter-lhe-á dito que responder ao interesse nacional dos EUA é a sua maior prioridade, passando rapidamente ao próximo assunto.

Isto, porque a resposta já estava engatilhada e seria conhecida logo a seguir ao encontro, com a divulgação do nome da antiga congressista democrata e agora feroz aliada de Trump, Tulsi Gabbard, que é uma das vozes mais críticas do Presidente ucraniano, para directora da Inteligência Nacional.

Esta direcção nacional é das mais importantes do país porque gere as 17 agências, incluindo a CIA e a NSA, de recolha e tratamento de informação interna e externa dos EUA, com uma gigantesca influência no desenho das políticas nacionais pela Administração em funções.

Ou seja, depois de serem conhecidas algumas das mais relevantes nomeações (ver links em baixo) para a Administração que a 20 de Janeiro assumirá os comandos dos EUA, contando ainda com a maioria nas duas câmaras do Congresso, Representantes e Senado, a indicação de Gabbard para este cargo coloca claramente a cabeça de Zelensky a prémio.

E ainda com a agravante de que pouco antes tinha sido anunciado o nome de Peter Hegseth, um apresentador de talk shows na Fox News e antigo militar, de apenas 44 anos, para mandar no Pentagono, assumindo o cargo de secretário da Defesa, substituindo o pró-ucraniano Lloyd Austin, sendo ele um crítico do apoio americano a Kiev e um feroz crítico dos países da NATO que não "gastam o que deviam".

Mas o primeiro "tiro" no porta-aviões ucraniano foi a indicação de Marco Rubio, senador republicano da Florida, para assumir o Departamento de Estado e comandar a diplomacia norte-americana.

Isto, porque Rubio tem, segundo relatos dos media norte-americanos, uma posição claramente em linha com Donald Trump sobre a questão da guerra na Ucrânia, que é no sentido de tirar os EUA daquele problema entregando-o à responsabilidade dos europeus, sabendo que isso significa desnatar a capacidade de Kiev em manter a resistência aos russos.

Prova disso mesmo é que Marco Rubio foi um severo opositor aos pacotes de ajuda financeira a Kiev aprovados no Senado, com especial enfoque no último, de 61 mil milhões USD, defendendo que a Ucrânia tem de negociar uma saída para o conflito.

Negou sempre estar ao lado dos russos mas deixou sempre claro que a guerra no leste europeu não é do interesse dos Estados Unidos e apontou sempre no sentido de uma saída negociada para as hostilidades na Ucrânia.

Ora, tudo isto com as duas câmaras do Congresso sob controlo republicano e com pelo menos os 50% de congressistas eleitos nestas eleições de 05 de Novembro escolhidos a dedo por Trump de forma a não se deparar com surpresas ao longo dos próximos anos.

Com este "team" constituído a transição harmoniosa e suave admitida como desejo por ambos os Presidentes não estará comprometida, mas as políticas da Administração Biden no que toca à política externa serão totalmente desmanteladas... e a primeira deve ser a que toca no conflito Rússia-Ucrânia.

Tal é ainda mais previsível sabendo-se que na linha da frente a Rússia ganha novas posições diariamente e as forças ucranianas aproximam-se do limite da sua capacidade de resistência, o que tem levado, como assumem já os media ocidentais, como The Washington Post, Financial Times, entre outros, os aliados ocidentais de Kiev a apostarem agora numa saída negociada para o conflito.

Já para o Médio Oriente, não haverá uma ruptura abrupta mas sim uma escalada flamejante no apoio a Israel acrescentando poder de fogo a Telavive nas suas guerras com o Hamas em Gaza, o Hezbollah, no Líbano e, muito provavelmente, na abertura de uma guerra aberta e total com o Irão, a ramificação mais perigosa do apoio ilimitado a Benjamin Netanyhua já prometido por Donald Trump.