Estas situações criam estupefacção e indignação geral por parte dos cidadãos. Falta coordenação, planificação e definição de prioridades por parte de certos organismos governamentais que não se eximem da arrogância e da soberba do poder para impor determinadas orientações que minam a confiança dos cidadãos nas instituições e ameaçam a paz social. Não é bom estar-se constantemente a testar os limites da tolerância dos cidadãos.
Ainda estão na memória dos cidadãos a tentativa de obrigatoriedade do uso de extintores nas viaturas e o "barulho social e virtual que gerou. Por trás de uma aparente ideia de regular, organizar ou segurança dos cidadãos, estava, afinal, uma rede já montada e preparada para ganhar com a venda de extintores. Não deu certo com os extintores, e os nossos "Iluminados do Kafocolo" surgem meses depois com a conversa das películas coloridas "fumo" nas viaturas.
O NJ fez um trabalho de pesquisa e identificou algumas figuras da Polícia Nacional (PN) ligadas a algumas das 24 empresas licenciadas (das mais de 300 previstas) para o negócio pelo País. Qual foi o critério para a selecção destas empresas? Como é que altas patentes da PN e figuras com cargos de responsabilidade na corporação surgem envolvidas nestes negócios?
A sinistralidade rodoviária é uma das maiores causas de morte em Angola e não se vê um grande empenho no sentido de se organizar a questão do estado técnico das viaturas, das estradas e da iluminação das vias. Não se olha para a questão da mobilidade e tentar-se buscar soluções para contornar o fracasso do sistema de transportes públicos.
Saber que o Ministério do Interior resolveu agora tirar do "coma profundo" esta "Lei do Fumo" e atirar-nos aí fumos aos olhos para encher bolsos e quando surgem vídeos nas redes sociais do fracasso e falta de investimento no Serviço de Protecção Civil e Bombeiros, até é anedótico, com tantas coisas por se resolver, com tantos problemas sociais, com tantas dificuldades que os cidadãos vivem, e vêm aí essas conversas de películas coloridas.
Há realidades que matam. Que matam não no sentido do nosso desaparecimento físico, mas que matam a nossa esperança de que as coisas irão melhorar. Que matam a nossa crença nas instituições de que existe mesmo vontade de se "resolverem os problemas do povo".
A "funalização", a mercantilização da política, a ideia do poder pelo poder e a ideia que se começa a generalização de que se tirou o pote de mel de um grupo e que se deu a outro com mais apetites não são coisas boas, retiram entusiamo e esperança aos cidadãos. Correram e perseguiram-se os ditos marimbondos e hoje os "Iluminados do Kafocolo" rodeiam, manipulam e têm influência sobre quem manda. São realidades como essas que matam toda a motivação em fazer o bom jornalismo, de alimentar toda uma esperança de que a liberdade de expressão é o barómetro da democracia. Mesmo quando essa realidade não chega a matar-nos, acabamos "mortos" por aqueles que não aceitam as diferentes realidades que diariamente apresentamos. Mata-nos aos poucos a sensação de que temos de nos conformar com as realidades que nos são impostas pela sociedade. O nosso poder está na liberdade que temos, mas também é essa liberdade que inquieta quem tem poder.
A realidade é dura e preocupante. Vivemos pessoal e colectivamente realidades que todos os dias nos matam, nos retiram força e esvaziam a alma. Vamos morrendo aos poucos e todos os dias, seja de "morte matada" ou de "morte morrida".