Nos últimos anos, com o advento das benditas tecnologias de informação, que estão ao alcance de qualquer mortal, independentemente do ofício que exerça - ou mesmo que um desempregado por opção. Qualquer pessoa pode aceder à rede mundial e debitar o que lhe apetece. Em face disso, os tradicionais órgãos de comunicação social decidiram correr atrás do prejuízo, o mesmo que dizer recorrer às redes sociais para divulgar conteúdos.

Provavelmente por isso, instalou-se a confusão e em regra o grande público não consegue estabelecer fronteiras entre o que é jornalismo e o é que mero exercício de informação avulsa. Quase ninguém quer saber se a informação (ou desinformação?) que cai na rede, lançada por qualquer pessoa, foi alvo da necessária verificação e cruzamento de fontes a que o jornalismo está ética e deontologicamente obrigado. De modo que, enquanto num passado não muito distante, para dar credibilidade a uma dada informação dizia-se "passou na rádio" ou "saiu no jornal", hoje o comum é dizer-se "está na net". Como se a net fosse a fonte da verdade pura.

Ora, mesmo algumas vezes aparentando ser, nem tudo o que cai na rede é informação jornalística. Mais: aquilo a que erradamente se convencionou chamar "fake news" (traduzido literalmente significa notícia falsa) simplesmente não existe. Porque, de acordo com os cânones do jornalismo, notícia é o relato de um facto. Um facto é algo que existe ou aconteceu. É, pois, algo verdadeiro. Logo, sendo verdadeiro, não pode ser falso. Daí a inexistência da "fake news", matizada na media pelo antigo presidente dos EUA, Donald Trump. O que há na rede e em doses industriais é desinformação.

Por isso, ao instituir o Prémio Catoca de Jornalismo, com as suas diferentes categorias, além do galardão principal, a companhia não cumpre apenas com uma das suas acções no âmbito da responsabilidade social, segmento em que se posicionou definitivamente como referência ao nível nacional, a SMC ajuda também a resgatar o jornalismo tradicional, com regras. Credibiliza-o e afasta-o da fanfarra que grassa nas redes sociais e que pode ser tudo menos jornalismo.

Nesta edição inaugural, mais do que outorgar os galardões aos vencedores das diferentes categorias - inserir uma destinada ao Leste do País é de um alcance incalculável -, a SMC homenageou a título póstumo várias personalidades do jornalismo angolano. Fê-lo designando as mesas com os nomes dos 22 jornalistas preiteados. Entre essas personalidades, verdadeiros contribuintes para um jornalismo responsável e credível, estavam duas figuras do Novo Jornal. O incontornável Gustavo Costa, que foi sub-director e director, assim como António Freitas, que durante largos anos exerceu o cargo de chefe de redacção.

Pela dimensão humana e profissional do "galardão", é mister reconhecer que esta é uma iniciativa que, seguramente, marcará de modo indissipável a história do jornalismo angolano.