O simbolismo político desta visita reside na consagração com pompa e circunstância, da viragem geopolítica de Angola sob a liderança do Presidente João Lourenço para estatuto de novel país amigo e quiçá aliado dos EUA, apesar do estabelecimento de ralações diplomáticas em 1993, após um período atribulado no alvor e depois da proclamação de Independência em 1975, na época da Guerra Fria. Uma nova condição que pode aduzir maior complexidade e eventual erupção de anticorpos, tendo em consideração o passado recente de Angola, primeiro como aliado da antiga União Soviética e depois da Rússia, mais recentemente com o grande peso económico e político da relação com a China.
A pauta de defesa e segurança foi claramente assumida pelos EUA como um elemento essencial das relações com Angola e são cada vez mais recorrentes as informações que dão conta da busca de eventuais facilidades estratégicas e logísticas por parte de Washington, assim como a garantia de uma certa estabilidade na saída dos minerais estratégicos da África Central e Austral.
Assumindo um evidente distanciamento no seu relacionamento com Moscovo, tanto político como económico, Luanda confronta-se com o imbróglio da gestão da dívida com a China e do peso concomitante peso geopolítico e económico que o gigante amarelo ainda tem em Angola, ao qual não foram estranhos alguns quiproquós nos últimos encontros das lideranças dos dois países.
Se do ponto de vista económico-financeiro o badalado Corredor do Lobito vai estar no centro das atenções, noves fora a conhecida presença norte-americana no sector petrolífero e noutros projectos relativamente marginais, os seus reflexos na economia real não serão nem imediatos, nem abrangentes. Sem uma melhoria efectiva do ambiente de negócios em termos de direito a propriedade, menos burocracia, transparência e luta efectiva contra a corrupção - de pouca valia servira para atrair mais investidores. De resto, só políticas públicas mais assertivas que envolvam os agentes económicos e sociais, as comunidades locais, podem auxiliar o caminho da assaz propalada diversificação da economia e desenvolvimento sustentável.
Até lá, o «American dream» da Cidade Alta continuará apenas um sonho. E voltemos a crua realidade dos desafios básicos contra a fome, um incipiente crescimento económico, as desigualdades gritantes, a dependência crónica do ouro negro, os impasses na transição democrática, as tentações autoritárias e o 11 de Novembro como uma lembrança desconseguida.