Num contacto com organizações da sociedade civil ainda no ponto de concentração dos manifestantes, o bairro da Camunda, o comandante municipal de Benguela da Polícia Nacional, superintendente-chefe Filipe Cachota, reafirmou ser impossível fechar a marcha no largo de África, encerrado a actividades públicas desde 2021, contra a vontade da outra parte.
"Queremos mostrar aos dirigentes que o País está mal, tudo subiu com o problema dos combustíveis", gritavam manifestantes, entre taxistas e moto-taxistas, num frente-a-frente com a delegação da Polícia.
Gritava-se bem alto pela saída de todo o Governo, com o Presidente João Lourenço à testa, enquanto Filipe Cachita reafirmava que o Liceu Comandante Kassanji ou o Largo da Peça, arredores da cidade, seriam a alternativa.
Do aumento do preço dos alimentos, com realce para o arroz, óleo, açúcar e produtos do mar, à subida dos transportes, passando pelo "desvio de fundos públicos em tempo de crise", foram ouvidas críticas logo desde o início da concentração.
Alguns funcionários públicos, como o professor Justino Ngando e Marta Helena, igualmente activista, afirmaram que as famílias não estão preparadas para outros atrasos salariais.
"Estamos a ver agora, tudo fica nas dívidas, é um verdadeiro sofrimento", disse Ngando, ao sublinhar que Angola tem outros recursos para além do petróleo.
"Os cartões não vão pegar, o Governo não sabe quantos mototaxistas ou taxistas Angola tem", vincou, antes de ter considerado que "o melhor é voltar ao preço normal".
O apelo de funcionários públicos surge um dia após o ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, depois de um pedido de desculpas, ter explicado que um desfasamento na recepção dos fundos provenientes da receita fiscal esteve na base do problema de Maio.
"Pedimos desculpas a todas as famílias, vamos trabalhar para que situações do género não voltem a acontecer", recordou o antigo governador do Banco Nacional de Angola (BNA), em Benguela, no termo do acto de inauguração de uma pescaria.
Na preparação dos protestos, não passou despercebida a presença do secretário municipal da Unita em Benguela, Cassinda Siliveli, que, num contacto com o NJ, começou por minimizar insinuações de que os activistas estariam a reboque da oposição, feitas por João Lourenço.
"Somos, antes de tudo, cidadãos angolanos. Somos funcionários, sofremos com o povo, sofremos com a fome, a má governação e o roubo dos bens públicos", justificou o político.