A unidade conta com uma capacidade de 132 camas, 47 para os cuidados intensivos, 19 camas de neonatologia, ou seja, para recém-nascidos, e seis incubadoras, destas três com aparelho de fototerapia.

O anúncio da contratação de novos profissionais chega depois de várias notícias, muitas delas avançadas pelo Novo jornal, que davam conta das enchentes quer nas urgências, que registam há já vários meses uma elevada procura, o que obriga a que os pacientes fiquem largas horas à espera de serem atendidos, estando mesmo algumas destas unidades em risco de ruptura da sua capacidade de atendimento, quer nas unidades de cuidados intensivos, onde há relatos de doentes que morrem antes de conseguirem uma vaga nas UCI e UTI, versão contrariada pelos directores dos principais hospitais de Luanda (ler aqui).

No Hospital Pediátrico David Bernardino, uma enfermeira segredou que há muitos casos críticos de crianças que necessitam de internamento na UTI e que ficam dias nas urgências.

"A situação esta feia, temos dias em que só há vagas em caso de um dos pacientes ir a óbito. No banco de urgência a situação ultrapassa-nos. Infelizmente há médicos que choram ao ver essa triste realidade que ninguém pode mostrar", narrou.

A malária e as doenças diarreicas são apontados pelos médicos com quem o Novo Jornal falou como sendo as principais patologias por detrás das longas filas de espera nos hospitais.

O presidente do Sindicato Nacional dos Médicos em Angola, Adriano Manuel em declarações ao Novo Jornal, afirmou que 90 por cento das patologias que vão para os hospitais são passíveis de serem prevenidas mas isso não sucede sem que se perceba porquê, adverte o médico e sindicalista, que defende uma maior aposta nos cuidados de saúde primários (ler aqui).

"Se nós prevenirmos não vamos ter hospitais cheios de pacientes. As enchentes que se verificam surgem por não haver médicos e enfermeiros no sistema de saúde em número suficiente", disse.

"Não temos médicos e enfermeiros", prossegue, sublinhando que os chamados agentes sanitários que vão ao encontro das comunidades identificar os principais focos e actuar para que as doenças não se proliferem, "não existem" de forma adequada.

Também a Rádio Nacional de Angola dava conta, no princípio deste mês, que "o Hospital Pediátrico David Bernardino registou, nos últimos dois meses, uma pressão na procura de assistência médica. Por dia, foram atendidas mais de quinhentas crianças, basicamente com doenças diarreicas e malária, com uma média diária de oitenta internamentos e dez mortos".

Em Janeiro, o MPLA apresentou um relatório elaborado pelo próprio partido que mostra que Angola só tem um médico para 7.245 habitantes (cerca de 13 por 100 mil habitantes) e um enfermeiro para 913 pessoas, para uma população de mais de 27 milhões de habitantes.

Estes números mostram o défice de profissionais de saúde no País, que compara, por exemplo, como os, em média, 360 médicos por 100 mil habitantes na Europa ou os cerca de 100 em países como a Namíbia e o Botsuana, embora o mesmo documento mostre que o número de médicos e de enfermeiros aumentou substancialmente desde 2002, quando existiam apenas 1 médico para mais de 16 mil habitantes e um enfermeiro para 704 habitantes.

De acordo com o relatório, desde a conquista da paz em Angola, entre 2002 e 2020, o Governo construiu 173 hospitais, 326 centros de saúde e 1.434 postos de saúde.

O número de camas hospitalares, que eram, em 2002, 11.293, passou para 20.297 em 2019, o que corresponde a um aumento da ordem dos 79,7%.

O relatório aponta a malária como a doença que mais aflige os angolanos, com um total de 5.928.260 pacientes no ano de 2018, dos quais 11.814 perderam a vida.

"As doenças com maior mortalidade são a malária e o HIV-SIDA (1.561 mortes em 2018), a malnutrição em menores de 5 anos (1.282 mortes), a tuberculose ( 1.152 mortes), pneumonia (936 mortes), hipertensão(828 mortes), insuficiência renal aguda (731 mortes), diabetes (517 mortes), doenças diarreicas (444 mortes) e febre tifóide (227 mortes em 2018)", refere o documento.

Os partidos da oposição com assento na Assembleia Nacional aconselharam, já este mês de Junho, as autoridades governamentais, a apostar na prevenção e nos cuidados de saúde primários para reduzir a mortalidade e evitar enchentes como as que se têm verificado nos hospitais. E recomendaram ao Executivo que importe modelos como o de Cuba que é conhecida por ter um dos melhores serviços de saúde do mundo (ler aqui).