A avenida, alargada, de inegável imponência, foi polvilhada por um conjunto de sinais luminosos, que teriam a nobre tarefa de regular e garantir a segurança e fluidez do tráfico. Teriam, pois, como os sinais luminosos que existem há dezenas de anos por Luanda, e diria mesmo, por Angola, falham miseravelmente. Os sinais estão por aí, mas não são luminosos. Na sua maioria restam cabisbaixos, apagados, sejam eles honestos trabalhadores, como a maioria dos que se encontram pelas avenidas mais importantes das urbes, simples, úteis e reservados, sejam os orgulhosos e flamejantes exemplares a quem foi dada a nobre missão de assinalar as prioridades aos motoristas e peões, que transitam por locais privilegiados como o 1.º de Maio, a nossa Praça da Independência.

A dificuldade em manter em funcionamento sistemas em que se investiram somas consideráreis é um sinal, não luminoso, extremamente preocupante. Pois revela, de uma forma que nos entra pelos olhos, a nossa incapacidade em manter os investimentos que o País faz. O seu abandono depois de actos de inauguração com pompa e circunstância provoca, inevitavelmente, a sua inoperância.

Num País com sistemas cada vez mais complexos, que vão dos satélites a hospitais com equipamentos de última geração, com milhares de quilómetros de vias de comunicação, rodoviárias e ferroviárias, e a pretensão de ser um actor internacional no tráfego aéreo, a manutenção deverá ser cada vez mais a palavra-chave. Só mantendo o que vamos edificando é que se abre espaço para que o novo seja bem-vindo de uma forma duradoura, e possa ser acolhido sem qualquer tipo de reserva por parte dos cidadãos, utentes previsíveis do que se faz no país com recurso ao erário público.

Os sinais luminosos da Marginal são um exemplo claro dessa nossa incapacidade. Um alerta para a necessidade de se mudar de atitude, aconselhando que os orçamentos - quer os gerais, quer os locais - a começar sempre com a alocação de recursos para a manutenção do existente, e só depois se considerar investimentos na expansão. Pois não há expansão quando não se conserva o existente.

Quando se tem que reinaugurar - termo que se tornou insultuoso - infra-estruturas prematuramente envelhecidas, porque não foram convenientemente cuidadas durante o seu período normal de utilização.

Não há sistemas obsoletos. O que há é incúria.

Cuidemos do que temos, antes de agradecermos o que pretendemos vir a ter.