Na época, o pragmatismo dos ingleses apontava para uma única via, o escoamento ao Oeste pelo Oceano Atlântico, passando por Angola; ou seja, a construção do CFB que, por conseguinte, representou poupança de 500 quilómetros de transporte terrestre a Leste e 3000 milhas de transporte marítimo.
Volvidos 119 anos desde a fixação do primeiro carril, o CFB tem um novo concessionário. Do ponto de vista técnico e estrutural apresenta-se um Corredor preparado e cumpre com as normas impostas pela associação de ferrovias africanas. E, naturalmente, as expectativas dos angolanos face ao aproveitamento do potencial do Corredor são legitimas. Entretanto, há riscos que podem não ter sido calculados e que podem gerar um cenário pessimista que em curto-médio-prazo poderá inviabilizar o Corredor. Pois, e parafraseando Camões, "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. E o poder, o capital, a tecnologia e a confiança deslocaram-se" para o Sudeste de África.
A assinatura do Memorando de Entendimento entre o Governo Chinês e o Governo da Tanzânia sobre a promoção conjunta da construção do Cinturão Económico da Rota da Seda e a Rota da Seda Marítima do século XXI vem promover activamente a modernização e construção da ferrovia Tanzânia-Zâmbia. Igualmente, na fronteira de Cassambalessa, com um tráfego de 1.200 camiões/dia, ficou firmado um acordo entre RDC & Zâmbia de redução de taxas aduaneiras, sendo o destino das mercadorias o porto de Durban. Vale (re)lembrar que os chineses detêm 90% das concessões das minas de cobre do Kolwezi (RDC). E subestimar a capacidade de realização do Dagrão chinês é, no mínimo, pura arrogância com consequências dramáticas.
Ficam evidentes as dificuldades que o novo concessionário terá. Onde obter escala que o permitam alcançar a rentabilidade esperada? Sendo que as minas de cobre na Zâmbia apresentam valor residual, onde obter capital para extensão do ramal Luacano-Gimbo? Há muitas dúvidas sobre como será garantida a viabilidade económico-financeira do Corredor do Lobito. Qual é a estratégia alternativa? Tornar o poderoso dragão subconcessionário numa concessão que, segundo o critério de classificação (Valor Actual Líquido), apresentou a mais "indecente" e irrecusável proposta. Parece ensinar ao vigário a missa.
Portanto, se no passado o crescimento/desenvolvimento económico dos territórios vizinhos "dependia" do Corredor do Lobito, hoje, seguramente, haverá outras alternativas que, do ponto de vista da rentabilidade financeira, podem apresentar-se viáveis e confiáveis. Deste modo, o futuro do Corredor do Lobito ficará dependente da dinâmica desenvolvimentista local, uma vez que o nível de desenvolvimento das economias estrangeiras vizinhas é fraco, que justifiquem o uso dos nossos portos e caminhos-de-ferro mas também do que adquirirem os países do Ocidente, com quem se vão relacionar.