No entanto, depois do alcance da paz em Angola, emergiu na sociedade, uma nova maneira de se fazer ouvir a voz dos descontentes, com alguma arte e criatividade, este ingente exercício tem sido, geralmente, capitaneado por jovens que representam a franja descomprometida com as alianças e amarras políticas de circunstâncias, assumindo de peito aberto e de viva voz, sem qualquer procuração administrativa, a linha amarela no que às reivindicações sociais diz respeito.


Foi precisamente em 2002 que um grupo de estudantes universitários em Luanda delimitou com clareza o seu território comunicacional, com a realização da primeira manifestação estudantil «despadronizada», ou seja, à margem dos padrões até então tolerados pelas autoridades administrativas locais, alterando substantivamente a forma até então habitual de se manifestarem.


Com advento das redes sociais, o mundo passou realmente a ser uma aldeia global, onde o que acontece em qualquer parte do planeta, num instante, todos ficamos a conhecer, de maneira que hoje os lugares inóspitos estão perfeitamente descobertos, até mesmo as agulhas deixaram de ter espaços de escapatória labiríntica.


Este novo território comocional alternativo veio alterar, substantivamente, a forma de se fazer activismo, hoje mais do que força e vontade, agregaram-se outros elementos, como a arte e criatividade, que, por sua vez, configuram a materialização de um artivismo social bem-sucedido e com alcance global.
Tal como defende o Prof. Paulo Raposo, a efectivação deste fenómeno permeia a criatividade ao serviço da camada mais insurgente da sociedade, no caso angolano, acreditamos, que esta nova forma de se fazer activismo com arte, passou a ter materialidade com os «novíssimos movimentos sociais» que despontaram em 2011, com o Movimento Revolucionário do Povo Lutador de Angola (MRPLA), cuja virtude de razão dos seus promotores se deveu ao esgotamento da esperança em termos de um País promissor para actual e futuras gerações de angolanos, que legitimamente anseiam, por uma expectativa de vida mais acalentadora, para si e os seus.


Entretanto, este movimento, com o passar do tempo, foi tendo outras formulações, como Revús, nome atribuído pelos jornalistas e agentes da comunicação social, em função da resiliência dos seus protagonistas. Importa, igualmente, sublinhar que o mote que alicerçava aquela forma de proceder passava também pelo seguinte lema: "Estamos cansados das injustiças e da falta de interesse dos nossos governantes que, para além de perpetuarem a exploração ao povo, perderam o sentido de criatividade e inovação".


Por conseguinte, chegados a 2017, ano da tão esperada mudança de Titular do Poder Executivo, houve um arrefecer do ímpeto dos " insurgentes", sendo certo que chegaram mesmo a depositar algum benefício da dúvida, ao novo inquilino do Palácio da Cidade Alta, na expectativa, e até mesmo esperança de que, com a sua administração, haveria uma nova forma de actuação, visando os desejos ardentes dos angolanos, que é, efectivamente, a melhoria das suas condições sociais dos angolanos.
A falta de emprego para juventude e o "desnorte" do governo ao conseguir atender a demanda social, alimentou e fez ressurgir o clima de contestação social que se verificavam no largo, histórico e inesquecível consulado do presidente JES. Estes novíssimos movimentos sociais (NMS), reinventaram-se, de forma insurgente, em função do esgotamento do período de tréguas, dado ao presidente JLO, para materializar às promessas eleitorais de 2017.


Por sua vez, a actuação desses NMS, depois do virar do figurino político angolano, fruto do acalentar da esperança dos jovens, levando-os a adoptar uma forma diferente de agir na sociedade, criando organizações especializadas, com vista a ajudar o despertar dos valores da cidadania, como são os casos da criação de organizações como a Placa - Plataforma do Cazenga, cujo mote da sua actuação passa por demonstrar as vantagens da implementação das autarquias, sendo certo que o Titular do Poder Executivo fez deste processo uma das suas promessas eleitorais mais elementares em 2017.
Ainda no quadro das organizações enérgicas nacionais, perfilam grupos e movimentos de pressão, como são os casos do MEA - Movimento dos Estudantes Angolanos, que se reinventou, tornando-se mais actuante, é seguramente, no decano dos movimentos sociais, cujo impacto das suas acções continua a merecer lugares cimeiros na comunicação social, há ainda alguns grupos de mulheres, como as Unidas somos mais fortes, "A culpa não é nossa" o Ondjango Feminino, que atuam em defesa da integridade física e moral das mulheres.


No entanto, há ainda um fenómeno que se verifica no nosso xadrez social, que é o facto de alguns movimentos com aspiração política não conseguirem dar materialidade à sua vocação, por conta das barreiras político-legal que um projecto do género ainda enfrenta em Angola, daí que iniciativas peregrinas como as da UPA e do MUN têm de ficar pelo menos, por enquanto, na mais cândida das intenções vocacionais. A nossa esperança é que, com arte, criatividade e engenho dos insurgentes, o artivismo no social vigorará sempre entre nós.

*Investigador do CEA-UCAN.