Este assalto à prisão de Kakwangura, na cidade de Butembo, na província do Kivu Norte, teve lugar no mesmo dia em que o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, esteve em Kinshasa - hoje está no vizinho Ruanda - para encontros com o Presidente Félix Tshisekedi, onde, em cima da mesa esteve a questão da tensão com o Ruanda por causa do alegado apoio de Kigali aos guerrilheiros do M23 que actuam no leste congolês.
A maior parte dos detidos libertados são elementos da ADF e a intenção, segundo as autoridades congolesas, além de libertar os seus parceiros, foi integrar os restantes libertados nas suas fileiras.
Pelo menos dois polícias e um dos assaltantes foram mortos nesta acção da ADF.
Dos cerca de 900 prisioneiros que estavam nesta prisão, apenas 50 optaram por não fugir.
O deslocamento da influência do "estado islâmico" da África oriental para os Grandes Lagos, tomando, em 2019, as rédeas da ADF, um grupo de guerrilha com origem no Uganda, criado na década de 1990, é uma fonte de preocupação extra para as autoridades de Kampala e de Kinshasa.
Os bispos católicos do Congo, através da Conferência Episcopal do país, a CENCO, têm chamado a atenção para a grave situação que o país e a região dos Grandes Lagos estão a viver com a islamização radical das populações nos territórios onde esta guerrilha espalha o terror sob comando de lideres fieis ao "estado islâmico".
A região, como o Novo Jornal tem noticiado (ver links em baixo, nesta página), vive actualmente um dos seus períodos mais violentos devido à acção das várias guerrilhas que actuam no leste do Congo, especialmente nas províncias dos Kivu, Norte e Sul, e Ituri, destacando-se a ADF, os ruandeses da FDLR ou o M23, que ao fim de vários anos de recato, voltaram a emergir com extrema violência.
Neste momento, o M23 está na génese de uma crise grave entre a RDC e o Ruanda, com trocas de tiros, inclusive, entre os dois exércitos, e com os congoleses a acusarem os vizinhos de estarem a apoiar logisticamente os guerrilheiros, a quem fornecem protecção e refúgio.
Com o Presidente angolano no centro de um esforço regional para diluir as tensões entre estes vizinhos escaldantes da Região dos Grandes Lagos, também os EUA, como o atesta a deslocação de Blinken a estes dois países, na quarta-feira, em Kinshasa, e hoje, em Kigali, se mostram preocupados.
Antony Blinken, manifestando o apoio de Washington ao esforço em curso por Angola e o Quénia para reduzir a tensão, admitiu em Kinshasa que existem provas do apoio ruandês aos rebeldes do M23, exigindo que esse apoio termine.
Por detrás deste contexto de extrema gravidade, que levou já à morte de dezenas de militares das Forças Armadas da RDC (FARDC) em confrontos com o M23, segundo algumas organizações internacionais, está a exploração ilegal dos recursos do subsolo congolês, especialmente coltão, mineral estratégico para as indústrias tecnológicas cuja maioria - mais de 80 por cento - das reservas mundiais está neste país, e o cobalto, entre outras, como as denominadas "terras raras", por parte dos vizinhos Ruanda e Uganda, países que aproveitam a violência guerrilheira como camuflagem para extrair estas matérias-primas que depois exportam como produção própria.
Esta visita de Antony Biinken dificilmente pode ser deslocada da disputa global por estes minerais estratégicos onde os EUA e a China procuram dominar o seu acesso e a RDC é detentora de mais de 80% das reservas mundiais de coltão, sem o qual não é, ainda possível, fabricar aparelhos como smartfones (telemóveis), laptops, etc e tem uma importância indelével noutras áreas das tecnologias de ponta, como a produção de circuitos integrados electrónicos.