Já se passaram mais de dois anos e meio desde que a Rússia iniciou a sua invasão em grande escala à Ucrânia, no dia 24 de Fevereiro de 2022, em clara violação da Carta das Nações Unidas e do direito internacional. Esta invasão foi um flagrante acto de desrespeito pelos princípios fundamentais da soberania e da integridade territorial que são fundamentais para a igualdade soberana de todos os Estados, grandes e pequenos. Princípios estes que têm sido defendidos pela grande maioria dos Estados nos diversos fóruns internacionais.

É um facto que o mundo enfrenta várias crises internacionais, mas poucas tiveram - e continuam a ter - um impacto tão devastador quanto a invasão russa à Ucrânia. Os efeitos desta guerra não se fazem sentir apenas na Ucrânia e nos países vizinhos, mas também estão a afectar outras regiões, incluindo África, através de perturbações nas cadeias de abastecimento de bens essenciais, como alimentos.

Vários relatórios mencionam o impacto da invasão russa na subida de preços em vários países africanos. As Nações Unidas e o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertam que desde o início de 2022, os preços do trigo e do milho aumentaram cerca de 30% e os preços dos fertilizantes mais do que duplicaram. Essas subidas nos preços de bens essenciais não estão apenas a empurrar mais pessoas para a catástrofe da fome, mas também a elevar as taxas de pobreza e a intensificar as chances de agitação social em vários países do continente.

A guerra russa contra a Ucrânia tem gerado igualmente receios do agravamento de divisões e tensões geo-politicas que podem afectar não apenas as relações entre Estados, mas também os fluxos de financiamentos e investimentos, tão necessários para a geração de emprego e para a criação de riqueza.

A Noruega e a grande maioria dos países europeus, bem como muitos outros países em todo o mundo, continuam a condenar a guerra ilegal de agressão da Rússia contra a Ucrânia nos termos mais fortes possíveis. A Rússia deve pôr termo às suas hostilidades e retirar as suas forças imediata e incondicionalmente do território da Ucrânia, dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas.

É bem conhecido o fenómeno da "saturação da crise" na cobertura mediática, em que as crises existentes se desvanecem depois de algum tempo e recebem menos atenção do público. Mas devemos recordar que a guerra da Rússia contra a Ucrânia não dá sinais de abrandar e que já custou a vida a dezenas de milhares de civis ucranianos, que se adicionam ao alto número de soldados de ambos os lados.

De uma população de 41 milhões de habitantes, a ONU estima que a guerra tenha causado 3,7 milhões de deslocados dentro da Ucrânia e que mais de 6 milhões de ucranianos sejam agora refugiados noutros países. Até agora, estima-se que 65.000 ucranianos procuraram refúgio só na Noruega e o número continua a crescer. Uma crise que tem desviado recursos que podiam ser usados - e anteriormente eram usados - para atender outras situações de emergência em outras regiões do planeta.

Os ataques russos continuam a causar graves violações dos direitos humanos, destruindo vidas e meios de subsistência. Em meio aos implacáveis ataques de Moscovo à infra-estrutura civil da Ucrânia - causando extensos danos a instalações de energia, comprometendo o fornecimento de água em certas áreas e interrompendo o acesso à electricidade para milhões de civis - a prestação de assistência humanitária é cada vez mais perigosa.

Do ponto de vista da Noruega, e tal como formulado pelo Primeiro-Ministro Jonas Gahr Støre, apoiar a liberdade da Ucrânia é também uma questão de liberdade nossa. Trata-se de defender os princípios básicos da democracia e do direito internacional. A Noruega apoiará a Ucrânia e contribuirá sempre que possível para satisfazer as necessidades do país durante a guerra, incluindo nos esforços para um futuro acordo de paz e na reconstrução do país. Para a Noruega, o apoio à Ucrânia é um investimento na liberdade, na democracia e na segurança, não só na Europa, mas também num contexto global.

A Noruega prometeu 75 mil milhões de coroas suecas (7 mil milhões de dólares) em ajuda militar e civil à Ucrânia para o período 2023-2027, com o financiamento atribuído anualmente de acordo com as necessidades da Ucrânia. Segundo as estimativas, mais de 50% da capacidade de produção de energia da Ucrânia foi destruída. Tal como anunciado pelo Primeiro-Ministro em Junho, uma parte significativa do apoio irá, por conseguinte, ajudar a reparar a infra-estrutura energética ucraniana e a garantir o aprovisionamento de electricidade do país. Além disso, a Noruega e vários outros países decidiram fornecer acesso a aviões de combate, o que permitirá ao país se defender melhor contra ataques russos. Portanto, não se trata de promoção da guerra, mas de apoiar um país no seu direito de se defender contra uma agressão ilegal e ilegítima.

O futuro é incerto. Não sabemos o desfecho da guerra de agressão que a Rússia está a travar, mas há o perigo de que perdure. A Ucrânia continuará a necessitar de apoio e solidariedade internacionais também no futuro, seja em termos de ajuda militar ou humanitária, seja na votação de resoluções importantes na Assembleia-Geral das Nações Unidas. Esperamos que o apoio internacional possa, eventualmente, ser mais orientado para o que todos queremos, a reconstrução de uma Ucrânia livre. Um dia tem de haver um tratado de paz. A própria Ucrânia tem de definir quando e com que base pode ser concebida uma resolução de paz.

*Embaixador do Reino da Noruega em Angola