É curioso como este negócio ilícito, que tanto mal causa à economia angolana, acaba por impulsionar o desenvolvimento económico de indivíduos nas nações vizinhas, de empreendedores da oportunidade. Enquanto determinados negócios nas economias vizinhas prosperam, os contrabandistas angolanos, esses verdadeiros artistas da economia subterrânea, acumulam egoisticamente fortunas num negócio que não é recente nem é dominado por empresários de vão de escada. Afinal, quem precisa de trabalhar quando se pode enriquecer transportando combustível em bidões de plástico? Bidão a bidão enche o contrabandista os bolsos.
É de admirar a criatividade desses empreendedores que ao arrepio da lei e sem qualquer pejo desenvolveram uma rede de distribuição tão eficiente que chega a ser invejável não fosse . Camiões, lanchas, motorizadas e viaturas com depósitos alterados, são utilizados para transportar o combustível por trilhas e atalhos, por terra e por mar, evitando as autoridades por labirintos untados com propinas de agilização. Uma mão lava a outra e as duas agilizam o negócio.
Será uma luta sem fim? Uma espécie de dança macabra entre o Estado e os contrabandistas. Enquanto houver diferença de preços entre os países, enquanto houver demanda por combustível mais barato nos países vizinhos, o negócio continuará a prosperar. Enquanto houver um olhar silencioso das autoridades, enquanto houver impunidade e compadrio, enquanto subsistir o "agora é minha vez", o carácter escorregadio vai vingar.