Não duvidamos dos esforços que as instituições angolanas desenvolvem em várias frentes, no domínio das finanças, desde logo a braços com uma dívida elevada, e no plano interno com olhos postos na diversificação da economia.
Relativamente às finanças, é de sublinhar o esforço e a coerência seguidos pela ministra da pasta, Vera Daves, para a amortização da dívida e da articulação com o Banco Central, presidido pelo governador José Massano, quanto à política monetária.
O mesmo se diga quanto à reiterada intenção da diversificação da economia.
Convém, a propósito, sublinhar que Angola é dos países do mundo com maior potencial agrícola, o que dá por si só conta da decisiva importância do sector primário da economia.
No passado, Angola foi, em vários produtos agrícolas, dos principais exportadores mundiais e nalguns casos mesmo o primeiro.
Daí que, face à elevada percentagem de bens alimentares que Angola hoje importa, perante taxas de juro anormalmente elevadas nos empréstimos para o sector primário, dissuasoras do investimento, parece estarmos perante uma pescadinha de rabo na boca, como a que existe no círculo vicioso da pobreza.
Há, pois, que perguntar, para além dos esforços das instituições angolanas na resolução desta questão, se não se deve reflectir sobre outros indicadores.
É que o aumento populacional em Angola, na percentagem tão expressiva como existe, não é proporcional ao crescimento económico.
A esta realidade acresce que uma parte significativa da população é muito jovem, cerca de 45% do total, representando a que está em idade de trabalhar 52%, sendo a idosa de 2,5%.
Este quadro por si só reflecte preocupações acrescidas a justificar muita atenção, tanto mais que o crescimento económico deve ser superior ao crescimento demográfico.
Não sendo ave de mau agouro e acreditando nas mais do que óbvias potencialidades de Angola e na comprovada determinação do seu povo na justa luta por um maior e melhor desenvolvimento humano e no esforço já referido das instituições públicas, há necessidade de respostas à supra-invocada quadratura do círculo entre o crescimento populacional e o crescimento económico, que conduza ao reforço da confiança de todos os agentes económicos.
Essa confiança assenta no pressuposto de uma maior e melhor transparência e eficácia da administração pública na interacção com os referidos agentes económicos e, desde logo, com as empresas, que são quem cria riqueza, razão por si só bastante para que as obrigações contratualizadas pelo Estado, incluindo a regularização das dívidas, sejam atempadamente cumpridas.
Sendo isto muito importante, é, porém, absolutamente primordial para que a efectiva diversificação da economia, que deve assentar no sector primário, venha a beneficiar de um quadro que responda também à existência de infra-estruturas adequadas ao transporte dos bens, com uma cadeia de frio consistente para a sua preservação.
Nunca é de mais sublinhar que Angola tem potencialidades invulgares e excepcionais, à escala planetária, para dar respostas à tão necessária e efectiva diversificação da sua economia.
Mas porque a economia é um meio e não um fim, a palavra transformadora para este objectivo pertence à política e à visão global a longo-prazo dos objectivos a alcançar, que não podem ser outros senão o desenvolvimento humano para bem-estar e qualidade de vida do seu povo.

Essa palavra é dos políticos que têm essa responsabilidade, num quadro tão difícil e complexo que os impedem de falhar.

*Secretário-geral da UCCLA)