Na semana passada, vi três interessantes vídeos que circularam bastante pelo WhatsApp que me levaram a reflectir sobre o virtuosismo do pensamento estratégico a longo prazo e que me fizeram recordar muitas das palavras do saudoso professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, Dr. Adérito Correia, que nos brindou com uma aula absolutamente sublime sobre este tema. Era o ano de 1997, já se passaram 27 anos, naquela altura, as referências de instituições com uma projecção estratégica da sua actuação eram a Sonangol, as Forças Armadas Angolanas e a Federação Angolana de Basquetebol, na opinião do nosso querido professor.

O primeiro vídeo que menciono, aqui, neste texto, é o da Graça Machel, moçambicana, antiga esposa do Presidente de Moçambique, Samora Machel, e do Nelson Mandela da África do Sul, numa bela reflexão, afirmou que o desenvolvimento dos países e o progresso social dos seus cidadãos é uma questão de decisão colectiva. Depende, sobretudo, da lucidez das lideranças politicas, económicas, académicas, cívicas de um modo geral que, com a sua visão e comprometimento com esta causa, têm a capacidade de mobilizar e impulsionar todas as "forças vivas" da sociedade para o tão desejado bem-estar social que é o fim último, ou melhor, o único e verdadeiro propósito dos Estados.

A minha segunda referência é uma entrevista do brasileiro Leonel Brizola, um defensor acérrimo da generalização da educação de qualidade para as crianças, afirmando mesmo que muito mais cara do que o custo de uma escola boa é a ignorância que a má qualidade do ensino provoca.

O que Brizola sempre defendeu é a criação de escolas de integração, com alimentação, assistência médica, educação cultural e desportiva, espaços onde as crianças passariam grande parte do seu dia. "Ou se institui uma escola deste tipo ou não temos saída", alertou e concluiu que esta deve ser sempre a prioridade das prioridades para qualquer país.

Por fim, num documentário sobre o basquetebol angolano, o professor Victorino Cunha conta que naqueles anos duros, após a nossa independência, mais precisamente em 1977, falando com um internacionalista cubano que cá estava a trabalhar, sonharam que dez anos depois Angola conquistaria a sua primeira medalha de ouro em seniores. Em 1987, precisamente, dez anos após a cirúrgica previsão, estávamos nós a celebrar a conquista da nossa medalha de ouro nos jogos Pan-africanos de Nairobi. Lázaro Cortez, assim se chama o cidadão cubano, colocou-se a chorar tão logo soube da concretização da suaprevisão partilhada com o professor Victorino.

Tudo isto levou-me a refletir um pouco sobre o Cazenga, um lugar especial onde desenvolvemos acção social por meio do desporto, pela via do Clube Formigas do Cazenga. Este município, o mais densamente povoado de Angola, para o ensino geral, portanto, entre a primeira à décima segunda classe conta com 118 escolas públicas e 339 privadas, acolhendo cerca de duzentos e noventa e cinco mil alunos.

Aqui é um lugar onde o nível médio de rendimento das famílias é baixo, uma parte muito significativa da população encontra no trabalho informal a sua fonte para ganhar o pão de cada dia.
Mas aquilo que temos vivido no dia-a-dia, aqui, no clube leva-nos a pensar que há uma luz de esperança para agora e para os próximos trinta anos, como pensaria a Graça Machel. A dura realidade actual em que falta uma merenda para os miúdos, quer em casa, quer na escola, sem bibliotecas, centros culturais ou mesmo postos de saúde com qualidade, pode e deve ser esbatida. Não é um fatalismo ou uma condenação perpétua nas masmorras obscuras da pobreza, da subnutrição, criminalidade e outras mazelas sociais.

E, reflectindo sobre isto, penso nas soluções concretas, nas vias alternativas que, diante da nossa realidade, nos possam apontar para um novo caminho. Chego à conclusão que temos de começar o quanto antes e com pontos de referência que possam servir de exemplo inspirador para a evolução integrativa que todos sonhamos.

Aqui, no nosso Cazenga, pela relação, absolutamente especial, que temos com as instituições francesas, nomeadamente, com a Embaixada deste País e com a Total Energies, o que faz de nós, formiguinhas, seguramente um dos principais pontos de referência das relações diplomáticas entre os dois países e de fraternidade entre os dois povos, uma opção poderia ser a inclusão da escola 3050 onde exercemos a nossa actividade na rede educacional Eiffel, proporcionando uma oportunidade marcante para as crianças e jovens do Cazenga de ter acesso a um ensino de qualidade diferenciada e, muito provavelmente, a única tábua de salvação para as suas vidas. .

*Jurista e Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga.