A organização dos organizadores visa a avaliação minuciosa da situação para que se possam estabelecer os processos que conduzirão à eficiência das soluções e com isto a garantia da sua eficácia. Sem que isto seja encarado como ponto prévio a gestão será desastrosa, não cumprirá nenhum objetivo de grandeza nem será nunca patriótica e no limite repetir-se-á, ad aeternum, a desgraça de o focinho de porco ser confundido com a tomada de electricidade.

O País atravessa um dos seus piores momentos em tempo de paz. O desgaste da imagem do MPLA é visível em todos os cantos, seja pela ausência de soluções para aliviar o povo da penúria, seja pela incapacidade de perceber o significado das prioridades. Não temos uma única boa notícia (não falo das notícias exaltadas por certos meios de comunicação social, deselegantemente alinhados, que ao País não prestam nenhum serviço porque vendem gato por lebre).

A miséria que à vista desarmada engasga o olhar, não tem repercussões no seio do poder. Ela é invisível. Relativa. Incómoda. E mal-agradecida. Mas cabe lá na cabeça de alguém, no seu saudável estado mental, gastar mais de 35 milhões de dólares em drones, bandeiras, outdoors, campanhas mediáticas, fogo de artificio, construção de obeliscos nas zonas urbanas, entre outros actos que não se comem, para promover o "orgulho nacional e reforçar a identidade cultural".

Mas que orgulho pode ter um povo que há 50 anos nunca teve direito a duas refeições por dia? Que orgulho pode ter um povo que bebe água castanha e que vive uma luta inglória e solitária contra a cólera e malária? Que orgulho pode ter um povo cuja educação não serve para libertá-lo por não servir o propósito do futuro que precisamos de construir? Um país que está mergulhado na mendicidade institucional e em todas as esquinas. Orgulho de quê????

O orgulho de um povo constrói-se quando cada família tem um teto. Quando a saúde não é uma miragem e o acesso aos medicamentos é acessível porque o salário é real, robusto e não uma mentira. O orgulho é garantido quando o saneamento não é um luxo e existe para ricos e pobres. O orgulho nacional é visível quando o poder judiciário é independente e não se submete às ordens de nenhum outro poder. Quando a Constituição é escrupulosamente cumprida. Quando o eleitor é menos importante que o cidadão.

Entre os drones e a cólera, o Poder escolheu os drones e o resto do circo que vinha no pacote. Que se lixe a cólera. Havemos mesmo de morrer de qualquer coisa, assim mesmo tanto faz. As majestosas festas no coliseu/circo romano não impediram Roma de cair, não obstante Roma ter água canalizada e esgotos há 4 mil anos. Não há capacidade para enganar todos ao mesmo tempo, durante muito tempo. Um dia as pessoas vão-se cansar seriamente. Cansar da falta de respeito. Cansar da dor diária. Da fome. Da sua precária cidadania feita de esmolas.

Angola tem de sair deste círculo vicioso. Tem de ser capaz de se desnudar desta roupa sem sentido que lhe cobre a grandeza. Tem de ser capaz de construir um círculo virtuoso que nos conduza para um patamar de dignidade humana, capazes de usufruir dos nossos recursos naturais com sabedoria e responsabilidade para que possamos de facto ser independentes sem novos "colonizadores".

Vamos comemorar 50 anos sem glória, com fome, descalços, analfabetos e com milhões de angolanos sem registo de nascimento. 50 anos sem uma definição clara de futuro porque disparamos em todas as direções e não acertamos em nenhum alvo. 50 anos sem capacidade para combater o ódio, a intriga e a corrupção. Vamos fazer desta data um momento de profunda reflexão interior, sem luxos, para olhar para novas soluções que sejam capazes de nos devolver a esperança e a união nacional.