Tudo são especulações de analistas (que gostam de "ver sangue"), políticos de outros partidos que, gostariam de ver o seu arquirrival em derrapagem política para dali tirar dividendos e, dos cidadãos eleitores em geral - e até de analistas e estudiosos internacionais, principalmente da sub-região e do continente, devido ao papel de destaque que o MPLA exerce e exerceu na geopolítica continental e mundial.
É natural esse interesse; afinal, o MPLA governa o País desde a independência em 1975 e é considerado um dos partidos mais emblemáticos do continente africano. A par do Chama Cha Mapinduzi da Zâmbia, Frelimo de Moçambique e ANC da África do Sul, foi dos responsáveis pela derrocada do Apartheid e as independências da Namíbia e Zimbabwe. A sua história recente confunde-se com a História Contemporânea de Angola e destes três Países. Até agora, acertou nas decisões que tomou nas encruzilhadas da História com que se deparou: o Não Alinhamento na Guerra Fria, a firmeza, determinação e sacrifício "na continuação da luta na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul", a gestão da crise mundial no colapso do Muro de Berlim, na condução vitoriosa da guerra civil e tratamento inédito dos derrotados e, mais recentemente, no papel de promotor da Paz à nível do continente, melhoria da imagem do País desgastada pela corrupção e coragem na reestruturação da economia. Por tudo isso e por ser o Partido que está no Poder, o que acontece no seu interior suscita todo e mais algum interesse de pessoas, entidades e instituições de todos os matizes e paragens.
Dali à dramatização e ao exagero - um pouco ao jeito dos treinadores de bancada - é um passo! Ouve-se dizer que o MPLA está em crise; que vai implodir; não possui democracia interna; está caduco; e encaminha-se para uma derrota eleitoral certa em 2027. Nada mais errado, nada mais longe da verdade.
Antes de desconstruir essas "teses especulativas", deixem-me lembrar algo muito importante: os partidos políticos são organizações sociais - políticas no caso - que pertencem, antes de mais, aos seus militantes. São esses que se juntam em torno de um ideal, são eles que o mantém vivo, que consentem sacrifícios até financeiros, doam o seu tempo e outros recursos. São os militantes que depois vão à Sociedade "vender" o seu projecto de sociedade e mobilizar os cidadãos a votar no seu partido para poder governar em seu nome. Por isso, e apesar de muita gente não gostar que se lhes diga, é exclusivamente aos militantes de um determinado partido que cabe decidir como se organiza e estrutura o seu partido. Quem gostar desse partido, junta-se a ele; quem não gostar, vai a outro ou cria o seu. E quem não quiser ser de um partido político, não fica em nenhum. Aguarda os programas e nas eleições vota naquele que mais lhe agradar. É assim que as coisas funcionam nas democracias.
No caso em concreto, são os militantes do MPLA, aqueles que pagam quotas e exercem actividade político-partidárias nas suas estruturas desde os CAPs ao Bureau Político, que têm a responsabilidade de decidir, seguindo os seus documentos reitores, como, quando e quem vão escolher para próximo Presidente do MPLA. Apenas esses.
Dito isso, respondo às perguntas e especulações que rolam nos mentideiros dos corredores e quintais do funge de sábado: O MPLA está em crise? Não, longe disso. Como é natural quando se aproximam os fins de ciclo político-eleitoral, há algum "ruído sucessório" que, sendo normal, incomoda aqueles militantes que acham que esse ainda não é o momento para isso. Enquanto para uns, esse é o tempo para se pensar na sucessão, para outros é cedo; depois dos resultados menos satisfatórios das últimas eleições, por agora devia-se afinar a acção política e a governação "de resolver os problemas do Povo" para aparecer em 2027 fortes e fortalecidos para mais uma vitória eleitoral. Isso não é uma crise; é o exercício da democracia interna que os seus detratores dizem que não existe no MPLA.
Sobre a "panaceia das candidaturas múltiplas" que alguns apresentam como a marca de modernidade política que o MPLA deveria seguir mais ou menos cegamente. Sem querer falar em nome de ninguém, sou daqueles que, numa análise da nossa sociologia das organizações - não apenas políticas - recomenda alguma prudência. Sou ligado praticamente desde a sua origem a duas organizações da sociedade civil que constituem absoluta referência no nosso país: uma na área da Juventude e outra na do Desenvolvimento Comunitário. As duas tentaram, uma ou duas vezes, realizar as tais eleições com duas ou mais candidaturas. As clivagens dali resultantes foram tão grandes e difíceis de sanar que, passaram dali em diante, a negociar uma lista de consenso entre as várias tendências e apresentadas depois ao voto dos eleitores. Essa é, em minha opinião, uma das razões pelas quais são fortes e coesas como são, nas duas ou três décadas da sua existência.
Em contraponto, olhemos para outras organizações, políticas algumas, que optaram por esse modelo. A UNITA é o caso mais paradigmático. Após a morte do seu líder fundador - que nunca teve a sua liderança disputada, diga-se de passagem - adoptou esse método e, desde ali, cada eleição representou uma clivagem e a defenestração de candidatos derrotados: Gato em 2003, Chivukuvuku em 2007, Numa em 2012, Sakala em 2017, José Pedro Katchiungo em 2022... todos eles quadros valiosos que fazem imensa falta na manobra política do seu partido, podendo ser essa uma das razões pelas quais a UNITA fica-se sempre que "quase" nas disputas eleitorais. É natural que os militantes do MPLA, atentos a essa situação, não queiram entrar nessa e prefiram manter "o status quo" que tão bem lhes tem servido até hoje. Ou seja, evitar que eleições por múltiplas candidaturas sejam uma fonte de clivagens em vez de contribuir para a unidade e fortalecimento do partido.
Continuando a responder às perguntas, não só o MPLA não está caduco como, pelo contrário e atento às lições do passado, está a trabalhar para se apresentar nas próximas eleições como um partido que mereça a continuação do voto de confiança dos cidadãos. Sendo esse processo uma caminhada de altos e baixos, avanços e recuos que necessita o engajamento de todos os seus militantes, alguns deles não vêm com bons olhos desviar as atenções para as questões sucessórias que, na sua opinião, podem ser tratadas em devido tempo quando o Partido por via da governação estiver melhor encaminhado. Enquanto outros acham que isso devia ser tratado agora para a nova liderança assumir as rédeas, imprimir a sua marca e ser conhecida pelos eleitores. Caberá aos militantes à luz dos estatutos e conexos do MPLA, decidir qual o melhor caminho. Isso não é uma crise. Pelo contrário, é o exercício livre, vibrante e responsável de democracia interna. Até porque, o actual Presidente do partido, que vai a meio do seu segundo mandato, deu a sua opinião - não achou graça nenhuma - sobre os ruídos em questão, mas não prendeu ou ostracizou ninguém nem, ao que se saiba, perdeu o seu belo sono por isso.
Por isso, o MPLA vai bem, obrigado. Cheio de vida, vibrante e optimista! Tal como no passado, no devido tempo, os seus militantes saberão fazer a escolha certa para o partido e o País...