Os media internacionais andam, desde que o Irão, a 01 de Outubro, disparou sobre Israel dezenas de misseis hipersónicos que penetraram facilmente as até então inexpugnáveis defesas antiaéreas israelitas, a tentar perceber a data e a dimensão da resposta de Telavive.
Nas últimas horas ficou-se a saber que será uma resposta "precisa, letal e surpreendente", o que coloca na mira das Forças de Defesa de Israel (IDF) a infra-estrutura nuclear iraniana, a sua indústria petrolífera e, eventualmente, as figuras de proa do regime de Teerão.
Mas também foi possível perceber, depois de uma avalanche de notícias sobre conversações entre a Casa Branca e o Governo de Benjamin Netanyhau, retractando os esforços do Presidente norte-americano para conter a resposta israelita e, assim, reduzir o potencial de escalada no conflito no Médio Oriente, que essa acção punitiva de Israel vai ter lugar nas próximas 72 horas.
Isto, porque, em Telavive não se poderia correr o risco de que a, igualmente já certa e esperada, resposta do Irão tivesse lugar no decurso do Yom Kippur, o dia mais sagrado do calendário religioso judaico, onde o país para para jejuar e recolher no "Dia do Perdão", podendo as populações ser apanhadas de surpresa e em modo mais de reflexão que de atenção.
Mas, depois do Yom Kippur, que se celebra este ano - a data nunca é fixa - entre o entardecer desta sexta-feira, 11, e o início da noite de Sábado, 12, Israel não deverá protelar por muito mais tempo o ataque ao Irão, ficando apenas por saber até onde poderá ir a fúria israelita.
Isto, porque, em quase todos os media norte-americanos, nos últimos dez dias, os destaques do noticiário internacional são o furacão diplomático entre Telavive e Washington onde a Casa Branca procura conter a resposta israelita.
Deflagrar agora uma guerra aberta entre Israel e o Irão seria um desastre para a campanha eleitoral da candidata democrata e vice-Presidente Kamala Harris, porque, de imediato e sem dúvidas, os Estados Unidos seriam levados na enxurrada para a guerra no Médio Oriente.
As consequências seriam trágicas para a economia mundial e a dos EUA em particular, sendo como é uma das mais afectadas pela alta do preço do petróleo, a consequência mais imediata de um cenário de conflito aberto naquela região de onde sai diariamente 35% do crude consumido no mundo.
Por detrás deste contexto abrasivo estão, no que se pode ver através dos media, chamadas sobreaquecidas entre Biden e Netanyhau, "aos gritos", revelava o Politico, uma alegada birra de Netanyhau em não deixar o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, viajar para os EUA sem pré-condições, e o, como agora parece mais claro, cancelamento da deslocação do Presidente americano à Alemanha e a Angola devido a este "furacão" e não ao furacão "Milton" como foi justificado.
A linha do tempo que trouxe o mundo para este beco de saída muito, muito apertada pode ser definida a partir de 2020, quando, em Bagdad, um míssil norte-americano, com apoio da Mossad israelita, matou o então comandante do Corpo da Guarda Revolucionária do Irão (IRGC, sigla em inglês), e herói nacional, o general Qassem Soleimani.
Que teve como capitulo seguinte, em Abril, o ataque cirúrgico de Israel ao consulado iraniano na Síria, onde foram mortos dois importantes generais da CGRI, tendo depois, em finais de Julho deste ano, saltado para a morte em Beirute, Líbano, do general Fuad Shukr, comandante militar do Hezbollah, e, quase na mesma hora, de Ismail Haniyeh, líder do Hamas, em Teerão, num enxovalho inesquecível para o Irão, sendo convidado de honra para a tomada de posse do novo Presidente Masoud Pezeshkian.
A culminar esta longa lista de assassinatos de elementos da estrutura militar do Irão ou de aliados na região, está a morte do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em Beirute, a 27 de Setembro, que levou o Irão a lançar uma vaga de misseis hipersónicos que deixou em cheque a mítica defesa antiaérea de Israel.
Logo após os mais de 200 misseis, crê-se que cerca de metade hipersónicos, terem voado do Irão para Israel, numa distância de cerca de 1500 kms em pouco mais de 10 minutos, entre cinco e oito vezes a velocidade do som, em Telavive, Benjamin Netanyhau disse que a resposta não tardaria, e seria devastadora.
Para os EUA e países europeus aliados de Israel, se Israel não se contiver na reacção, que está igualmente ligada a um novo ataque iraniano ainda mais poderoso, como o aiatola Ali Khameni avisou igualmente, o problema é a impotência que parece existir para evitar que o Médio Oriente se transforme numa bola de fogo sem pararelo.
Não é segredo para ninguém, e o Presidente dos EUA repete-o insistentemente, Washington vai estar sempre ao lado de Israel, tendo, para deixar isso claro, dois porta-aviões nucleares na região, apoiados por dezenas de navios de guerra e submarinos, além de centenas de aviões de guerra em bases na Arábia Saudita, Bahrein, Kuwait ou EAU...
Mas também já não é segredo que o Irão conta com o apoio da Rússia e da China, países com quem integra os BRICS e com quem formalizou acordos de segurança e cooperação militar robustos, o que alarga substantivamente o risco de um alastramento de um conflito regional para uma III Guerra Mundial.
A compor este cenário dramático, que pode sofrer uma evolução catastrófica já a seguir ao Yom Kippur, o Irão já avisou, através do comando da sua Guarda Revolucionária, que os países da região onde existem bases norte-americanas, britânicas e francesas, devem pensar bem no que permitirão fazer aos seus "hospedes", bem como deixar ou não Israel usar o seu espaço aéreo para ataques ao Irão.
Com esta evolução no mapa das hostilidades, até Domingo manter-se-á o turbilhão diplomático para evitar o pior, mas depois, é quase certo que Israel lançará a sua fúria sobre o Irão, que ripostará também com nova vaga de misseis hipersónicos sobre Israel... Como todas as guerras, sabe-se como começam, ninguém sabe como acabam...
Se os ataques iranianos são já conhecidos e não terão outro formato além do lançamento de vagas de misseis hipersónicos, drones e misseis balísticos convencionais, Israel tem outras soluções.
Desde logo os misseis Jericho 2 e Jericho 3, balísticos, criados para lançamento de ogivas nucleares, com alcance que vai dos 750 kms aos 1.300 kms, através de unidades de operações especiais conduzidas pela Mossad ao uso da aviação, podendo, com os norte-americanos F-35, sobrevoar o Índico e o Golfo Pérsico, com reabastecimento aéreo, e guiamento de satélite, bombardear alvos dentro do Irão.