Depois do desaire que foi o cancelamento da Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da NATO, que estava prevista para Sábado, 12, na Alemanha, devido à ausência do Presidente dos Estados Unidos, Zelensky procura recuperar a dinâmica de vitória entre os aliados europeus.
Com passagens previstas pelo Reino Unido (na foto, com o primeiro-ministro britânico Keir Starmer), e pela França, Itália e Alemanha em apenas 24 horas, foi, no entanto, na Croácia, na quarta-feira, que Volodymyr Zelensky surpreendeu ao afirmar que vai ganhar a guerra em 2025 e que ainda em 2024 isso ficará visível no campo de batalha..
O presidente ucraniano tem afirmado que a única saída para o conflito é a derrota da Rússia, com a saída de todos os seus militares das fronteiras ucranianas de 1991, aquando da independência da então URSS, como é reconhecido pela comunidade internacional.
Mas agora, numa cimeira em Dubrovnik, na Croácia, com países do sudeste europeu, Zelensky definiu, pela primeira vez com clareza, um timing para acabar com o conflito, embora não tenha sido tão claro na explicação sobre a fórmula com que pretende conseguir esse objectivo.
Nas últimas semanas, o seu foco tem sido o "plano de vitória" que foi apresentar ao Presidente dos EUA em finais de Outubro mas que correu mal, a ponto de os media norte-americanos terem, em uníssono, definido o documento sem surpresas e vazio de sentido.
Foi, depois, possível perceber que o plano consistia no convencimento de Joe Biden forçar a entrada imediata da Ucrânia na NATO e na autorização para Kiev usar os misseis de longo alcance fornecidos por EUA, França e Reino Unido para atacar a Rússia em profundidade.
Como nada disso lhe foi concedido, Zelensky anunciou que tem outra versão do "plano para a vitória", alterado em função do que lhe foi dito sobre a primeira versão pelos aliados ocidentais e que o iria apresentar na Cimeira de Ramstein, que acabou cancelada devido à ausência de Joe Biden, retido na Casa Branca, oficialmente, pelo furacão "Milton".
Com o desaire da ausência de Biden, Zelensky não baixou os braços e deu início a um périplo pelas capitais europeias de quem tem recebido mais apoio, o Reino Unido, a França e a Itália, voltando a surpreender ao fixar uma data para chegar à vitória e acabar com a guerra.
"Em Outubro, Novembro e Dezembro, temos a oportunidade real de alterar a situação em direcção à paz e a estabilidade de longo prazo", disse Zelensky na Croácia, acrescentando que "a situação no campo de batalha cria uma oportunidade para fazer uma escolha pela acção decisiva que permita acabar com a guerra sem tardar em 2025".
Como o vai fazer, não disse, o que permite concluir que mudou apenas a forma de derrotar a Rússia, porque esse objectivo permanece inalterado desde o início da invasão russa, em 24 de Fevereiro de 2022.
E uma explicação seria quase obrigatória considerando que a actual situação na linha da frente, como é já admitido pelos media ocidentais aliados de Kiev, evolui claramente a favor da Rússia, com cidade após cidade a cair para o lado de Moscovo nos últimos meses.
É, no entanto, perceptível nas palavras de Zelensky que a vitória que espera é resultado da recuperação do volume de apoio militar e financeiro que a Ucrânia tinha dos países da NATO em 2022 e 2023.
"Contamos com a liderança do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, contamos com os passos poderosos e inteligentes do Reino Unido, da França, da Alemanha e da Itália, que, todos juntos, trarão paz e segurança à Europa. Contamos com todos..." disse.
Alguns analistas já se referiram a estas palavras de Zelensky como uma "fuga em frente" para manter sobre si os holofotes mediáticos, quando as atenções estão mais no conflito no Médio Oriente, até porque, embora Joe Biden tenha justificado ficar em Washington com o furacão "Milton", a verdadeira tempestade que o reteve está a formar-se entre Israel e o Irão.
Isto, porque, com uma situação crítica na frente de guerra, onde as unidades ucranianas perdem cidade após cidade, e com a redução substantiva do apoio dos seus aliados europeus, onde o chanceler Olaf Scholz já surpreendeu pedindo negociações com a Rússia, não é fácil a Zelensky justificar tamanho optimismo.
Não é fácil, mas é possível, sendo que apenas com uma mudança drástica na postura da NATO, passando a organização a entrar directamente na guerra, ou através dos seus Estados-membros, como o Presidente francês chegou a propor, é que uma derrota da Rússia seria exequível, a prazo, porque tal cenário levaria o mundo para a III Guerra Mundial e uma catástrofe nuclear sem paralelo de onde só restariam derrotados.
Se essa mudança radical entre os países europeus contidos neste périplo do Presidente ucraniano, que em 24 horas o levará ao Reino Unido, a França, à Itália e à Alemanha, vai acontecer ou não, só depois de concluído se saberá, mas os analistas apostam que Zelensky vai regressar a casa de mãos a abanar.
Isto, porque o apoio a uma solução negociada é cada vez mais flamejante entre os países europeus, especialmente atingidos por crises económicas severas que são cada vez mais percepcionadas pelos seus povos como sendo resultado das sanções aplicadas à Rússia.
Isto, porque Moscovo deixou de fornecer petróleo e gás baratos à Europa Ocidental e que sustentavam boa parte da competitividade da indústria alemã, o motor económico da União Europeia, agora em colapso, mas também da italiana, francesa e britânica.